CAPÍTULO XIV ㅡ Ausência de Tudo

89 15 112
                                    


_____________

AVISO AQUI HEIN

Oi minhas pérolas azuladas, como estão?
Esse capítulo é o maior até agora, tem mais de 10k de palavras, MAS ele é muito importante pro desenvolvimento da história!
Então pega teu café ou cházinho, se aconchega numa posição confortável e leia com calma e no seu tempo, ok? 🤲🏼

Também recomendo ler o começo do capítulo escutando Running Of Out Time - Sun Heat, ela tem na playlist do Jeon (link na minha bio)
Vai ajudar na imersão 😉

Boa leitura!

_____________


Jeon Jungkook


Não havia nada diante de mim.

Densidade mais escura que a noite.

Não havia imagem. Não havia som. Não havia tempo.

Gritava sem voz, sem parar. Meus olhos pareciam não ter pálpebras, não conseguia fechá-los. Mas também não era capaz de enxergar. Não havia nada para enxergar. Tentava tatear sem tato. Não havia nada para sentir ou tocar. Não sabia se estava sentado, deitado ou em pé. Nada tocava minha superfície. Porque ela também não estava lá.

Então por que eu ainda estava?

Consegue me ouvir? Alguém consegue me ouvir?

Tolice. Nem eu mesmo podia me ouvir.

Tentava respirar fundo, me faltava ar. Mas não haviam pulmões. Nem sistema respiratório. Tampouco oxigênio. Estava me afogando. Mas também não havia água.

Que lugar era aquele que me tinha, mas não me oferecia nada? Já não lembrava mais qual era o timbre da minha voz. Ou a cor da minha pele. Não lembrava mais o desenho das minhas tatuagens. A textura do meu cabelo. Eu não lembrava de nada. Não lembrava de como tinha ido parar ali. Nem de quem eu era. Na verdade, eu não sabia nem o que eu era. Parecia ser só uma ideia flutuando no escuro. Sem matéria. Sem memória. Sem história. Não sentia dor, muito menos prazer. Mal podia compreender meus próprios pensamentos. Nem mesmo pensar direito.

Mas eu estava ali.

Sabia que estava. Podia sentir. Mesmo sem os sentidos.

Jamais saberia explicar.

Às vezes o escuro mudava de tom. E eu era lembrado de que estava ali. Não podia dormir ou ir embora em momento algum. Não podia morrer porque sequer estava vivo. Não pude fechar os olhos durante todo aquele tempo. A ausência das pálpebras não me permitia. A ausência de tudo.

Mas eu estava ali.

Não havia ontem, nem hoje. Nem ainda agora, muito menos daqui a pouco. O tempo simplesmente não existia.

Completamente sem forma, sem nenhuma solidez, eu estive lá. Na presença de nada e de ninguém. Nem mesmo a minha. Apenas pairando. Naquele abismo abissal desconhecido.

Uma vez o escuro esmaeceu um pouco.

Naquele momento eu já estava conformado. Aquela ausência de tudo não parecia mais tão assustadora. Era até familiar. Talvez eu já estivesse pairando nela desde que o tempo ainda era tempo. Desde que minha voz ainda tinha som e meu cabelo ainda tinha textura.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora