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|| Laila Monteiro ||

📍Rio de Janeiro, Complexo da Penha, Terça-feira, 05:00.

Acordo do cochilo que não deve ter durado dez minutos assustada, observando o quarto fedido, sujo e escuro que eles me jogaram.

Ontem depois que fui sequestrada eles me trouxeram pra esse lugar, me jogaram nesse cômodo e só vieram me trazer um pedaço de pão e um copo d'água.

A voz do homem que apontou a arma na minha cabeça rodou várias vezes nos meus pensamentos nessas últimas horas, e por algum motivo eu juro que conheço a pessoa.

Mas sabe quando você não consegue ligar a voz a um rosto? Exatamente isso que aconteceu, eu sei que não é desconhecido, mas não faço ideia de quem teria coragem de enfrentar o ursinho assim.

Minha barriga dói de fome e eu engulo em seco, me negando a comer qualquer coisa que eles me tragam por medo de estar envenenado. Levo minha mão até meu ventre sentindo lágrimas se formarem nos meus olhos, e passo com cuidado a mesma por ali.

Laila: calma filho, eu garanto que o papai vai conseguir nos tirar daqui - tento confortar meu grão de gente, sem nem conseguir manter minha própria calma, e engulo o choro, tirando bruscamente a mão dali quando a porta é aberta.

Piolho: acorda aí boazona, teu marido quer falar contigo - por um momento perco o ar em perceber quem é o desgraçado que me trouxe pra esse lugar, apontou uma arma pra mim e confrontou o próprio chefe.

Em questão de segundos retomo minha consciência, garantindo pra mim mesma que esse infeliz vai pagar.

Pego o aparelho tentando controlar minhas mãos trêmulas, e a respiração descompassada e levo o mesmo até minha orelha.

Laila: di? - pergunto incerta e escuto uma respiração ser soltada do outro lado da linha, reconheço o suspiro do meu futuro marido de longe, e meu nariz arde com a vontade imensa de chorar.

Quando começamos nosso namoro o Diego teve uma conversa, digamos nada agradável comigo, e só consigo lembrar de uma frase.

"Nunca demonstre fraqueza na frente deles caso algum dia eu falhe em te proteger e consigam te pegar, eu sei que vai sentir medo, mas isso é a maior arma deles"

Diego: amor, preciso que você só me responda com sim ou não, tudo bem? - confirmo com um "sim" - muito bom, você conhece quem te pegou? - mais um sim e ele respira fundo - É da facção? - mais um sim e a respiração dele fica pesada - não se preocupa tá?! Hoje eu te tiro daí - ele diz numa tentativa falha de tranquilizar nós três.

E antes que eu possa responder alguma coisa o celular é tomado da minha mão com violência e o verme ri alto desligando na cara do meu noivo.

Afasto meu corpo contra parede atrás de mim, em cima do colchonete velho, e dobro meus joelhos abraçando os mesmos numa tentativa de proteger quem mais importa pra mim.

Laila: Porque você tá fazendo isso? O Diego confiava em você - digo num pingo de coragem e vejo seu rosto formar uma carranca, me fazendo praguejar por minha boca grande.

Piolho: eu quero tudo que aquele velho tem, toda fama, dinheiro, poder, mas principalmente você Laila - arregalo meus olhos chocada com sua declaração e a risada amarga que ele solta me faz temer - eu tentei te roubar dele da forma tradicional, mas parece que a cadela é muito fiel ao dono não é mesmo?! - sinto meu estômago revirar de nojo desse ser humano sem escrúpulos e ele sorri perverso.

Perdido no Paraíso Onde histórias criam vida. Descubra agora