CAPÍTULO XXXII ㅡ O Menino e o Mundo (Confia em Mim)

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Oi meus passarinhos, estão bem?
Apertem os cintos que lá vem turbulência.

Passando pra lembrar vocês da playlist do Taehy (link na minha bio), a música de hoje é The Suburbs - Arcade Fire.

Pra vocês incorporarem a vibe do capítulo.

Peguem seus cházinhos e boa leitura!

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Kim Taehyung


Janeiro de 2003



Já fazia duas semanas que minha tia me deixara naquele lugar depois de dizer que seria só por um fim de semana.

Não era a primeira vez, nem a segunda. Mas eu, tolo, ainda acreditava que não passaria mesmo de dois dias.

Talvez a tolice se desse por conta dos meus nem sete anos completos. Era apenas uma criança. Se na vida adulta já é difícil deixar certas tolices de lado, na infância ela costuma parecer a única opção.

Mas eu ao menos já sabia fingir que não me abalava tanto, às vezes. Quando perguntei pela primeira vez daquela senhora robusta que cuidava das crianças naquela Casa, quando minha tia ia voltar, ela sorriu com pena.

ㅡ Ela só foi resolver umas coisas do trabalho, logo está de volta.

ㅡ Tá, mas quando?

ㅡ Você só precisa esperar mais um pouquinho, querido. Não tem porquê ter pressa. Vá brincar com seus colegas. Daqui a pouco temos o lanche da tarde.

Olhei para trás, visando os tais colegas. Todos tão estranhos. Ameaçadores. Alguns até mais novos e menores que eu me metiam medo. E não pareciam fazer a mínima questão de me ter por perto. Na verdade, diziam com todas as letras. De todas as tentativas de me aproximar, fui expulso. Até que eu desistisse.

Apesar da motivação cada vez mais escassa para brincar como qualquer criança normal, eu ainda dava meu jeito. Roubava toalhas do varal para amarrar no pescoço e correr por trás dos arbustos da área ao ar livre, como um super-herói misterioso que não expunha sua identidade e por isso precisava se esconder pelo mato ㅡ no fim das contas era apenas a solução que encontrava para lidar com o fato de que ninguém me queria por perto.

Nem mesmo as copeiras, a equipe dos serviços gerais. Uma vez uma funcionária reclamou de mim para a cuidadora porque, segundo ela, eu perguntava demais.

Eu era curioso, só queria saber como ela conseguia transformar aquele banheiro imundo em um lugar cheiroso em apenas algumas horas.

Ninguém respondia minhas perguntas. Eu tinha dúvidas demais sobre o mundo. Ele parecia tão estranho. Quase nada fazia sentido. Sempre que eu esbarrava em algum aparelho de televisão e via alguma cena de novela ou propagandas, famílias com mães, pais e filhos sorrindo, juntos, eu não entendia. Me questionava porque eu e todas aquelas crianças não vivíamos aquilo também.

No meu caso, parecia ainda mais confuso. A maioria dos outros pequenos, se não todos, não tinha nem pai nem mãe, ou só uma mãe, só um pai. Eu tinha os dois. Ainda assim estava ali.

Eu amava minha tia Saem, ela respondia muitas das minhas perguntas. Gostava de me abraçar. Me ensinava muitas coisas. Mas com o tempo percebi que ela tinha coisas mais importantes para fazer. Trabalhava viajando e precisou parar quando assumiu minha guarda provisória. Só depois entendi o quanto ela não queria ter feito isso. Ela amava seu trabalho, viajar para o outro lado do mundo e cuidar de animais em extinção ou espécies ameaçadas lhe trazia sentido para a vida. Cuidar de uma criança crescida que sequer saiu do seu ventre, não.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora