Lena
— Você fez o que?! — perguntou achando que tinha ouvido errado.
— Eu contei pra Lara sobre você. Contei no domingo assim que cheguei com ela da casa da minha mãe.
— Você tá brincando comigo?
— Não. Não. Eu falei mesmo quem é você. Por isso, eu fiquei perguntando quando você iria voltar e a que horas porque eu queria te contar pessoalmente o mais rápido possível.
— Você tá brincando comigo?
Sua expressão não negava que estava difícil de acreditar naquilo. Havia esperado semanas para ouvir Kara dizendo que Lara sabia da sua existência e agora que estava ouvindo parecia ser algo distante da realidade.
Será que dormiu no avião e estava sonhando com aquela cena?
— Não, Lena.
— Isso é um sonho? Eu devo estar sonhando.
— Você não está sonhando — se aproximou segurando suas duas mãos que estavam frias. — Está sentindo eu segurar a sua mão? Isso não é um sonho, eu falei mesmo com ela.
Abriu e fechou a boca procurando palavras. — Você falou com a Lara.
— Falei. Agora ela sabe que tem outra mãe.
— Ai, meu Deus! — arregalou os olhos. — Você falou de mim pra Lara.
Kara riu. — Falei, Lena. Eu falei.
— Eu...
Não conseguiu terminar de falar, pois o choro veio como um tsunami. Não era um choro de tristeza, era de felicidade pelo que estava acontecendo.
Finalmente, iria poder abraçar sua filha como desejava desde o dia que soube que ela estava viva. Poderia abraçá-la, decorar cada detalhe de seu rosto, saber seus sonhos, desejos, vontades e não porque Kara a estava contando, mas porque poderia ser presente na vida de Lara. Finalmente, iria ser a mãe que a impediram de ser quando a separaram de sua menina.
— Nã-não chora — pediu segurando seu rosto e limpando as lágrimas. — Te contei isso pra te deixar feliz, não pra te ver chorando.
— Eu estou chorando de alegria — encontrou os olhos azuis. — Você não sabe a felicidade que está me dando. Eu esperei muito tempo por isso.
Sem pensar demais, a puxou para um abraço. — Desculpa demorar tanto. Não foi fácil pra mim, mas... eu sei que fiz o certo e acho que podemos fazer isso juntas, certo? Podemos aprender a lidar com isso juntas.
— Eu com certeza estou sonhando.
— Não está, não — a apertou um pouco mais, começando a deslizar a mão nas suas costas. — Isso é bem real.
— O que a Lara disse? — fungou.
— Que ela teria duas mães como a Ruby tem, e que esperava que você gostasse de assistir Toy Story e sorvete de chocolate.
Acabou rindo. — Ela disse isso mesmo?
— Disse.
— Como conseguiu fazer ela aceitar isso? O que disse a ela? — afastou a cabeça do peito de Kara para a olhar.
— Eu disse que ela sempre soube que não nasceu de mim, não foi difícil fazê-la entender. Eu só tive que ser cuidadosa nas minhas palavras. E o que eu disse a ela sobre você, eu vou deixar pra ela te contar quando vocês se virem a primeira vez.
— Eu vou poder ver ela mesmo? Você vai me deixar abraçá-la?
— Vou. Eu sei que ela ainda vai me fazer um monte de perguntas sobre você, ela é uma garotinha bem curiosa. Talvez ela fique meio acanhada, mas eu sei que ela não vai te rejeitar.
— Tem certeza disso?
— Absoluta — afirmou também com a cabeça.
— Quando posso vê-la?
Não queria atropelar as coisas, mas não dava para conter a ansiedade.
— Bom, de sábado pra domingo, eu vou fazer um plantão noturno. No domingo, eu a pego na casa da minha mãe e podemos ir naquele restaurante que te levei a primeira vez pra almoçar e...
— Perfeito! Adorei!
— Eu não terminei a minha ideia.
— Desculpa. Pode falar — apertou os lábios.
— Depois do almoço, podemos ir pra minha casa e você fica o dia com a gente. Acho que seria um bom começo pra sua relação com ela.
— Eu posso levar um presente pra ela? Ou podemos ir numa loja de brinquedos e ela escolhe o que quiser.
Soltou um risada anasalada pela afobação de Lena. — Do jeito que você está, capaz de comprar a loja de brinquedos pra ela.
— Eu posso fazer isso. Acha que ela vai gostar se eu fizer?
Dessa vez, riu alto. — Não vou deixar você comprar uma loja de brinquedos pra ela, mas pode levar um presente se quiser. Embora isso não seja a coisa mais importante.
— Mas eu quero dar algo a ela. Me ajuda a escolher. Quero que ela goste de mim.
— Lena, é impossível não gostar de você.
— Você não gostou de mim quando me viu. E se acontecer o mesmo?
— Eu gosto de você agora. E gosto muito. Eu conheço a Lara, ela vai gostar de você tanto quanto eu — levou a mão mais uma vez ao rosto de Lena para limpar mais lágrimas que desciam. — E não precisa dar um presente pra ela gostar de você.
— Mas eu nunca a dei nada, quero fazer isso agora que posso. Me ajuda a escolher algo que ela goste.
— A gente escolhe algo.
Sorrindo, se afastou bruscamente do abraço pegando na mão de Kara e a puxando. — Então vamos. Quero escolher a melhor coisa que eu puder dar a ela.
— Lena — continuou imóvel no lugar e isso fez a morena parar —, eu não posso sair agora.
— Pode, sim. Eu mando aqui agora. Você pode sair a hora que eu quiser. Eu digo o que pode ou não pode aqui.
Podia até parecer brincadeira o que tinha acabado de dizer — e pelo jeito Kara levou isso na brincadeira já que começou a rir — mas estava falando sério. Se para encontrar o presente perfeito para Lara, tivesse que fazer Kara sair do trabalho, assim faria.
— Lena — se aproximou —, entendo a sua ansiedade e euforia, no seu lugar, eu estaria exatamente assim, mas não posso deixar meu trabalho pra fazer isso.
— E o presente?
— Nós vamos atrás do presente. Podemos ir na hora do almoço, ou quando eu sair do trabalho, ou sábado antes de eu vim para o trabalho. Só que agora, eu não posso.
— Tudo bem — falou em um suspiro um pouco decepcionado.
— Não fique chateada.
— Não estou.
Estava, sim. Não achava que Kara se negaria.
— Eu tenho que voltar pra emergência antes comecem a me procurar. No almoço a gente fala mais sobre isso. Tudo bem? — como resposta, teve um balançar de cabeça. — Lena, não fique chateada comigo.
— Não estou — repetiu. — Pode ir pra emergência. Eu entendo o que você está dizendo.
Nunca foi do seu feitio ficar emburrada por coisas simples. Sabia que Kara não estava errada em dizer que não podia deixar sua obrigações para ir com ela, até porque, teriam alguns dias até o almoço e teriam tempo para escolher o presente. O problema é que não queria ter ouvido um “não” de Kara. Assim como não conseguia dizer “não” a ela, gostaria a loira fosse assim também.
Kara ainda segurava a sua mão e fazia pequenos círculos no dorso com o polegar. Conseguia sentir o olhar dela sobre si, mas já não a olhava mais. Não sabia o que Kara pensava naquele momento e nem se estava a achando sua atitude infantil, mas não dava pra evitar, estava chateada e não conseguia esconder seu desapontamento.
Ainda imóvel olhando sem foco para lugar algum, percebeu a aproximação de Kara. Ela levou a mão livre até sua cabeça a puxando levemente contra si e então deixou um beijo na sua têmpora, isso a fez fechar os olhos e apenas aproveitar o singelo beijo que recebia.
Estava errado ter gostado tanto daquilo?
Não havia uma coisa afetuosa que Kara fazia que não gostasse, e esperava que ela pegasse em sua mão, abraçasse e fizesse o que tinha acabado de fazer sempre.
— Vamos escolher o presente agora. Se isso vai fazer você feliz, eu vou com você — disse baixinho próximo de seu ouvido.
— Você está certa, não pode deixar o trabalho assim — secou as últimas lágrimas com as costas das mãos.
— Se ainda quiser ir, eu vou. Não consigo mensurar como está ansiosa pra fazer por Lara tudo o que não te deixaram fazer, pois eu sempre tive esse privilégio. Se quiser deixar tudo agora e ir, eu vou.
— Vai mesmo? — virou o rosto e acabou se assustando com a proximidade de seus rostos.
— Vou estar com você onde você quiser que eu esteja. Fico feliz que a primeira coisa que fez foi me incluir na busca pelo presente que quer dar a ela.
— Você está me dando a maior alegria da minha vida, como não te incluiria?
— E, independente que como ela chegou até mim, se eu tenho a Lara é por sua causa, como negar ir com você?
Se Kara tivesse super audição, provavelmente teria ouvido o quanto seu coração batia parecido com um bumbo.
— Quer ir mesmo comigo?
— Quero. Só preciso falar com a diretora Grant.
— Eu sou a chefe da sua chefe, eu falo com ela.
— Tudo bem. Vou pegar minhas coisas e te espero na entrada.
Sabe aqueles momentos da vida que você age no calor do momento, da emoção e nem mesmo entende o motivo? Foi o que fez quando Kara sorriu de jeito contido, mas ao mesmo tempo doce. Se inclinando um pouco, deixou um beijo em sua bochecha. Quando a olhou de novo, ela estava com face vermelha e sem jeito.
— Te vejo em dez minutos.
Afastando lentamente, só soltou a mão de Kara quando a distância já não permitia suas mãos estarem juntas.
Não foi difícil convencer Cat Grant a liberar uma de suas melhores médicas. Não explicou o motivo, mas disse que precisava fazer uma coisa e que Kara teria que estar junto. Obviamente, a diretora não a deu uma resposta negativa.
Em exatamente dez minutos, já estava chegando perto de Kara onde combinaram.
— Podemos ir? — Kara perguntou a encontrando no caminho.
— Podemos!
— Vamos no meu carro. Vou te levar ao shopping, se não acharmos nada por lá, vamos em outros lugares. Na volta, eu te deixo aqui pra você pegar o seu carro. Pode ser?
— Claro!
Elas seguiram tranquilamente pelo estacionamento.
Assim como das outras vezes, Kara abriu a porta para ela entrar.
— Madame — fez uma reverência.
Inevitavelmente, riu daquilo. — Você às vezes é bem boba, sabia?
— Eu querendo ver você sorrindo, e você me retribui assim? Desse jeito você me magoa, Lena.
— Estou feliz. Muito feliz. Acho que nunca me senti assim antes. Chega dá um medo de que tudo acabe e essa felicidade escape pelas minhas mãos.
— Nada vai acabar. E, no que depender de mim, você sempre estará feliz. Ou ao menos a maior parte do tempo.
— Promete?
— Prometo — esticou o dedo mindinho. — Essa não pode ser quebrada.
Rolando os olhos, enlaçou seu dedo ao dela. — Às vezes você faz eu me sentir uma jovenzinha boba.
— Jovenzinha boba?
— Aquela cheia de sonhos, que acha que conquistará o mundo e que nem faz ideia de como a vida pode te pregar algumas peças. Perto de você, me sinto assim.
— Isso é bom ou ruim? — suas sobrancelhas quase juntaram.
— Bom. Extremamente bom.
— Gostei de saber que te faço sentir assim. Espero fazer sempre. Agora entre no carro, minha jovenzinha boba, pois temos que encontrar um presente para a Lara.
— Quer mesmo ir? — quis se certificar mais uma vez.
— É o que eu mais quero hoje.
Olhando pela janela do carro enquanto faziam o caminho até o shopping, se deu conta que nesse dia há um mês atrás, tinha aparecido na porta de Kara na esperança de ser ouvida — o que não aconteceu naquele dia. Vendo como agiam uma com outra agora, até parecia que aquele primeiro encontro desastroso fazia muito mais tempo.
Nunca tinha acontecido na sua vida se dar tão bem com alguém em tão pouco tempo, pois nunca dava muito abertura para as pessoas se aproximarem. Isso foi um pouco mais intensificado quando se abriu para o que deveria ser pai da sua filha e ele quebrou seu coração. Como se já não bastasse isso, seu próprio pai — quem deveria ajudá-la a se recuperar da tristeza que a causaram — a despedaçou por completo. No fim, as únicas pessoas que realmente confiava eram Lex e sua mãe.
Toda vez que se dava conta como agia com Kara, se sentia bem por poder confiar nela e poder ser quem realmente era, ao mesmo tempo tudo ter acontecido tão rápido a assustava. Ainda assim, a cada segundo ao lado da loira, mostrava uma pequena parte sua, essa parte podia ser a mais alegre, a mais vulnerável, a mais triste, a mais amorosa, a mais carinhosa ou a jovenzinha boba. Tirando Lex e sua mãe, Kara tinha visto cada um de seus lados e, até então, tinha aceitado todos.
— No que está pensando?
Tirou sua atenção da paisagem para olhar Kara. — Hoje faz exatamente um mês que nos vimos a primeira vez.
— Passou rápido, não? — a olhou por alguns segundos.
— Bem rápido.
— Eu já fui perdoada pelo que te causei?
— Se não tivesse sido, acho que não estaríamos indo fazer o que vamos fazer.
— Nunca imaginei ir comprar um presente pra Lara com alguém. Sempre que quis dar algo a ela, ou ela estava comigo, ou fiz sozinha.
— Você pode até não precisar de ninguém pra fazer isso, mas eu preciso de você — seus olhares se cruzaram quando Kara a fitou quando o farol fechou. — Eu preciso de você pra ser uma boa mãe pra ela. A mãe que ela merece. Então espero que queira isso comigo, porque, por mais eu tenha esperado por isso, não sei por onde começar.
— Você está pedindo pra eu formar uma família com você, senhorita Luthor? — a provocou.
— Kara! — choramingou por ela levar aquilo na brincadeira.
Começou a rir. — Eu entendi o que quis dizer, mas não dá pra perder uma oportunidade de te provocar. Toda vez que eu faço isso, você joga a cabeça para trás e diz “Kara!” de um jeito bem engraçado e muito, muito fofo.
— Então me acha fofa?
— Só vou confessar, se você confessar que fico fofa com esses óculos. Eu os coloco só pra ouvir você me dizendo isso sóbria e você nunca diz.
— Por minha causa você vem usando óculos?
— Talvez — deu ombros. — Não vou confessar que enquanto eu pegava as minhas coisas, tirei minhas lentes e coloquei eles por sua causa. Mas se quiser achar isso...
— Você é inacreditável.
— Então... Eu sou fofa com eles ou vai culpar o álcool?
Poderia dizer o que achava, mas era tão mais legal do jeito que as coisas estavam indo que não queria estragar aqueles momentos revelando o que Kara queria tanto ouvir.
— Se eu não lembro, eu não fiz.
— Um dia, eu te faço confessar isso.
— Isso nunca vai acontecer.
— Primeiro, nunca diga nunca. Segundo, eu tenho meus métodos de fazer você falar. Terceiro, o álcool entra a verdade sai. Se me disse bêbada, é porque achou isso sóbria. Quarto, vamos escolher o presente da Lara e depois vou te levar pra comer. Aposto que não deve ter comido nada hoje.
— Eu comi, sim — tirou o cinto quando Kara parou o carro no estacionamento do shopping.
— Comeu o que?
— Uma bala mastigável.
— Inacreditável, Lena Luthor. Se não sou eu pra zelar por sua saúde, você fica doente. Eu deveria era ter pego o telefone da sua mãe e de seu irmão pra saber se você se alimentou direito quando estava longe das minhas vistas.
— Tão atenciosa.
— Não gostei da sua ironia.
Riram por pouquíssimos segundos e quando pararam, ficaram em silêncio.
— Ela vai gostar de mim, não vai?
— Vai — respondeu com toda certeza.
— Se no dia eu ficar nervosa demais, você vai me ajudar, não vai?
— Com certeza, eu vou.
— Você sabe que eu não quero tomar o seu lugar, não sabe? Você acredita que nunca quis isso? Acredita que eu jamais te faria passar pelo que me fizeram passar? — a fitou com apreensão.
Poucos dias atrás, depois do almoço foram dar uma volta numa praça que tinha perto do hospital. Ao se sentarem para aproveitar o tempo morno e o dia ensolarado, Kara a revelou seus mais profundos medos sobre o assunto que tinham que resolver. Não podia julgá-la, pois no lugar dela se sentiria da mesma forma.
Esperando uma resposta, Kara pegou a sua mão a colocando por cima da sua. Em seguida, entrelaçou seus dedos.
— E-eu... — ajeitou seus óculos. — Naquele dia que almoçamos juntas a primeira vez, eu conversei com a Sam. Naquele dia, eu falei o quanto eu estava mexida com tudo isso. Ela me disse que eu estava fazendo o certo em me aproximar de você e querer te conhecer. Alex, Gayle e minha mãe acabaram me dizendo a mesma coisa depois. Até sexta passada, eu tinha um certo receio sobre falar com a Lara ou não. Então lembrei que Sam me disse que quando a hora certa chegasse, eu saberia.
— E como você soube?
— Quando eu te abracei antes de você ir embora. Ali eu soube que eu podia acreditar em tudo isso que você acabou de dizer.
Os cantos de seus lábios se curvaram minimamente. — Soube em um abraço?
— Soube — confirmou. — E também soube que quero continuar te abraçando. Então respondendo a sua pergunta. Eu acredito em você, Lena Luthor.
******
Achei que não conseguiria atualizar hoje e cá estou eu.
O capítulo está menor do que costumo fazer, mas foi o que consegui escrever pra não deixar vocês sem nada hoje.
Espero que estejam curtindo a história.
:)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Come A Little Closer
Fanfiction[Concluída] Kara Danvers é uma médica que leva uma vida bastante sossegada numa cidade litorânea na Carolina do Norte. Sua vida começa a mudar quando ela encontra um bebê abandonado na sua porta. Um tempo depois, uma nova reviravolta acontece quando...