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|| Diego Alcântara ||

📍Rio de Janeiro, Vidigal, Sexta-feira, 21:00.

Engulo em seco com a respiração ofegante, tentando entender como o desgraçado do piolho me enganou tão bem. Passei o dia formulando um plano pra conseguir resgatar minha mulher.

Tem exatos quatro dias que eu tô igual um desgraçado atrás das informações necessárias pra encontrar eles, e o filho da puta muda de localização a cada passo que eu dou pra chegar nele.

Já fumei mais do que costumo num ano inteiro, quarta eu enchi tanto o cu de cachaça e droga que meu coração acelerou tanto que pensei que ia morrer. Só que hoje é diferente, nosso hacker me enviou a localização precisa, e preferi não comentar com ninguém antes de mandar alguém conferir.

Gabriela assumiu a facção nesses dias, eu tô completamente focado no sequestro da Laila, então tudo relacionado ao CV tá nas mãos dela. E pra falar a verdade, a ideia de aposentadoria nunca foi tão presente na minha mente. Depois que tirar eles dessa, sossegar, cuidar dos dois, até porque mesmo sabendo que minha preta vai ser uma mãe maravilhosa, não pediria nunca pra ela largar o trabalho que ela tanto sonhou e batalhou pra ter.

Pego meu telefone mandando mensagem primeiro pra Gabi e avisando ela pra me encontrar na boca com os moleques, e deixando todo meu orgulho de lado em questão de facção, ligando pro único dono de favela que já me disse não.

Espero tocar duas vezes enquanto fumo o centésimo cigarro de hoje, querendo ou não, tudo isso me desestabilizou pra caralho, e só vou melhorar quando estiver com os dois nos meus braços de novo.

XXX: alô? - uma voz doce e infantil fala do outro lado da linha e eu tusso com a surpresa, que eu saiba o desgraçado é sozinho - eita, tá tudo bem? Minha mamãe diz que quando a gente tosse precisa recuperar o fôlego - diz acelerada a criança me fazendo rir da sua espontaneidade.

Russo: quem é bonequinha? - pergunta de fundo a voz que eu já conheço e eu franzo a sobrancelha sem entender mais nada.

XXX: não sei, o coitado só tossiu bastante quando atendi - ela dá um risinho, me fazendo rir ainda mais, me tirando do buraco triste em que tô desde que minha preta foi levada - assume agora que vou lá perturbar o maninho - sua voz diz já distante e escuto o riso rouco do outro lado da linha.

Diego: pensei que tu ia me evitar desgraça - digo tragando o cigarro e o pigarro dele me faz acreditar que o mesmo revirou os olhos pra minha fala - coé russo, preciso do apoio da rocinha - engulo em seco sentindo meus olhos arderem novamente no choro que eu ando engolindo.

Russo: bom falar contigo trovão, falei com a doutora mais cedo, já tava esperando o retorno - ele dá uma pausa - parou vocês dois, depois a mãe de vocês bate é em mim - diz soltando um riso baixo no final da frase - pronto chefia, pode falar - diz voltando a sua marra e é minha vez de revirar os olhos.

Conheci o Ronam ele ainda era só um moleque, aprendendo a viver do crime com o falecido Lobão, o moleque sempre foi um prodígio, já vi muito cria crescendo nesse meio, mas o loiro sempre teve sangue nos olhos por "ser alguém".

Ele também foi um dos únicos que em toda a vida teve a coragem de negar as coisas e me desafiar. Por várias vezes quis estourar seus miolos, mas a verdade é que a gestão dele nos rendeu muito.

Quando ele foi preso, geral ficou em choque, o moleque nunca foi de dar brecha pro erro, mas a filha da puta fez a maior trairagem. Ofereci montar uma fuga, e o que me surpreendeu foi ele querer cumprir a pena.

Suspiro me escorando na parede atrás de mim, e sentindo meu estômago revirar enquanto minhas mãos começam a tremer levemente, demonstrando todo meu nervosismo.

— Diego: tá sabendo que sequestraram minha mulher? - escuto ele xingar baixinho e em seguida me responder em negativa - o filho da puta saiu de dentro do comando Russo, pegou minha mulher na covardia, quero ela em casa hoje, e inteira com meu filho - o silêncio do mesmo me faz ter a certeza que ele ainda tá absorvendo toda a informação.

— Russo: só tu me dizer a hora e o lugar trovão - arregalo levemente os olhos surpreso por ele não se negar, conhecendo sua indiferença a dores alheias.

— XXX: tá tudo bem amor? - antes que eu possa responder ou questionar escuto uma voz feminina falar com ele do outro lado da chamada e franzo o cenho, até onde eu sabia, o desgraçado era sozinho.

— Russo: vai lá com nossos filhos tá bom preta?! Já já te conto tudinho - o som de um leve beijo se faz presente e mais uma vez a saudade da minha mulher me toma por inteiro - me manda por mensagem todos os detalhes e onde eu te encontro, vou reunir os melhores daqui, o apoio da rocinha tá contigo patrão - e assim como não consegui falar antes, ele desliga na minha cara me impossibilitando mais uma vez.

Me deixo soltar algumas lágrimas de alívio, em saber que tenho mais apoio do que eu imaginava nessa missão tão importante.

Me concentro novamente na tela a minha frente e começo a criar todo o planejamento pra resgatar meu cristal, desde como entrar no lugar, até como tirar eles dois de lá tranquilamente.

Pego toda a planta do local, mentalizando quantos soldados tenho ao meu dispor, e começo a distribuir os nomes das favelas pelo mapa, detalhando exatamente onde quero os homens de cada um.

Meia hora mais tarde escuto a porta abrir e ergo a cabeça encarando minha filha entrar de cabeça erguida na sala sendo seguida pela tropa que é leal a mesma.

Matador: fedor de cabaré essa sala mermão, só falta feder a sexo - faz uma careta terminando sua frase e escuto o riso rouco do Víbora me fazer arquear as sobrancelhas.

Começo a passar o plano pra eles detalhe por detalhe, e passando pros mesmos minha vontade de agir nessa madrugada, depois de revisar e repassar tudo com eles pelo menos umas dez vezes, libero os mesmos pra se organizarem e descansarem antes de partirmos.

Pego meu telefone novamente e escrevo uma mensagem pro loiro avisando o horário e o local de encontro. Deslizo a tela até a foto de fundo, que tirei em um dia de "autocuidado" com minha mulher, o sorrisão da mesma com o coque bagunçado de costume me traz um aperto no peito que me sufoca.

Deixo as lágrimas que tanto tenho guardado escorrerem pelo meu rosto, enquanto meu peito rasga de dentro pra fora, e a sensação de sufocamento aumenta pela saudade do cheiro e do toque dela.

Calma preta, vou trazer tu e nossa cria em segurança pra casa.

Calma preta, vou trazer tu e nossa cria em segurança pra casa

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