Um ano depois
|| Diego Alcântara ||
📍Rio de Janeiro, Nova Holanda, Quarta-feira, 18:00.
Me recosto no muro atrás do meu corpo ajustando a pistola na minha cintura enquanto ouço o suspiro baixo do Juliano escapar do meu lado, e arqueio as sobrancelhas pro maluco tentando entender porque tá tão inquieto.
- Onça: coé, nem ia comentar nada chefe - mais um suspiro e eu me remexo incomodado pela sua ansiedade.
- Diego: para de enrolar porra, e tua chefe é a Gabi, já te falei - ele ri baixinho concordando e cruza os braços na altura do peito engolindo em seco a seguir.
- Onça: vou ser pai pô, a menina me deu a notícia ontem, e ainda não consegui assimilar - passa a mão no rosto demonstrando nervosismo e eu suspiro viajando há uns meses atrás e respeitando seu silêncio.
Laila deu uma pausa na carreira por causa da gestação do Samuel, não eram os planos, mas depois de todo stress passado com o sequestro, a gravidez se tornou delicada e de risco, então preferi cuidar dela de perto, antecipando até minha aposentadoria.
Me mudei de vez pra maré, sabendo que tudo no Vidigal tá em ordem nas mãos da pessoa mais competente que eu conheço: minha cria.
Foi insano viver tudo isso novamente já chegando nos cinquenta, ao mesmo tempo que foi lindo, descobrir que viria um menino dessa vez na ultrassom do quarto mês, e chorar igual uma criança quando senti ele chutar.
Foi lindo ver cada fase da barriguinha da minha mulher crescendo, gostoso demais conseguir acompanhar seu apetite sexual, ou ver o quanto a gestação deixou ela impecável de tão linda, até mesmo acompanhar suas crises hormonais eu achei incrível.
Sanei todos os seus desejos, até mesmo quando as quatro da madrugada de um domingo ela acordou querendo comer um doce esquisito que eu precisei rodar o RJ inteiro pra encontrar.
Samuel Monteiro Alcântara veio ao mundo numa manhã linda de segunda-feira, demonstrando ser nesses três meses de vida, uma mistura perfeita da mãe e da irmã dele. Fisicamente, é uma mistura muito linda de nós dois, os olhos claros do meu lado, e a pele cor de chocolate.
Ele é um doce, sempre grudado na mãe, mas tem um temperamento insuportável quando tá com fome, chora alto, faz bico, dengoso que só ele.
Escuto um coçar de garganta e saio dos meus pensamentos percebendo o sorriso que rasgou meu rosto, e pigarreando pra disfarçar que nem prestei atenção no que o coitado falou.
- Diego: foi mal, isso é bom Juliano, filho é sempre bom, nos obrigam a amadurecer, no meu caso, eu cresci muito com a Gabi, e agora, to aprendendo e melhorando com meu pretinho - digo pro mesmo que parece concordar mentalmente.
- Onça: é só que, e se eu for um pai horrível? - ele suspira abaixando o rosto e escuto a voz do mesmo falhar - nunca fiz isso Trovão, e se eu for daqueles filhos da puta, que o filho odeia? - me olha apavorado e dou um riso baixo negando com a cabeça e já me arrumando em pé pra ir pra casa ver meus cristais.
- Diego: só de tu se preocupar com isso já mostra que tu vai ser um paizão seu porra - ele sorri de canto - agora vai trabalhar vagabundo, e não me perturba o juízo mais hoje não, que to indo pra casa - dou as costas pro homem deixando ele resmungando sozinho e caminhando morro abaixo.
Quando o Samuca nasceu, nasceu com ele um instinto três vezes mais protetor, que depois que minha gabizinha ficou adulta tinha adormecido, e eu me vi querendo estar grudado naqueles dois vinte e cinco horas por dia.
Ainda preciso atender um chamado aqui ou lá, porque mesmo sabendo que a maluquinha é capaz, o papai aqui é essencial pra ela aprender, palavras dela, não minhas.
Meu casamento até agora não saiu, não porque não quisemos, mas nos envolvemos tanto em receber nosso moleque bem, que ficou pra segundo plano.
Meus netos estão enormes, coisa mais linda do mundo, são muito apaixonados no "tio" deles, até o Marcos baba horrores, incomodando sempre a pobre da Emily pra fazer um deles.
Paro na padaria pedir um lanche pra minha gata, e termino de revisar umas questões pelo celular, descendo pra casa em silêncio enquanto observo o movimento no morro diminuindo conforme o sol vai sumindo.
Cumprimento meus sogros que estão sentados na calçada como de costume tomando uma cerveja, e vejo o Murilo vir lá de dentro fazendo um toque comigo em seguida. O moleque prosperou demais na área que escolheu, já participou de várias convenções nesse ano, e o nome do Studio tem crescido e se tornado conhecido por milhares de pessoas.
Entro em casa em silêncio, tirando os sapatos e a arma na entrada, como tornei costume, e escuto a voz da minha preta cantarolando algo na cozinha. Sinto meu coração acelerar de antecipação por reconhecer sua dona.
É absurdo o quanto eu amo essa mulher. Sem neurose, ela se tornou todo o meu mundo.
Reformei nossa casa quando ela tava entrando no terceiro trimestre da gestação, deixando a altura deles, com todo conforto que eu pude proporcionar.
Entro na cozinha americana vendo ela embalando o carrinho onde nosso pequeno ser humano dorme tranquilo, enquanto analisa um caso que enviaram pra ela por e-mail no iPad. Ela tá retomando a rotina médica aos poucos, o que me deixa bem satisfeito, já que sempre amou sua profissão.
Outra coisa que consegui mudar, foi meu cristal aceitar que meu dinheiro também é dela, se permitindo viver mais confortável até pros seus estudos. Mas confesso que não foi nada fácil.
Torturei o verme do piolho em praça pública, e daquela vez, eu fui mais cruel do que qualquer outra tortura. Tanto é que depois daquilo, encerrei meus trabalhos nessa parte.
Arranquei a língua, o pau. a pele, e deixei careca, depois de arranchar unha por unha do desgraçado. E depois que ele já tava quase inconsciente de tanta fraqueza, coloquei fogo no corpo inútil dele.
Deixo as coisas em cima da ilha da cozinha, dando um beijo nos seus cabelos e o sorriso que eu sou apaixonado se abre na minha direção.
— Laila: demorou hoje ursinho - diz manhosa com um biquinho lindo e eu sorrio pra mesma levantando ela da cadeira e dando um beijo no vão do seu pescoço e fazendo ela se arrepiar.
— Diego: Juliano vai ser pai - ela arregala os olhos com a notícia rindo em seguida - ai me prendeu falar no meu ouvido, mas já tô aqui preta - ela segura meu rosto entre as mãos mudando de humor e me puxando pra um beijo rápido, já que escutamos o choro baixo e manhoso de recém acordado do samuca.
Antes que mais uma vez ela assuma os cuidados com nosso bebezão, pego ele nos braços deixando um beijo no seu pescocinho gordo.
— Diego: deixa comigo amor, vou lá dar um banho gostoso nele, pode estudar aí e vê se come - aponto serinho pra ela que sorri revirando os olhos e concorda.
Eles são minha paz. O motivo da minha vida desgraçada fazer mais sentido.
Maratona de encerramento 1/3
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Perdido no Paraíso
Roman d'amour📍 Rio de Janeiro, Nova Holanda. Laila, com seus vinte e quatro anos, é uma menina mulher que batalha diariamente pela sua independência. Nossa menina sempre foi calma e tranquila, recebeu muito amor desde criança, e batalhou muito pra conquistar se...