09

5.9K 339 5
                                    

|| Diego Alcântara ||

📍 Rio de Janeiro, Vidigal, Segunda-feira, 6:00.

Fumo meu 5° baseado em questão de uma hora, tentando fazer minha mente parar.

Nem sei quantos foram só essa madrugada, se eu não desligar meus pensamentos por alguns segundos eu vou acabar surtando.

Ontem na missão de resgatar os meninos, algumas coisas saíram do nosso controle.

A principal delas foi a Gabriela simplesmente decidir ficar no lugar deles, e quer saber o que foi pior? Eu não pude fazer nada.

Eu entendo o lado dela de proteger eles de algo pior, afinal, o Marcos apanhou pelos dois pra proteger o caçula, doeu até em mim ver o moleque todo arrebentado pô, mas caralho, ela é minha filha porra.

Acho que nada doeu tanto nesses meus 48 anos, quanto ver a minha princesinha indo embora com os cana.

Me senti vulnerável, e imponente.

Engulo a saliva sentindo o nó na minha garganta ficar cada vez maior, essa sensação ruim que tá no meu peito desde ontem, eu sabia que algo ruim iria acontecer.

Apago meu cigarro ali na varanda, e vou tomar um banho gelado, pra me manter acordado mermo, já que não consegui dormir.

Visto uma camiseta preta e uma calça de moletom cinza, calço meus tênis e coloco minha correntinha prata com o nome da Gabi, talvez assim meu coração se acalme um pouco.

Desço as escadas e murmuro um bom dia pra minha contenção, indo apé mesmo até a casa da minha filha.

Preciso pegar umas coisas dos meninos pra levar pra eles lá no Alemão, e passar no escritório de casa da Gabi, pra ver se ela me deixou algum aviso sobre essa situação.

Pode até parecer que ela decidiu isso de última hora, mas a verdade é que a Gabriela arquiteta todas as possibilidades sempre, e se por um milésimo de segundo que fosse, ela tivesse imaginado essa situação, ia deixar instruções.

Entro na sala sentindo o perfume marcante dela invadir meu nariz, e sinto meus olhos marejados, nego com a cabeça tentando manter o foco.

Alimento os cachorros, e subo pro quarto dos meninos arrumar as mochilas, mas antes que eu consiga chegar lá, travo na porta do quarto dela, observo w cama revirada, a bagunça básica de papéis, notebook e pastas em cima da cama.

Caminho devagar observando cada canto dali, e sento no tapete perto da varanda, me escorando na poltrona.

Suspiro observando o sol nascendo, e me permito chorar quando começo a lembrar da melhor sensação que senti na minha vida, a primeira vez que peguei ela no colo.

Flashback on:

A notícia que a Karine não tinha resistido ao parto me abalou bastante, tudo bem que não tínhamos um relacionamento, mas sempre vou ter um carinho enorme por ela, mãe da minha filha pô.

Já fazem 6 horas que a gabi nasceu, e só agora as enfermeiras deixaram eu ver ela, tô todo nervoso, me tremendo e acho que até suando tô.

Me sento na poltrona ali do quarto e vejo uma das enfermeiras se aproximando com um pacotinho nos braços.

Enfermeira: com licença papai, é aqui que essa princesa tava sendo esperada ? - concordo com a cabeça e ela coloca minha filha no meu colo.

Sinto o ar fugir dos meus pulmões, e minha boca secar quando encaro aquela criaturinha tão delicada.

A menina me ajuda a segurar ela direitinho, e me explica como vai funcionar a amamentação dela por falta do leite materno.

Perdido no Paraíso Onde histórias criam vida. Descubra agora