CAPÍTULO LVI, parte 2 ㅡ Você

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Jeon Jungkook
(Parte 2)

Pareceu uma navalha perfurando os meus tímpanos. Eu não gostava daquele tom de voz. Era a primeira vez que o ouvia, mas já não gostava.

Eu mereço, afinal. Pensei. Mas continuei não gostando. Queria pular toda aquela parte de consertar os erros e só me jogar nos braços dele.

Que saudade da sua voz, aliás.

ㅡ Oi… ㅡ foi o máximo que consegui.

E o silêncio se instaurou de novo.

Jimin fechou os olhos, parecia cansado. Suspirou. Abriu as orbes e piscou algumas vezes, se recompondo. Enfim, decidiu assumir um papel.

ㅡ Já voltou das férias?

O papel de agir como se estivesse tudo bem.

Aquele Park era o que me intimidava mais do que qualquer outro. O inabalável. Nada no mundo teria poder de fazê-lo perder sua postura.

Eu estava murchando por dentro. Mas não queria desistir.

ㅡ Voltei…

ㅡ O que faz aqui essa hora? Tá tarde.

ㅡ Eu… tava caminhando.

ㅡ Mas por aqui?

ㅡ Eu precisava andar, então saí pra dar uma pernada.

ㅡ Hum.

ㅡ Dar um descanso pra Haru… ㅡ soprei uma intenção de riso que foi cruelmente cortada pela sua seriedade ㅡ E você? ㅡ minha garganta tremia ao libertar a voz ㅡ Trabalhando até tão tarde?

ㅡ Pois é, muitas demandas nos últimos tempos.

O assunto parecia não render. Ele obviamente não queria conversar. Mas o que eu tinha no peito era grande demais para deixar tudo passar de novo. Mesmo sem saber o quê ou como fazer, eu sabia que algo precisava ser feito.

ㅡ Espera, você disse dar um descanso pra Haru? Você veio andando da sua casa até aqui?! ㅡ Pareceu ter a ficha caída de repente.

ㅡ Sim…

ㅡ Você mora longe, Jeon.

ㅡ Eu só precisava andar… nem senti a distância durante o caminho.

ㅡ E vai voltar como?

ㅡ Da mesma forma que vim.

ㅡ São quase onze da noite, se for andando agora vai chegar de madrugada.

ㅡ Ainda tô de férias, então não tem problema dormir um pouco mais tarde.

ㅡ É perigoso…

ㅡ Jimin, tá tudo bem. Eu sei me cuidar.

Ele ensaiou revirar os olhos. Quase pude enxergar seus pensamentos afiados naquele momento.

ㅡ Você tá sem celular? Posso pedir um carro pra você.

A pergunta pareceu inicialmente sem muito contexto para mim. Em seguida soou como uma especulação. Uma indireta muito bem elaborada. Eu não o respondia há mais de mês. Ele sabia. Parecia dar início a um diálogo subliminar de lavagem de roupa suja.

ㅡ Não precisa, eu vou voltar andando. Tá tudo bem, de verdade ㅡ fugi da resposta que ele queria.

Aquela destreza e honestidade de seu Johan ao pôr as cartas sobre a mesa quando conversou comigo, me acometeu ali. Eu não queria uma troca de farpas ou indiretas. Eu queria ser honesto.

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora