CAPÍTULO XIX ㅡ Autocontrole

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Kim Seokjin


Havia uma sujeira no teto.

Bem em cima de onde eu estava deitado na cama.

Mas meu coração estava limpo. Não muito. Bem pouco na verdade. Mas o suficiente para que eu conseguisse respirar tranquilo pelo menos por aquela noite. 

Nota dez. Eu passei. Passei em todas as matérias. Finalmente tinha acabado. Eu não precisaria mais voltar àquela faculdade no próximo ano. Nem a nenhuma outra. Eu consegui. Finalmente iria me formar. Contra todas as expectativas, contra todas as circunstâncias, conta tudo e todos que me disseram que não ia conseguir. Era um novo capítulo da minha vida. Um que eu esperei e idealizei por tantos anos.

Foi nesse sonho que eu me apoiei para sair de casa. Ou melhor, fugir daquele ambiente hostil em busca de uma casa de verdade. Foi nesse sonho que eu apostei todas as minhas fichas. Foi naquela inscrição clandestina no computador da lan house de perto da escola que depositei o último fio de esperança que eu tinha em ser alguém. 

Foram árduos sete anos de tentativa. Primeiro biomedicina. Passei. Foi a aprovação que me fez conseguir ir embora de uma vez da minha cidade natal. Mas eu não consegui passar do primeiro semestre.

Era mais difícil do que eu imaginava. 

Não as matérias. Mas as pessoas. Era uma extensão da escola, a grande maioria da turma eram alunos da minha idade ou ainda com dezessete. Todos tão cruéis quanto os meus antigos colegas de classe. 

Não pude nem pensar direito quando desisti. Não tinha muito o que fazer. Eu precisava de ajuda. 

Segundo, psicologia. Eles estavam me ajudando tanto, talvez eu pudesse ajudar os outros como eles também.

Durou um pouco mais. Um ano. Mas também não consegui continuar. O pânico de ter aquelas crises assustadoras morando sozinho, sem ninguém para me dar apoio, não me deixava manter nada com qualidade. Acabava sempre se tornando um esforço maior do que o possível para mim. Não me senti digno de prosseguir, eu jamais conseguiria ajudar quem quer que fosse se me tornasse um psicólogo. Não conseguia ajudar nem a mim mesmo.

Com o tempo e todas as terapias e tratamentos aquele pânico foi amenizando. 

Talvez amenizando seja uma palavra muito forte, posso dizer que fui aprendendo técnicas para conseguir administrá-lo um pouco melhor.

Descobri que o fato de não ter ninguém para me dar apoio não se dava porque eu morava sozinho. A verdade era que eu nunca tinha tido ninguém para me dar apoio. Mesmo antes de morar só. E eu estava ali, não estava? Havia sobrevivido todos aqueles anos, não havia? 

O apoio que eu estava tendo naquela época foi conquistado por mim e mais ninguém. Quando consegui olhar para trás e para onde eu estava naquela fase, finalmente senti que talvez eu fosse capaz de continuar. Mesmo sozinho.

Comecei a me entender um pouco melhor, me respeitar mais. Me cuidar e me proteger. Eu precisava encontrar meu próprio molde. Meus próprios padrões. E então eu entendi que havia uma direção a seguir. E finalmente, mesmo no fundo ainda sentindo que estava atrasado e lutando contra o sentimento de estar sempre errando em algo, eu passei a andar na direção que fazia sentido para mim.

Comecei a conhecer pessoas com quem finalmente pude partilhar a vida de alguma forma. Que não trabalhavam nos centros de atenção que eu frequentava ou qualquer coisa do tipo. Pessoas que conheci nos ambientes cotidianos. Na vida. Como achei que nunca fosse acontecer de verdade.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora