CAPÍTULO XXVI ㅡ Filho do Vento, Parte I

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Kim Seokjin



Já fazia algum tempo que eu estava no piloto automático, não conseguindo prestar atenção em nada por mais que dois segundos.

Quando minha bateria acabava, sempre chegava um momento em que meu cérebro parava de aceitar estímulos para processar. Como se ele decididamente se recusasse e ponto. Não tinha o que fazer.

Nessas horas eu até esquecia que podia ser visto. Já que estava desligado ou desligando, normalmente não passava pela minha cabeça que podia ser notado. A sensação era como se eu fosse sumindo aos poucos, fisicamente, junto com o funcionamento do meu sistema. Ele ia desligando e eu ia sumindo. Até ficar invisível.

E foi nessa hora que eu só me levantei e saí daquela sala.

Yoongi e Jungkook estavam na mesa lá fora, conversando. Eu não sabia exatamente para onde ir, nem o que fazer. Então me sentei com eles. Hesitante, mas sentei.

E, desligado, não demorei mais que um minuto para me debruçar sobre a mesa e deitar minha cabeça no espaço dentro dos meus braços.

Yoongi veio e sentou do meu lado, fazendo carinho no meu cabelo. Ele já sabia.

Questionou se eu estava bem e eu disse que estava cansado e queria minha cama. Ele disse que também já estava morrendo de sono fazia tempo e que, antes de eu chegar, conversava com Jungkook a respeito. O garoto também já sentia que sua hora tinha chegado.

ㅡ Preciso de algum canto. Escuro. De preferência que não tenha um grupo de pessoas conversando ao meu redor.

ㅡ Tem uma escada ali do lado, Namjoon foi lá mais cedo conversar com Jimin.

ㅡ Vou dar um tempinho lá, ok?

ㅡ Tá bem, vou logo vendo se consigo um carro. Essa hora normalmente demora bastante até achar um motorista e uma viagem com parada por menos de 100 conto.

Assenti, já me levantando. Quase não consegui escutar metade do que ele disse, mas entendi que ia chamar um carro e foi o suficiente.

Fui até a escada, olhei com cuidado para conferir se tinha gente ㅡ não tinha ㅡ e então subi, a passos levemente desequilibrados, até pouco acima da metade.

Me sentei e juntei os pés no degrau abaixo, deixando meus joelhos próximos o bastante do meu rosto para que pudesse novamente me debruçar e esconder a cara ali. A grande parede ao lado da escada barrava o som alto de alguma forma, mas bem sutil. A barulheira ainda estava demais e meus ouvidos já imploravam pelo silêncio.

Tentei por um tempo me ajeitar em uma posição onde minha cabeça ficasse enterrada nos meus braços e minhas mãos, ou qualquer outra parte do meu corpo, pudesse tapar meus ouvidos. Tudo ao mesmo tempo e confortável. Não demorou muito para que eu percebesse que era uma missão impossível.

Eu não estava exatamente irritado ou prestes a ter uma crise. Eram indícios, mas eu estava mais cansado e domado por uma insistente letargia do que qualquer outra coisa. O que, consequentemente, me deixava enjoadinho. Mas nada muito grave.

Sabia o que precisava e queria ir atrás disso. Silêncio, escuro, solitude. Eu e eu na minha caverna, sob minhas cobertas protetoras e quentes.

Depois de conseguir parar por mais de dez segundos em alguma das tentativas de posicionar confortável, ouvi o que pareceu ser o impacto de uma pegada contra o ferro dos degraus da escada. Demorei alguns segundos para levantar a cabeça e espiar.

ㅡ Ei... ㅡ sua voz soou tão hesitante quanto sua postura que, assim que me viu vê-lo, estacionou no primeiro degrau. ㅡ Tá bem? Precisa de alguma coisa?

Demasiado Humano • OT7Onde histórias criam vida. Descubra agora