CAPÍTULO LXIX ㅡ Sem Pensar Muito

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Jeon Jungkook




Não sei bem quantos dias eu passei desligado. Jimin e Taehyung me abrigaram no seu apartamento depois daquele surto, aparentemente eu fiz exatamente o contrário do que estava tentando fazer. Queria apenas ser apoio para todo mundo, não preocupar ninguém. Queria nem eu mesmo ter que me preocupar comigo.

Porque era difícil demais lidar com o que estava sentindo, se eu parasse para pensar.

Não me lembrava da última vez que aquilo tinha me acontecido. Na realidade, sequer me lembrava que aquilo já tinha me acontecido. Mas depois de uns dias vegetando, completamente esgotado de toda a energia que aquele colapso me sugou, minha memória começou a resgatar alguns flashes das outras vezes. Fui percebendo que talvez minha mente me fizesse esquecer daqueles episódios de propósito.

Não era muito agradável lembrar que eu costumava bater minha cabeça na parede quando era criança por não conseguir entender o que estava me machucando ou incomodando. Não me fazia muito bem lembrar das vezes que apanhei no orfanato ou na rua e fui chamado de louco por ter perdido o controle das minhas reações quando chegava no meu limite e não aguentava mais engolir as coisas. Eu nunca entendi o que acontecia dentro de mim, nunca ninguém me explicou. Assim como nunca ninguém me acolheu da maneira que estavam me acolhendo agora.

ㅡ Kook? Tá acordado?

Taehy abriu a porta do quarto enquanto Jimin tomava banho e me perguntou, mas eu ainda não conseguia falar. Estava deitado na cama em posição fetal de frente para a parede embrulhado quase por inteiro, exceto pelos olhos. Movi vagamente a cabeça e os pés, num espasmo em resposta.

ㅡ Tia Saem disse que você tomou o caldo verde mais cedo. Fiz um leite quente com mel pra gente. Quer vir tomar na sala? Ou eu trago aqui?

Eu também não me lembrava da minha dificuldade de usar a voz quando minhas energias estavam drenadas daquele jeito.

Continuei um tempo na mesma posição até conseguir me virar e desembrulhar a outra metade do meu rosto. O quarto estava escuro, iluminado apenas pelo abajur de luz amarela na mesa de cabeceira. Isso me ajudou a conseguir olhar para Taehyung e me sentir menos desconfortável.

Ele foi bem paciente. Todos estavam sendo muito pacientes comigo. Isso me mastigava os nervos, eu detestava dar trabalho para as pessoas e parecia estar extrapolando os limites disso. Mas eu não tinha forças nem para pedir que não se preocupasse, a única resposta que consegui oferecer foi gesticular meu indicador em negativa.

ㅡ Não consegue levantar? ㅡ neguei de novo, mas o que eu queria dizer era que ele não precisava se dar o trabalho de fazer o leite para mim ㅡ Vou trazer aqui então.

Ergui um pouco mais a cabeça e enfatizei a negação.

ㅡ Não quer que eu traga também? Nem na sala nem no quarto? Quer tomar no corredor?

Havia um ar de riso no seu tom. Se eu estivesse no meu funcionamento normal teria sorrido, mas apenas respirei fundo e comecei a aplicar mais um esforço para tentar me sentar na cama. Enquanto isso, Jimin apareceu, com uma toalha envolta na cintura e outra no cabelo.

ㅡ O que foi? O que houve?

ㅡ Nada, eu só vim perguntar se ele conseguia tomar o leite na sala ou se prefere que eu traga aqui.

ㅡ É melhor trazer, Hyun.

Taehyung assentiu e se retirou, fechando a porta. Eu já tinha conseguido me sentar e parecia ter gastado todas as migalhas de disposição nisso, então permaneci sentado encarando a manta alaranjada com a qual me embrulhava.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora