51 - J.C.

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Sentada em minha cama, de pernas cruzadas, eu lia e relia a ficha de Warren. Passando as folhas e não ficando nem um pouco impressionada com o que eu via. Ele parecia um garoto absurdamente inteligente, era de fato um orgulho para Neity por conta disso.

Ele cresceu no instituto de outra cidade, se tornando uma das cobaias mais fortes de lá, e quando finalmente conseguiu sair, ele sumiu, era o que dizia naquela ficha. Seus poderes iam além de qualquer treinamento ou cuidado dado por algum doutor, como eu mesma tive ao ter tamanhos poderes submergindo em minha pele, ao mesmo tempo.

Depois da história que Ruby havia me contado, eu decidi ficar sozinha adquirindo conhecimento com a pasta pela qual contava detalhes sobre os poderes dele. Eu sentia exatamente o que estava escrito naquelas folhas. A dormência das sensações que destroem meu subconsciente, era de fato bom, porém saber que ele tinha contato com a minha mente me tornava até mesmo um alvo pelo qual ele tinha acertado em cheio. Ele poderia facilmente descobrir os planos se estiver me usando como uma espiã para ele mesmo.

Um susto deu um choque pelo meu corpo quando vi a porta se abrir devagar, eu nem mesmo tinha ouvido a maçaneta girar, aquelas engenhocas eram tão barulhentas. Ainda assim não fiquei comovida quando Lucke se sentou ao meu lado e repousou sua mão sobre meu joelho, chamando minha atenção, eu não entendia por que eu não estava mais tão sensível como antes.

— Oi.

Olhei nos olhos dele, não respondendo seu cumprimento, apenas fiquei o olhando piscar devagar em minha direção, já fazia um tempo que eu tinha tanta conexão com ele, eu sentia falta, mas não fazia tanta questão, por um momento pensei que isso poderia ser um dos efeitos colaterais de ter Warren em minha cabeça.

— Como você está?
— Bem.
— Tem certeza mesmo? Você quase matou aquela menina.

Não olhei nos olhos dele dessa vez, a culpa me atingindo em cheio, mesmo sem querer, fiquei um tempo pensando no que dizer exatamente. Então ele suspirou fundo e tirou a ficha de Warren de meu colo, para desviar minha atenção apenas sobre ele.

— Você não era assim.
— Não. Olha, por favor. Não me culpe, não me coloque mais pressão do que já estou passando. Eu sei que mudei, mas... Lucke, você também mudaria se vivesse na minha pele.
— Eu não vou matar qualquer pessoa que eu ver pela frente para sustentar o luto pelo meu tio.

Aquilo foi como uma facada em meu peito. Eu tentei tanto controlar meus poderes e aquela sensação animalesca que ele me causa, mas era tão difícil que não fui capaz.  Lucke me olhava decepcionado, eu não sabia nem mesmo como mudar aquilo, e nem era o fim ainda, eu sentia que tudo não se passava de um teste para uma prova de verdade.

— Eu sei disso. Eu estou errada em muitas situações, mas deixa... Eu enfrentar isso sozinha, por favor, eu consigo.
— Mas o seu corpo não.

Foi então que Lucke virou minha atenção para meus braços, eles estavam novamente com aquela aparência craquelada, a pele se rasgando e virando uma cola que esticava, dessa vez subia para meu cotovelo. Ele olhou em direção ao meu pescoço e engoliu em seco, eu sabia que ali eu também tinha o problema da pele, via isso em seu olhar.

— Você está morrendo.

De repente uma névoa de dor se espalhou pelo meus olhos, eram lágrimas de arrependimento, lágrimas da decepção comigo mesma, por não aguentar mais segurar essa sensação avassaladora que invade meu peito a cada situação embaraçosa. Olhei nos olhos claros de meu amigo e, por Deus, o quanto que eu quis chorar, quase me vi caindo em seus braços e derretendo meus sentidos.

— Não Lucke, eu não estou morrendo. Eu, olha... Eu consigo, está bem? Eu sou forte...
— Não parece.
— Eu só estou passando por muitas batalhas.

Poderes De Outra Dimensão - 1ª Temporada (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora