44 - Cara a Cara

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Correndo pelo corredor, eu só conseguia escutar gritos atrás de gritos, ruindo na minha cabeça como um grunhido que vinha de dentro de mim, doía imaginar o quê estava causando aquela dor. Virei a curva para o próximo corredor, quase escorregando e caindo em um óleo no chão, mas quando meus pés descalços tocaram naquele líquido grudento e quente... Eu percebi o quê realmente era. Sangue. Havia uma poça de sangue abaixo de mim, levantei o olhar atordoada de onde aquele sangue vinha, mas o choque que percorreu em meu corpo me fez sentir um arrependimento intenso, de ter ido até ali. Havia corpos caídos no chão, vários deles com o mesmo buraco no peito que me aterrorizava ver de perto, eu rezava para nunca ver isso de perto, ninguém quê eu conhecia ou amava, novamente, mas ali eu vi que nada iria mudar, nada iria acabar enquanto eu não derrotar Neity. Decidi andar no meio do corredor, olhando no rosto de cada vítima, eu escutava na minha mente, um pedido para que eu não encontrasse ninguém que eu amava, Sam, Julian, Jason, Lucke ou Tyler. Caminhando desesperadamente pelo corredor, no final, virando para a esquerda, tinha um corpo caído, os sapatos e a calça preta estavam sujos de sangue, por um momento pensei na possibilidade de não ser ele, mas sentindo esse medo dentro do meu peito, apenas tive uma sensação de que eu deveria correr até ele e o ajudar, o quanto antes. Então sem nem pensar na chance de escorrer com aquele sangue em meu pé, apenas comecei a correr, o gelo do vento com a minha velocidade atingia meu rosto me deixando atordoada.

— Sam... Sam! — Me joguei no chão enquanto escorregava, minhas mãos automaticamente alcançaram as pernas de Sam, subindo na direção de seu rosto, minha visão estava turva, apagada pela visão das lágrimas cobrindo minhas íris. Não era ele. Era outra pessoa. O gelo que antes queimava meu peito por pensar por um momento que era Sam, de repente se derreteu, transformando em um fogo que ardeu até mesmo minha garganta, eu quis gritar de raiva, Neity tinha de pagar pelas mortes que estava causando. Então apenas me levantei, com as mãos sujas de sangue, me apoiei em meus próprios joelhos e me ergui com a raiva nos olhos, caminhei pelo corredor sem olhar para os corpos que ficavam para trás, ainda assim, o sangue quente ardia meus pés, a sensação angustiante de que alguém poderia ser algum conhecido. Assim que cheguei ao final do corredor, olhei ao redor tentando sentir alguma intuição de onde entrar, havia três portas de salões, o refeitório, a quadra de lutas no tatame e o jardim a céu aberto. O jardim era a melhor opção, então apenas levantei minhas mãos e empurrei as portas para o fundo do salão, mas o que eu vi foi apenas os arbustos, árvores e as fontes que lançavam água suja de sangue, tudo estava tão feio e macabro. Olhei ao redor procurando por algum corpo, mas não havia ninguém, então me virei de costas para sair dali, porém acabei escutando uma respiração que me fez travar meu corpo, rapidamente me virei  a tempo de ver as cabeças das cobaias que se escondiam atrás de qualquer obstáculo alto e largo, todos me olhavam, viam meus joelhos, mãos e pés sujos de sangue, não pensavam que eu era a assassina, tinham visto o rosto de Neity, na verdade poderiam pensar que eu estava a caminho de matar ele ou que eu havia conseguido fugir. Olhando para todas as direções, encontrei um rosto familiar que me fez prender a respiração de alívio. Lucke.

— Olívia... — A forma como ele sussurrou meu nome me fez arquejar minhas costas, não pisquei nenhum segundo, eu estava com medo de acabar perdendo meu tempo de memoria com ele. Não mexi meu corpo, não reagi de forma alguma, quando o vi se levantar e correr em minha direção, sentir os passos dele pisando com força no piso apenas me deu um choque de realidade, meus joelhos falharam comigo, acabei caindo no chão assim que senti as mãos dele tocarem em meu rosto, fechei meus olhos com força me permitindo por alguns minutos, sentir o carinho de Lucke. — Você está bem? De quem é esse sangue? — Senti os dedos dele descer desesperadamente pelos meus braços, arranhando com suas unhas a minha pele, para sentir a intensidade da camada do sangue, mas não era meu, então ele não viu nada de ruim comigo, por mais que era o sangue de alguém que havia morrido, algo ainda pior. — Você está com a pele esticada, o quê está acontecendo? — Franzi o cenho e abri meus olhos, olhando na direção de meus braços, para onde Lucke arranhava com força dessa vez. Era como se eu estivesse passado clara de ovo em toda a minha pele, caminhei no sol de 40°C por duas horas e comecei a inchar meu corpo todo, então a clara de ovo ficou ressecada em minha pele e começava a rasgar a cada vez que tocava. Minha pele estava rasgando. Puxei meus braços das mãos de Lucke que me olhou intrigado e preocupado.

Poderes De Outra Dimensão - 1ª Temporada (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora