23 - Após

1K 93 74
                                    

Que estranho
Sonhar com você
Mesmo quando
Estou acordado.
— d.j


 
Foi difícil me despedir de Carlisle. Eu não queria dar um fim à noite, dizer adeus e quebrar o encanto. Tudo parecia feito de cristal, lindo porém frágil demais, mas fui convencida de que quando o dia seguinte surgisse, não apagaria aquele.

— Vou estar aqui. Bem cedo, se quiser.

— Quero — disse, ávida, apertando a mão de Carlisle.

— Tem certeza que não quer dormir até mais tarde? Vai ser domingo…

— Eu duvido que sequer consiga dormir — ri, afastando uma mecha de cabelo que havia escapulido detrás da orelha.

Carlisle crispou os lábios e tive a sensação de que aquele era o olhar que lançava para pacientes rebeldes, que recusavam algum tratamento.

— Eu vou dormir — logo me retratei. — Só… Vai estar aqui cedo?

Ele cedeu com um aceno de cabeça. Seu olhar só vacilou por um instante, para as janelas da casa de Charlie que exibiam as luzes acesas e pareciam nos encarar como várias corujas gigantes.

— Vou, mas acredito que seu pai esteja começando a ficar inquieto com a minha presença prolongada aqui.

Meus olhos se arregalaram e seguiram os seus por um instante, voltando-se para ele no mesmo segundo que ele se voltou para mim.

— Como você…?

Carlisle riu.

— Deixe as perguntas para amanhã, ok? Se ouvi-lo levantar daquele sofá outra vez, suponho que seja para me interrogar.

Balancei a cabeça, mas concordei. Aquela era uma experiência que poderia recusar.

Ele saiu do carro primeiro, dando a volta para abrir a porta para mim, então me estendendo a mão. Hesitei. Como colocar um fim em algo que foi tão bom?

Como se lesse minha mente, Carlisle curvou os lábios num sorrisinho e seus olhos se tornaram doces.

— Prometo que estarei aqui amanhã.

Meu coração pulou uma batida. Minhas bochechas coraram. Ele achou graça.

— Não ria — disse, tomando sua mão e saindo do carro.

— Não é por mal — seu polegar acariciou os nós de meus dedos. — Quem sabe amanhã eu não lhe diga um pouco mais sobre isso?

— E vai responder minhas perguntas?

— Com certeza.

Seu rosto se aproximou do meu, o nariz roçando minha bochecha e inspirando profundamente. E, sem que eu esperasse, ele depositou um beijo na minha têmpora. Estremeci, sentindo o corpo arrepiar e duvidando de que algum dia me acostumasse com aquilo.

— É melhor entrar — Carlisle sussurrou ao pé do ouvido.

Meio boba, assenti, soltando sua mão com um aperto no peito. Não olhei para trás até estar diante da porta de casa, sob a proteção da varanda, porque talvez meus pés se recusassem a prosseguir se o fizesse antes. Encostado em seu carro, Carlisle acenou para mim.

Retribui antes de fechar a porta atrás de mim.

Ao entrar em casa, chutei as botas para fora dos pés, me atrapalhando um pouco e tentando abrir o zíper ao mesmo tempo.

— Já não era sem tempo.

A voz de Charlie me alarmou, tirando-me do meu transe para me jogar direto no mundo real. Um que ainda era bem mais complicado do que eu imaginava, mas que por alguma razão conciliava o sobrenatural com pais que esperavam acordados as filhas voltarem de encontros.

SunlightOnde histórias criam vida. Descubra agora