Aquele garoto na verdade se chamava Sam, bom, Samuel. Era a cara dele por sinal, aparentava ser uma pessoa boa, gentil e atenciosa. Eu ainda podia sentir a presença dos dedos em meu pescoço, não o toque em si, mas o poder, estava ondulando, a dormência acalmando lentamente os nervos. Funcionava como se estivesse acelerando o processo de regeneração das células, ele não me curou, apenas deu um empurrãozinho para meu próprio corpo que já estava trabalhando naquela região. Conforme ele cruzava as pernas e deixava os braços apoiados sobre ela, vi o exato momento em que os olhos dele brilharam para se falar.
— Eu descobri que consigo curar as pessoas, quando ajudei uma menininha que ralou o joelho ao cair de bicicleta. — Arqueei as sobrancelhas em resposta, então ele descobriu de forma simples, assim como eu, em pensar que em algum momento eu iria fazer alguma besteira. — Pra mim isso foi um milagre, imagine só? Conseguir curar as pessoas sem esforço algum?
— Mas tem suas desvantagens também? — Perguntei tombando meu rosto para o lado e o olhando com atenção, ansiosa para ouvir suas palavras.
— Alguns começam a desconfiar e se souberem do que sou capaz, vão tentar me matar ou terei de fazer muitos exames até acabar sobrevivendo apenas com tubos e máquinas de ar. — Eu não tinha pensado dessa forma, o mundo gosta de ter explicações para toda e qualquer situação, assim como quando o asteroide explodiu, mas a bomba veio a tona, quem teve a realidade da tormenta foi apenas pessoas que tinham um grande poder e se isso vazasse de forma ilegal, a mídia e a ciência iriam rir da cara da pessoa, como se nada disso fosse verdade. — A maior desvantagem seria se eu usasse uma grande parte do meu poder para curar uma pessoa que está entre a vida e a morte, ela acaba consumindo tudo, como uma esponja, até não restar nada. — Gelei. Fiquei olhando nos olhos de Sam por longos segundos, sem saber o que dizer, a única coisa que se passava pela minha cabeça era que ele poderia morrer por ajudar alguém, seria injustiça, certo?
— Isso é... Aterrorizante. — Sam assentiu em um movimento de cabeça, mas riu baixinho e voltou seu olhar em minha direção, assim como eu. — Mas você não vai fazer isso, se sabe do perigo que o ronda.
— Eu seria egoísta, mas é minha única opção, deixar alguém morrer. Soa como alguém insensível. — Acabei soltando uma risada nasal, nem mesmo consegui controlar, afinal de contas, para ele não era algo tão ruim assim. Ele só sabia que não podia fazer e não precisava arriscar, sabendo que existia tantos hospitais por aí. — Me conta, você é cobaia também, até então a última. Qual seu poder? — Soltei o ar pela boca, sem nem saber por onde começar a explicação, ele veria aquilo como algo ruim?
— Eu posso manipular mentes. — Fui rápida e simples, nem mesmo gaguejei, no entanto não consegui olhar nos olhos dele, principalmente quando ele não disse nada, apenas ficou me encarando, esperando que eu continuasse. — Descobri quando eu fiz um cara rico e metido, derramar sorvete na própria cabeça por me tratar como uma pobre mendiga. — Sam desviou o olhar a tempo de começar a rir, sua risada explodindo em bolhas de ar invisíveis. Arqueei as sobrancelhas e o olhei de soslaio, ele parecia não estar acreditando em mim, revirei os olhos com força, então sem qualquer aviso, apenas levei meus dedos até o queixo dele e o puxei em minha direção. Sam retraiu em um susto crescente, o corpo reagindo em um puro choque, mas nem mesmo demonstrou medo, apenas estava curioso sobre minha real intenção. Meu olhar estreitou diante ao dele, foquei completamente nas pupilas que cresciam conforme ele mudava a direção do olhar do escuro para o claro do salão, as íris cristalinas pareciam se mexer como água borbulhando, o mar, parecia o mar. Senti como se minha pupila estivesse ardendo conforme ampliava o poder, foi então que eu senti, como um calor atrair meu sangue, uma chama ardente nas minhas veias. — Você acredita em mim? — Sam piscou lentamente enquanto ouvia minhas palavras, era como se minha voz tivesse afinado, um agudo melodioso, no entanto ele não desviava o olhar do meu, até eu piscar também, como se tivesse cortado o efeito, rapidamente ele fez um movimento brusco, se afastando de mim o suficiente para eu não conseguir mais segurar seu queixo, ele se levantou e passou os dedos nos braços a mostra, como se os pelos estivessem eriçados por conta da sensação de se prender a um único olhar, quando ele conseguiu se acalmar, virou em minha direção e apontou o dedo para meu rosto.
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Poderes De Outra Dimensão - 1ª Temporada (CONCLUÍDA)
Ficção CientíficaO Colecionador de Corações que Transforma a Mocinha em Vilã. Olivia nunca acreditou no sobrenatural, mas era obcecada por seriados e casos que não haviam nenhuma explicação decente. Estava rolando uma notícia de um grupo de homens recrutando pessoa...