CAPÍTULO XVI ㅡ Rito de Passagem

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Park Jimin


ㅡ Me tira daqui, por favor.

Onde você tá?

ㅡ Ele escondeu as chaves do meu carro.

Jimin, onde você está? Me diz onde você está.

ㅡ Eu tô na rodovia, fora do condomínio.

Sozinho? Onde exatamente?

ㅡ Eu tô andando.

Jimin… volta pelo menos pra frente do condomínio, por favor. Me espera lá. Eu já tô saindo.

A pior forma que o meu mês de outubro poderia ter começado foi exatamente a que ele começou.

Minhas brigas com meu pai sempre foram frequentes. Só não eram mais tão cotidianas porque a gente já quase não se via. Cada um no seu canto da casa desnecessariamente grande. Ele vivia viajando. Eu vivia fora, no trabalho ou no apartamento de Taehy.

Com o tempo fui involuntariamente buscando formas de olhar cada vez menos para sua cara. De ouvir o mínimo possível sua voz. Podia parecer impossível para alguém de fora se soubesse que eu trabalhava na sua empresa. Mas quando digo que a floricultura destoava do resto da loja de departamentos, eu quero dizer que ela era quase um apêndice ali. Totalmente à parte.

Ele tinha uma sala reserva no setor vizinho ao meu. Mas sua sala oficial ficava longe de todos os setores, em outro andar. Então, mesmo quando estava lá, dificilmente nos esbarrávamos.

Era ótimo assim. Mas não dava para fingir que ele não existia sempre.

Naquela noite nós brigamos.

Brigamos de verdade.

Gritos de arranhar a garganta. Olhos vermelhos, enfurecidos. Falta de ar. Lágrimas de ódio. Eu perdi o controle.

Ele me fazia perder o controle como ninguém. Naquela noite eu cheguei no meu limite.

Taehyung me levou para seu apartamento às oito da noite. Eu estava completamente desolado e tomado por um ódio tão violento que meu corpo estava fraco. Sugou todas minhas energias. Eu não conseguia mais chorar.

Assim que eu bati aquela porta, não consegui mais chorar. Paralisei todas as minhas reações. Parecia um zumbi. Não respondi a ninguém. Nenhum dos vizinhos que me cumprimentou quando passei pelas ruas até a entrada do condomínio. Nem o porteiro, nem o segurança.

Eu sempre respondia todo mundo.

Meu amigo me sentou no seu sofá e me cobriu com uma coberta bem grossa e quente. Eu estava tremendo de frio. O ódio me anestesiou tanto que não percebi quão fria estava a noite quando saí andando sem rumo.

Hyun me fez um chá de camomila e capim cidreira com maracujá. Ele ia e voltava, para lá e para cá fazendo e trazendo coisas para mim. Mas sempre que vinha, me encontrava na mesma posição.

Sentado dentro daquela colcha enorme, com as pernas para cima do sofá, as abraçando frouxo. O queixo em cima dos joelhos. Os olhos completamente perdidos em um ponto qualquer. As mãos segurando a caneca de chá como se fossem quebrá-la a qualquer momento.

Até que minha ficha começou a cair.

ㅡ Ele é um monstro…

ㅡ O que ele fez dessa vez?

Eu não tinha explicado nada a Taehy, só pedi socorro e ele me atendeu. Já imaginava o que tinha acontecido porque conhecia bem minha relação com Park Kwang. Mas ainda não fazia ideia da gravidade da situação.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora