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|| Diego Alcântara ||

📍Rio de Janeiro, Vidigal, Sábado, 23:30.

Chego em casa cansado do dia de hoje, comandar uma facção e um morro não é nada fácil.

Ignoro as minas que me mandam mensagem e vou tomar um banho, Gabi tá vindo pra cá posar comigo, porque o Júnior ainda tá com os Ferreira, Marcos tá no baile do Alemão e provavelmente só volta amanhã, e ela não queria posar sozinha.

Vamos as apresentações né, meu nome mermo é Diego Alves Alcântara, tenho 48 anos, sou dono do morro do Vidigal e atual chefe do Comando Vermelho.

Pai de uma mulher de 26 anos que é a razão da minha vida, avô de um vacilão que minha filha adotou e só me dá dor de cabeça, e de um neném lindo.

Minha filha é meu maior tesouro, ela manda e desmanda em mim mermo, dou minha vida pela dela sem nem pensar, tá maluco, meu maior orgulho.

Quando eu conheci a mãe da Gabriela tinha 20 anos, recém tinha assumido o comando do morro, e as emocionadas caíram pra cima, ela era uma mina firmeza, mas nunca cheguei a amar ela, a gente se curtia, quando ela me contou que tava grávida 1 ano depois, foi a maior felicidade da minha vida, papo reto mermo.

Combinamos que iríamos deixar nossa relação de lado, e todo contato que teríamos seria absolutamente pela nossa cria.

A gestação dela foi tranquila, Gabriela saudável e ela também, mas no dia que a gabi nasceu, Deus quis levar a Karine com ele e ela se foi me deixando com nossa filha pra criar.

Criei minha gata do jeitinho que sempre quis, na simplicidade mermo, sempre dei tudo que ela quis, mas quem disse que aquela ali é gananciosa ? Nada po, sempre preferiu brincar na rua mermo, com os moleques.

Sempre cuidei igual uma princesa, roupas e calçados dos melhores, sempre penteadinha, aprendi a cuidar de menina na marra, mas fala tu, sou um paizão carai.

Quando ela foi crescendo, fui sendo o mais transparente possível sobre o mundo com ela, não queria minha menina com a ilusão dos contos de fadas, queria que ela soubesse como essa porra de mundo funciona.

Nunca mais tive nada sério com ninguém, mais por não ter encontrado alguém que me fizesse sentir algo forte o suficiente pra isso.

É foda, eu até tento, porque porra, tô velho pra caralho pra esses namoro emocionados, mas não rola, a mina se declara e eu nem gostar consigo.

No momento tô tentando fazer a Gabriela viver de novo, e por incrível que pareça, depois de todo esse tempo, ela tá se permitindo sair de verdade, rir, curtir com os amigos, fico tão feliz de ver ela assim.

Entro embaixo do chuveiro e coloco a água no quente, só assim pra relaxar de verdade.

Saio do banho e passo meu desodorante, perfume e só visto um calção pra dormir.

Deito no sofá jogando vidro game e minha gatinha chega toda manhosa, desde pequena é assim, é só ficar sozinha que fica toda dengosa, se deita do meu lado abraçando meu corpo e dorme sem nem ver.

Só tenho eles nesse mundão pô, meus coroa já foram dessa pra melhor faz uma cota já, não tenho irmãos, e nunca tive contato com o resto da família.

As vezes repenso sobre viver no crime, essa parada ainda vai me matar ou me por atrás das grades, meu maior medo é deixar minhas crias, por mais que minha gostosa já tenha se tornado um mulherão, eu não quero partir dessa tão cedo.

Lembro que a gabi me convidou pra ir pra praia com ela e o bando de vacilão que ela chama de amigos amanhã depois de pegar o Júnior.

Coloco uma série pra assistir na Netflix e fico prestando atenção enquanto faço um cafuné nela, pensar que essa merdinha ainda ontem era uma menor que corria pela casa descalça e me chamava de herói, tenho tanto orgulho da filha que criei.

Perdido no Paraíso Onde histórias criam vida. Descubra agora