|| Laila Monteiro ||
📍Rio de Janeiro, Barra da Tijuca, Segunda-feira, 15:00.
Passamos o final de semana agarradinhos, nos curtindo e abstraindo a ideia que um mini feijãozinho cresce no meu ventre.
Decidimos contar pras nossas famílias só depois de completar três meses, eu tenho muito medo do trimestre inicial, ainda mais por ser a primeira gravidez.
Hoje de manhã já fiz o exame de sangue quando o Diego me deixou na porta do hospital pra pegar meu plantão, às cinco horas.
Bocejo saindo de uma cirurgia de cinco horas seguidas, e vou até a sala de descanso dos internos. Entro garantindo que tá vazia e tranco a porta.
Caminho até a frente do grande armário, e me encaro no espelho, passo lentamente minha mão pela barriguinha ainda lisa e sinto meus olhos encherem d'água.
Sempre sonhei em ter um bebê se gerando na minha barriga, passar por todo o processo da gestação, ver minha barriga crescendo, poder amamentar, cuidar daquele pequeno ser.
E o Diego me mostra a cada dia o pai incrível que ele já é, fora o super avô que ele se tornou pro time de futebol da Gabi.
Dou risada por imaginar a reação da maluca em saber que vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. Deito na parte debaixo da beliche, me cobrindo com minha mantinha que eu carrego na mochila e pego no sono.
Acordo com meu bip apitando e reviro os olhos tendo que levantar. Calço novamente meus sapatos e amarro minha calça do uniforme, guardando rápido as coisas na minha mochila e indo até a neonatal onde me chamaram.
— Dra Millani: preciso que você examine o bebê do leito seis, acredito que ele está com problemas respiratórios - fala baixo e eu concordo com a cabeça, indo em seguida até o recém nascido que preciso examinar.
Muitas vezes nessa profissão precisamos desligar nosso emocional, é muito complicado ter que ser responsável pela vida de alguém.
Até porque só há duas saídas, você sai como herói que salvou o familiar amado, ou como o vilão que não conseguiu trazê-lo de volta pra sua família.
Passo o restante do plantão auxiliando a doutora millani com os pequenos e quando da cinco da tarde me encaminho novamente pra sala dos internos pra me trocar.
Agradeço a Deus pelo plantão de hoje ter sido de apenas doze horas e tomo uma ducha rápida pra tirar o suor do dia cansativo.
Coloco minha calça jeans larga de cintura alta, cropped canelado bege e amarro meus cabelos em um coque bagunçado. Passo um corretivo nas olheiras e um blush apenas pra me dar um ar de vida apenas.
Aviso o Diego por mensagem que vou passar no shopping pra buscar meu kit de higienes na O Boticário e ele concorda me dizendo que os meninos da minha contenção vem me buscar hoje, porque ele tá enrolado com umas pendências da facção.
Meu coração sempre fica apertado quando o ursinho precisa cobrar devedores, ou até mesmo mostrar poder. A ideia dele largar essa vida é o que tem me tranquilizado.
Saio do hospital me despedindo do pessoal, e caminho com minha mochila duas quadras até chegar na shopping. Entro cumprimentando o porteiro e subo as escadas rolantes observando as vitrines.
Entro no meu destino cumprimentando a vendedora que já conheço há um tempo, e suspiro sentindo o cheirinho gostoso que a loja traz consigo.
Escolho algumas coisas e monto meu kit mensal com sabonete, esfoliante, hidratante, e provo o novo Egeo decidindo levar ele também. Peço um creme que sei que eles vendem pra gestantes, e incluo na compra, pagando tudo no débito e saindo da loja em seguida.
Dou mais uma volta comprando algumas roupas pra mim, e pro Diego que se eu não comprar, anda igual um mendigo. E mesmo que eu saiba que ele vai chiar por eu ter gastado meu dinheiro com ele, ignoro escolhendo algumas camisetas da Lacoste que ele ama. Aproveito pra pegar uma pro André e pro marcos também.
Vejo na vitrine de uma das lojas um cropped ciganinha lilás lindíssimo, e decido levar pra gabi, porque é bem o estilo que ela usa. Entro numa loja infantil escolhendo algumas peças pra presentear meus netos, chega ser irônico me chamar de avó né.
Vejo um boddy RN branco escrito "melhor pai do mundo", e sorrio imaginando a reação do Diego em ver, coloco no meio das compras pagando tudo no fim e saindo cheia de sacolas.
Muito consumista sim, por isso eu evito a todo custo ir no shopping. Caminho tranquilamente checando as mensagens no meu celular e travo quando sinto algo duro pressionando minha cintura.
Solto de susto as sacolas e minha mochila respirando fundo e tentando não entrar em pânico, sabendo que provavelmente se trata de uma arma.
— XXX: quietinha, se gritar eu atiro - a voz conhecida fala perto do meu ouvido e engulo em seco concordando - tá vendo aquela van preta? Você vai andar até ela e entrar como se fosse seu transporte pra casa - concordo mais uma vez engolindo em seco e sentindo meus olhos inundarem com o medo que toma conta do meu corpo.
— Laila: porque vocês tão fazendo isso? - pergunto baixinho quando o homem mascarado coloca um saco de papel na minha cabeça e o outro dirige em alta velocidade.
— XXX: o que tem de bonita tem de chata ein, CALA BOCA PORRA - grita me fazendo encolher no banco e chorar em silêncio pedindo a Deus apenas proteção pra mim e meu feijãozinho.
Eles conversam em código e não consigo ter noção do tempo, mas sei que já estamos viajando por pelo menos uma hora, lembro que ainda não comi quando minha barriga revira, e sinto uma tontura leve.
Mais algumas horas se passam e começo a sentir uma fraqueza imensa por conta da falta de nutrientes durante todo o dia, quando dou por mim, começo a apagar aos poucos, perdendo o sentido.
Desmaio e na minha cabeça só consigo imaginar a cena do Diego recebendo a notícia, e torço internamente pro coração dele estar em dia.
Minha cabeça viaja em cenas da minha infância, dos meus pais brincando comigo no pátio de casa, meus irmãos me protegendo dos valentões na escola.
Lembro do dia que passei em medicina e foi a maior conquista de todos ao meu redor, a maior festa de todos os tempos eu diria. E lembro do sorriso dos meus velhos na minha formatura.
Será que tudo vai ficar bem? Agora que engravidei, fiquei noiva do homem que eu amo e finalmente teria minha própria familia. O que eu fiz de ruim pra esses homens me sequestrarem assim?
Não me matem, precisava de adrenalina nessa reta final 🤭
Metas
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Perdido no Paraíso
Dragoste📍 Rio de Janeiro, Nova Holanda. Laila, com seus vinte e quatro anos, é uma menina mulher que batalha diariamente pela sua independência. Nossa menina sempre foi calma e tranquila, recebeu muito amor desde criança, e batalhou muito pra conquistar se...