Capítulo 24

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Lena

 

Ouvir aquelas palavras saídas da boca de Kara fez seu coração se remexer dentro do peito em pura alegria. Estava esperando tanto por aquilo que era até difícil acreditar que era real o que estava acontecendo e não um fruto de sua imaginação.
 
— O que disse? — perguntou com as pontas dos lábios se curvando.
 
— Que eu estou apaixonada por você — saiu do elevador se colocando a sua frente. — Eu não sei dizer quando isso aconteceu.  Foi em algum momento entre aquele dia que te encontrei chorando e... Sei lá. Só sei que aconteceu e eu tentei manter isso no fundo do peito por que eu não queria estragar nada entre nós, mas quando eu acordei do seu lado na quinta de manhã, eu soube que não conseguiria mais manter isso guardado. Essa noite, eu tinha um plano pra te dizer tudo isso e desisti porque a mínima possibilidade de você ter algo com aquela tal de Helena, me fez acovardar a princípio. Desde que percebi que você mexe com as minhas estruturas, com a minha cabeça e, principalmente, com o meu coração, esse pensamento sobre você já ter alguém em sua vida invade a minha mente e me sinto estúpida demais pra falar alguma coisa sobre isso. Mas hoje, e-eu não consigo mais esconder. Eu não quero esconder. Independentemente se você já tiver alguém com quem compartilha a vida, eu só queria que soubesse como me sinto antes que eu desistisse de dizer o que devo mais uma vez.
 
— Você acha que eu tenho algo com Helena?
 
— Não sei — deu ombros. — Sei que ver vocês chegarem juntas me incomodou. Toda vez que eu te procurava com o olhar naquele salão, lá estava ela ao seu lado sorrindo. Vo-vocês ficam bonitas juntas e... Porque você não iria querer estar com ela?
 
Por mais que estivesse feliz com o fato de Kara dizer com todas as letras os seus sentimentos, ao mesmo tempo se sentiu mal por causar nela uma confusão desnecessária. O fato dela achar que existia alguém em sua vida explicava muito sobre ela não parecer entender que estava tentando há alguns dias demonstrar o que sentia por ela em suas ações do dia a dia.
 
Depois que acordou nos braços de Kara e ficaram por alguns instantes abraçadas até que a loira deixou um beijo demorado e carinhoso em sua testa para logo dizer que iria preparar o café da manhã, percebeu que deveria tomar coragem para ser sincera com ela, pois queria acordar mais manhãs ao lado dela. No entanto, nada saiu como o seu script.
 
— Kara, eu estava de saída pra...
 
— Eu percebi e me desculpa te atrapalhar, eu só queria dizer isso, mas já estou indo embora — ameaçou se aproximar do botão para chamar o elevador.
 
— O que acha que está fazendo? — a impediu de fazer o que pretendia ao pegar em sua mão.
 
— Eu só vim aqui te dizer essas coisas. Não precisa se preocupar, nada vai mudar.
 
— As coisas já mudaram, Kara.
 
— E-eu... — nervosamente ajeitou os óculos com a mão livre. — Esquece tudo isso. Eu não deveria ter feito nada disso. Acho que os drinks a mais que eu tomei me fizeram não pensar direito.
 
Estava perceptível o nervosismo em Kara. Ela estava ficando com as bochechas vermelhas, estava falando rápido e gaguejando.
 
Observando como ela parecia incerta sobre aquele momento e sobre tudo o que disse, entrelaçou seus dedos ao dela e a levou em silêncio para dentro de seu apartamento, e em nenhum momento Kara hesitou em segui-la. Precisava dizer algumas coisas a ela e não queria fazer aquilo no meio do corredor de seu prédio. Além disso, ela estava completamente molhada por causa da chuva que caia forte nas ruas Wrigthsville e não iria deixá-la daquela maneira por muito mais tempo.
 
— Porque me trouxe aqui?  – perguntou assim que passaram pela porta. — Eu não quero atrapalhar seus planos, Lena.
 
— Kara, meu único plano nessa noite era você. É você.
 
Assim que se virou para olhá-la — a achando extremamente linda — a viu franzir o nariz.
 
— Eu acho que não entendi.
 
Segurou seu rosto para a olhar nos olhos. — Faz um tempo que eu sei sobre seus sentimentos por mim.
 
— Como soube disso? Eu mesma não sabia até pouco tempo atrás. Alguém te contou? Foi a Gayle, não foi? Miserável! Ela me paga — murmurou.
 
— Não foi Gayle.
 
— Não?
 
— Não.
 
— Foi a Sam? A Alex? Não acredito que elas fizeram isso — disse indignada. — Ou foi a Imra? A Gayle deve ter dito alguma coisa pra ela, e ela deve ter te contado. Eu vou fazer aquelas duas irem parar na emergência por me exporem assim. Não era pra ser assim. Essa noite não era pra ser assim. Eu deveria te levar pra casa, ficaríamos o resto da noite com a nossa filha até ela dormir e depois eu te diria tudo, mas não desse jeito tão impulsivo, de um jeito calmo, do jeito que você merece saber disso. Foi isso que planejei pra essa noite, agora tudo deu errado e sinto que estou estragando tudo.
 
Enquanto Kara externava sua raiva pelas coisas que sua própria imaginação criou, foi tirando de seu rosto os fios dourados que agora tinham uma cor mais escura do que costumavam a ter.
 
— Kara, foi você mesma que disse isso.
 
Arregalou os olhos. — Eu disse? Eu disse dormindo? Eu não falo dormindo. Eu disse enquanto dormia?
 
— Você estava bem acordada quando disse.
 
— Acho que bebi demais mesmo, não estou entendendo nada — sorriu nervosamente. — Se eu não estava dormindo, não foi a Alex, Sam, Gayle ou Imra que te falaram algo, como sabia disso? Quer dizer, quando eu disse isso?
 
— Quando eu te liguei da festa de noivado do meu irmão pra falar com a Lara. Depois que ela dormiu, nós estávamos nos despedindo e você disse que precisava me contar que estava apaixonada por mim. Você deve ter achado que eu tinha desligado a chamada, mas eu não tinha feito isso ainda. Suas palavras naquela noite, mais o pedido de Lara no dia seguinte, me fizeram correr em baixo de chuva pra ir até vocês porque você duas são importantes demais pra mim e eu já não aguentava mais ficar longe de vocês.
 
Por mais que não conhecesse Kara a um longo tempo, vinha reparando o suficiente nela para saber que ainda continuava confusa com toda aquela conversa.
 
— E-eu ainda não estou entendendo. Se sabia disso, porque não disse nada?
 
— Medo. Estava com medo de ter imaginado aquelas palavras, então decidi guardar isso pra mim. E você sabe que em certas coisas eu tenho uma dificuldade imensa de encarar. Muitas coisas que tenho encarado por ter você junto a mim. Eu até venho tentando demonstrar que eu te correspondia nas minhas atitudes, mas acho que assim como eu, você também precisa de palavras certeiras. Eu sabia que alguma coisa tinha te incomodado naquela festa e antes de você aparecer toda molhada na minha frente, eu estava de saída porque estava indo atrás de você.
 
— Atrás de mim?
 
— É. Tirando a Lara, você é a única pessoa por quem eu correria de baixo dessa chuva pela segunda vez.
 
Um sorriso começou a nascer em seu rosto. — Isso é sério? Você estava indo atrás de mim mesmo?
 
— Estava — balançou a cabeça. — Kara, eu não tenho nada com ninguém e muito menos com Helena, porque eu só quero você. Você é a primeira pessoa por quem eu me interesso em muito tempo. E todo o seu jeito doce, amigável, sincero e preocupado conquistou meu coração  de uma maneira que ninguém nunca conquistou antes.
 
— Eu?
 
— É. Você. Eu te chamei para ir naquele evento hoje, pois queria estar com você. Eu também tinha um plano, e nele eu passava grande parte da noite ao seu lado, mas tudo saiu de controle porque Cat ficou me puxando de um lado para o outro, assim como Helena. Você era o meu par nessa noite, me desculpa por não ter deixado isso claro desde o momento que te convidei. Eu deveria ter sido mais específica e não deveria ter deixado tão confusa assim. Uma pessoa confusa, confunde outra pessoa e me sinto mal por ter feito isso com você. Você não merecia e nem merece a minha confusão. É por estar pensando nisso desde quinta que eu tinha decidido que depois da festa, eu iria sugerir de ficarmos com a nossa filha até ela dormir e então eu diria a verdade a você.
 
— Você pensou mesmo isso? Pensou o mesmo que eu?
 
Assentiu sorrindo. — Pensei. Eu só queria deixar passar essa festa porque eu estava me sentindo sobrecarregada em fazer tudo isso sozinha, sendo que nunca fiz. Só que você foi mais rápida que eu na questão de se abrir sobre o sentimos.
 
— E Helena é o que sua? Vocês pareciam próximas.
 
— Nós nos conhecemos desde a adolescência. E ela é a pessoa que Lex mandou para representar a Luthor-Corp no lugar dele. Eu comentei com você que isso aconteceria. Na minha ausência e na dele, ela que assume parte das responsabilidades. Como Lex está deixando alguma coisas de lado por causa da noiva dele e do bebê que eles esperam, ela tem assumido muitas coisas — explicou calmamente.
 
— Ah! Isso explica algumas coisas.
 
— Eu quero que saiba, que depois de ter dormido e acordado ao seu lado, eu também percebi que não podia mais esconder o que sinto por você. Eu também não queria agir por impulso ao te revelar tudo isso.
 
— O que você sente por mim? — perguntou com certa inocência.
 
Kara parecia estar aliviada, animada e também desacreditada de tudo aquilo. Embora nada do que tinha pensado tenha dado certo, estava ali diante dela com seu rosto entre suas mãos, então faria aquele momento valer a pena, pois Kara era a pessoa quem iria enfrentar um medo só pra tê-la ao seu lado. Já tinha perdido tempo demais sendo consumida pelas sombras do passado e queria se livrar de todas elas. Ser verdadeira com Kara e mostrar o quando a queria, era mais um passo em direção a cicatrização de suas próprias feridas.
 
— Eu também estou apaixonada por você. Isso aconteceu em algum momento entre aquele dia que você me abraçou enquanto eu chorava e todos os outros inúmeros momentos que tivemos juntas desde aquele dia.
 
— Você sente por mim o que sinto por você?
 
— Sinto — inclinando um pouco rosto deixou um beijo do lado direito de seu pescoço. — Me desculpa não ter tido coragem de dizer antes.
 
— E-eu desculpo.
 
— Me desculpa se te fiz achar que tinha alguém e esse alguém era Helena — beijou seu pescoço do lado esquerdo onde sabia que ela gostava e deu um leve sorriso notando sua reação contida.
 
— Tá desculpada — fechou lentamente os olhos.
 
— Me desculpa não ter deixado claro que hoje você era o meu par naquela festa — beijou seu queixo.
 
— De-desculpo sim — sua voz saiu entre cortada.
 
— E me desculpa por nunca ter admitido que você fica fofa de óculos — deixou um casto beijo no cantos de lábios. — Adoro te ver com eles.
 
— Desculpo. Desculpo. Desculpo qualquer coisa.
 
Se afastou minimamente para olhá-la a tempo de vê-la abrir os olhos que estavam tão azuis quanto um céu limpo de verão.
 
— Eu estou perdidamente, completamente e absolutamente apaixonada por você, Kara. Eu quero estar com você.
 
— Quer?
 
— Quero. Quero muito estar com você. Eu quero você.
 
Sorrindo, Kara se aproximou mais seus rostos. Sutilmente, beijou a ponta de seu nariz a fazendo rir. Depois beijou sua mandíbula do lado direito fazendo caminho até o queixo e então repetiu a mesma coisa do lado esquerdo.

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