Jeon Jungkook
(Parte 2)Pareceu uma navalha perfurando os meus tímpanos. Eu não gostava daquele tom de voz. Era a primeira vez que o ouvia, mas já não gostava.
Eu mereço, afinal. Pensei. Mas continuei não gostando. Queria pular toda aquela parte de consertar os erros e só me jogar nos braços dele.
Que saudade da sua voz, aliás.
ㅡ Oi… ㅡ foi o máximo que consegui.
E o silêncio se instaurou de novo.
Jimin fechou os olhos, parecia cansado. Suspirou. Abriu as orbes e piscou algumas vezes, se recompondo. Enfim, decidiu assumir um papel.
ㅡ Já voltou das férias?
O papel de agir como se estivesse tudo bem.
Aquele Park era o que me intimidava mais do que qualquer outro. O inabalável. Nada no mundo teria poder de fazê-lo perder sua postura.
Eu estava murchando por dentro. Mas não queria desistir.
ㅡ Voltei…
ㅡ O que faz aqui essa hora? Tá tarde.
ㅡ Eu… tava caminhando.
ㅡ Mas por aqui?
ㅡ Eu precisava andar, então saí pra dar uma pernada.
ㅡ Hum.
ㅡ Dar um descanso pra Haru… ㅡ soprei uma intenção de riso que foi cruelmente cortada pela sua seriedade ㅡ E você? ㅡ minha garganta tremia ao libertar a voz ㅡ Trabalhando até tão tarde?
ㅡ Pois é, muitas demandas nos últimos tempos.
O assunto parecia não render. Ele obviamente não queria conversar. Mas o que eu tinha no peito era grande demais para deixar tudo passar de novo. Mesmo sem saber o quê ou como fazer, eu sabia que algo precisava ser feito.
ㅡ Espera, você disse dar um descanso pra Haru? Você veio andando da sua casa até aqui?! ㅡ Pareceu ter a ficha caída de repente.
ㅡ Sim…
ㅡ Você mora longe, Jeon.
ㅡ Eu só precisava andar… nem senti a distância durante o caminho.
ㅡ E vai voltar como?
ㅡ Da mesma forma que vim.
ㅡ São quase onze da noite, se for andando agora vai chegar de madrugada.
ㅡ Ainda tô de férias, então não tem problema dormir um pouco mais tarde.
ㅡ É perigoso…
ㅡ Jimin, tá tudo bem. Eu sei me cuidar.
Ele ensaiou revirar os olhos. Quase pude enxergar seus pensamentos afiados naquele momento.
ㅡ Você tá sem celular? Posso pedir um carro pra você.
A pergunta pareceu inicialmente sem muito contexto para mim. Em seguida soou como uma especulação. Uma indireta muito bem elaborada. Eu não o respondia há mais de mês. Ele sabia. Parecia dar início a um diálogo subliminar de lavagem de roupa suja.
ㅡ Não precisa, eu vou voltar andando. Tá tudo bem, de verdade ㅡ fugi da resposta que ele queria.
Aquela destreza e honestidade de seu Johan ao pôr as cartas sobre a mesa quando conversou comigo, me acometeu ali. Eu não queria uma troca de farpas ou indiretas. Eu queria ser honesto.
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Demasiado Humano • OT7
FanfictionEssa não é uma história de amor. É uma história sobre a condição humana a qual estamos fadados. Condição que nos faz contraditórios. Vulneráveis. Que nos limita às circunstâncias deste mundo material, mas nos permite sentir para além da nossa compre...