3⁰ ATO · Profundezas De Um Coração Real

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No acesso mais profundo à cerne humana encontram-se as mais feias e complexas composições.
Tudo aquilo que se esconde à primeira vista.
Tudo aquilo que se evita falar nas conversas triviais.
Os licores mais enjoativos.
Os retratos mais perturbadores aos olhos.
Todos os passos que alguém já deu na vida.
Todas suas histórias mais sujas e as mais tristes.
Coisas que só se pode tocar ao mergulhar de cabeça nas profundezas de um coração real.
Onde o escuro domina a visão e quem guia seus movimentos são a intuição e o instinto.

"Ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana ㅡ Carl Jung."

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CAPÍTULO XX ㅡ  Eu Tô Aqui

Min Yoongi

Me senti um péssimo amigo por não perceber que ele poderia estar mal.

Desde que nos conhecemos, ele me acostumou a acreditar que sumia de vez em quando só por querer ficar sozinho mesmo, mas nada demais.

Foi preciso que Namjoon entrasse em cena para que eu me desse conta de que talvez tivesse bastante coisa demais sim.

Na quinta-feira à noite, teríamos reunião da galeria sobre a exposição do próximo domingo. Ele já estava respondendo minhas mensagens, mas eu queria vê-lo pessoalmente para ter certeza de que estava melhor.

Conversamos por um bom tempo depois da reunião, ele me contou tudo. Ou quase tudo.

Pela primeira vez.

Foi difícil para ele. Visivelmente difícil. Eu quase podia tocar na sua dificuldade de tão palpável e densa que ela soava. Mas também foi nítida a maneira como ele precisava falar tudo aquilo. Precisava colocar para fora. E, apesar de tudo, me senti feliz por poder ter sido essa pessoa para ele naquele momento.

Eu só queria vê-lo bem, Seokjin era um dos seres humanos mais preciosos que eu já tinha conhecido na vida. Ele merecia ficar bem. Viver bem.

E a partir dali eu me dispus oficialmente a qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para colaborar com isso e facilitar o seu caminho.

Tentei o máximo que pude deixar claro que ele poderia contar comigo e que era bobagem agir como se estivesse tudo bem só para não me preocupar. Eu mais do que ninguém sabia o quanto a vida não era só flores e o quanto as desgraças que nos acompanham podem nos derrubar.

Entendi que ele não fazia por mal e sim por traumas e mecanismos de defesa e que seria um processo para ele conseguir pedir um colo que fosse quando necessário. Mas eu era paciente e estava com tempo. Sempre teria tempo para ele.

Também aprendi que doar seu tempo à alguém pode ser uma das formas mais bonitas de amar.

E era uma das minhas favoritas.

Eu tinha sido escalado para ficar de madrugada organizando um estoque na floricultura. De sexta para sábado.

Qualquer outro jovem da minha idade acharia absurdo trabalhar justo na madrugada de sexta, quando deveria estar farreando e curtindo a vida. Mas para mim era só mais um dia de trabalho. Se não estivesse lá provavelmente estaria deitadinho na minha cama ou no sofá assistindo alguma coisa até pegar no sono.

O único incômodo daquela noite estava no meu ombro. Talvez eu estivesse abusando da sua capacidade e carregando peso demais nos últimos meses. E lá estava ele me lembrando que se passou mais um ano e eu ignorei totalmente que precisava de uma cirurgia para poder viver em paz.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora