Eu tinha dez anos naquela época, não faz muito tempo, eu sentia como se fosse ontem, os seis anos passaram tão rápido, me dando a sensação de que não importava quanto tempo passasse, eu jamais iria esquecer. Eu estava dormindo tranquilamente em minha cama, após uma noite agitada com a minha mãe, tínhamos dançado na sala de estar enquanto a sopa terminava de cozinhar, eu dormi assim que senti o líquido descer pela minha garganta, o cansaço havia me tomado completamente. Minha mãe e meu pai não estavam mais juntos, desde bebê, eu não sabia o que era ver os dois com carícias, os únicos encontros eram em reunião escolar ou quando eu ficava doente. Bom, a responsabilidade de não se envolver, mesmo com anos de história juntos.
Eu tinha ficado com a minha mãe, eu era muito mais apegada a ela, além da condição financeira ser mais fixa do que a de meu pai. Sabe aquele momento que seu corpo não se mexe, você está dormindo, mas consegue ouvir tudo ao seu redor? Eu estava assim, talvez era normal, porém aquele dia, eu senti uma coisa estranha, uma sensação ruim, não consegui me forçar a dormir, tinha uma dor muito forte no meu peito. Então foi quando eu ouvi, a porta da frente da casa abrir com força, batendo a maçaneta na parede, imaginei até mesmo soltando um pedaço da tinta, muitas coisas se passaram na minha cabeça, minha mãe tinha caído e se machucado? Batido a cabeça? Ou ela deixou a panela de pressão cair. Não, eu sabia que era outra coisa, estava tentando colocar uma desculpa sem sentido contra aquele som, tamanho o pavor que havia me consumido. Me levantei devagar, olhando ao redor, meu quarto estava no escuro, eu não gostava daquilo, já não bastava o barulho que eu tinha ouvido? Quando meus pés alcançou o piso gélido, senti como um choque por todo meu corpo, eu queria me encolher na cama e dormir até o dia seguinte, até por que eu tinha aulas de tarde, mas eu estava preocupada, mesmo sem saber que essa era a sensação de se preocupar, eu era tão nova. Meus cachos eram tão encaracolados, curtos no ombro, meus olhos pareciam escuros quando estava de costas para o sol, um verde escuro, conforme foi passando o tempo, começou a clarear mais ainda. Levei meus dedos para a barra de meu vestido e a apertei, era uma forma de me concentrar apenas naquilo, no tecido fino subindo conforme eu a trazia para mais perto de meu corpo.
Abri a porta devagar, mesmo sabendo que ela não fazia barulho, mas meus movimentos estavam lentos, como se eu já soubesse o que iria acontecer, atravessei o corredor devagar, passando meus dedos na parede lisa, agora eu podia ouvir a voz da minha mãe, soando baixo como em um sussurro, ela não queria me acordar, deve ter deixado algo cair e está tentando não fazer mais nenhum barulho, pensando no meu sono antes da aula de segunda feira. Conforme fui passando pelo corredor, ouvi um chiado, ela estava irritada, mas minha mãe nunca ficava assim, era raro ver ela nervosa.
- O que você quer de mim? - Ela perguntou, baixo o suficiente para eu afastar meus dedos da parede para a vibração de minha pele não atrapalhar minha audição. Segui até a cozinha um pouco receosa, eu não sabia o que iria encontrar ali, o que realmente tinha acontecido? - Eu tenho uma filha, ela depende de mim. - Franzi o cenho, dessa vez percebendo que a situação estava realmente complicada, tinha alguém na nossa casa, um intruso que queria nosso mal, eu sabia disso, eu sentia a energia negativa passando por mim, pelo corredor e seguindo até a outra porta da nossa casa, tomando conta de todo o ambiente.
- A questão é... E daí? - Consegui ver de relance, minha mãe se afastando da cozinha, ficando totalmente em minha vista, me escondi atrás da parede, a vendo tremer dos pés a cabeça, estava assustada, não... Ela não tinha medo de nada, ela me dizia isso, minha mãe não era medrosa, aquela tremedeira não era comum. Vi os lábios dela se abrir, como que quase gritando, mas não tinha voz, muito menos ar, seus olhos estavam arregalados e saía lágrimas dali, lágrimas lentas e grossas demais. Solucei, vendo o corpo de minha mãe se inclinar para trás, aquilo era assustador, eu não conseguia suportar ver aquilo, no entanto, com meu chiado medroso, ela me viu, me olhando de soslaio, percebi seu desespero começar a fluir de seu olhar, descendo pela língua e saindo em um ruído baixo. - O que disse? Ah, me desculpe. Esqueci que estou pressionando sua jugular. - Como isso poderia acontecer? Quem estava ali na cozinha? Como minha mãe estava sendo machucada se não havia ninguém encostando nela? Era tudo coisa da minha cabeça, só podia ser isso.
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Poderes De Outra Dimensão - 1ª Temporada (CONCLUÍDA)
Fiksi IlmiahO Colecionador de Corações que Transforma a Mocinha em Vilã. Olivia nunca acreditou no sobrenatural, mas era obcecada por seriados e casos que não haviam nenhuma explicação decente. Estava rolando uma notícia de um grupo de homens recrutando pessoa...