Capítulo 15

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Kara

 


Alguns dias se passaram desde o encontro de Lara e Lena. Podia dizer com todas as letras que aquele acontecimento foi um divisor de águas em sua vida.
 
Por ter deixado Lena se aproximar de Lara, consequentemente se aproximou mais dela, pois estavam sempre juntas com a filha e quando não estavam garotinha, permaneciam almoçando quase todos os dias juntas e conversando pelo hospital sempre que podiam.
 
Percebendo que estava gostando cada vez de ter Lena em sua vida, ficava tentada a perguntar se ela tinha alguém a esperando em National City, até porque isso também envolveria Lara, mas era só chegar perto da morena que perdia a coragem.
 
Outra coisa que era perceptível, era o quanto Lara se apegou a sua mãe. Seus olhinhos chegam brilhavam quando Lena estava por perto.
 
Depois do primeiro encontro, quando já tinha ficado claro que Lara havia gostado muito de Lena, chegou até comentar com Samantha que tinha medo de ser deixada de lado ou que um ciúmes bobo da filha surgisse, pois antes eram só as duas. Sam disse que se acontecesse não seria incomum, mas que logo saberia lidar com a situação se visse o quanto Lena fazia bem a Lara.
 
Quando Lena e Lara estiveram juntas de novo — Isso foi dois dias depois daquele almoço — ver as duas conversando enquanto estavam deitadas de bruços no tapete do quarto da garotinha pintando alguns desenhos, sentiu uma sensação incomum a dominar. Não era nado ligado a raiva, ciúmes, medo ou estava se sentindo ameaçada pela presença de Lena, era algo quase como a explicação de Lara para florzinhas no coração.
 
Se dar conta das florzinhas no coração, a fez pensar na perguntada Lara e se, especificamente, Lena a fazia sentir isso ou se apenas gostava dela junto com filha porque a garotinha ficava feliz. Dias se passaram e ainda não tinha encontrado uma resposta pra isso e muito menos conversado com alguém sobre seus questionamentos. A única certeza que tinha é que quanto mais perto ficava da morena, mais queria ficar.
 
Descendo do carro no estacionamento do hospital, pegou uma sacolinha de papel e um suporte de copos com dois cafés. Antes que pudesse se afastar do veículo depois de trancá-lo, viu Alex se aproximando.
 
— Que maravilha! Lembrou de trazer café pra mim?
 
— Não é pra você.
 
— Claro que não é — disse de um jeito debochado caminhando ao lado da irmã. — Sabe, você era mais minha irmã antes de toda essa coisa de Lena. Você trazia café pra mim, ia na minha casa conversar, aparecia aos domingos na casa da mamãe e agora tudo no seu mundo gira em torno da mulher que você dizia odiar.
 
— Eu não a odiava, odiava a situação em que estávamos. Ela não me disse quem a separou de Lara e disse que que ela estava morta, não sei nem se ela sabe quem fez, na verdade. Só sei que eu deveria ter ficado desde o começo com raiva dessa pessoa, não dela.
 
— Não tem mais medo que ela tome Lara de você?
 
Suspirou. — Ela é uma pessoa maravilhosa demais pra isso.
 
— Você gosta dela, não gosta? E não estou dizendo como a outra mãe da sua filha, amiga ou qualquer outra coisa, estou dizendo como mulher.
 
Queria continuar mantendo esse assunto só pra si, mas talvez fosse bom desabafar para que pudesse se compreender melhor.
 
— Não sei — foi sincera. — E... mesmo se gostasse, primeiro que eu não quero estragar as coisas. Estamos nos dando bem, ela está se dando bem com a Lara e a Lara com ela. Não quero estragar isso que é recente e ainda pode estar frágil o suficiente pra se quebrar com qualquer besteira vinda de mim. Segundo, ela deve ter alguém. Então... Vamos deixar esse assunto morrer.
 
— Não acho que ela tenha alguém. De qualquer forma, você deveria perguntar. Isso também diz respeito a Lara, certo? Você, como uma mãe preocupada, pode querer saber se a outra mãe dela se relaciona com alguém. Eu iria querer saber.
 
— Aí é que tá o problema — olhou para Alex. — Eu não quero saber.
 
— Porque? Não é melhor ter a certeza do que a dúvida?
 
— É que não quero que as coisas mudem e se eu souber disso, elas vão mudar.
 
— Uma resposta vinda dela evitaria um estrago no seu coração.
 
— Não importa. Lara está feliz por tê-la por perto e a felicidade da Lara é a minha. Não vou entrar nesse assunto pra que tudo mude, fique um clima estranho e tudo volte a ser como antes.
 
— Kara, isso é se iludir, não acha?
 
— Eu acho que tenho que ir. Nos falamos depois.
 
Andando mais rápido, deixou Alex para trás e entrou no hospital.
 
Ter falado com Alex não a levou em lugar algum, muito pelo contrário, só a fez se questionar mais sobre o que já estava se questionando. Não deveria ser tão difícil saber o que passa dentro de seu próprio coração, mas verdadeiramente não sabia.
 
Com a mente cheia, foi andando entre os corredores sem nem prestar atenção. Quando percebeu, já estava entrando em um laboratório encontrando Lena arrumando algumas coisas.
 
Há alguns dias Lena estava dando uma aulas de instruções a médicos, internos, enfermeiros e o pessoal do laboratório sobre as novas tecnologias que estavam sendo implantadas. Por causa disso, é que seus pés a levaram automaticamente aquele local onde Lena vinha passando grande parte do dia.
 
Por alguns instantes, ficou parada com a porta entre aberta a vendo colocar uns papéis sobre as bancadas.
 
— Vai ficar parada me olhando ou vai entrar?
 
Involuntariamente, sorriu. — Você fica bonita super concentrada.
 
— Se eu quiser que esse pessoal aprenda algumas coisas, tenho que me concentrar em como ter a atenção deles.
 
— Como se fosse preciso você fazer algum esforço pra alguém prestar atenção em você.
 
Assim que Lena sorriu envergonhada e abaixou a cabeça, fechou a porta atrás de si e foi em direção a ela.
 
— Você tem que parar de falar essas coisas, vou acabar acreditando.
 
Como vinha fazendo, levou a mão até a nuca de Lena a puxando levemente para deixar um beijo em sua testa. — Acredite. Você não precisa se esforçar pra ter a atenção de ninguém.
 
— Eu tive que me embebedar e chorar rios pra ter sua.
 
— Não lembra disso — a encarou, mas sem se afastar e muito menos tirar sua mão de onde elas estava. — Não gosto de lembrar que te fiz ficar daquele jeito. E eu já pedi perdão. Quer que eu ajoelhe aos seus pés e implore mais pelo seu perdão?
 
— Faria isso?
 
— Faria.
 
— Idiota — sorriu a dando um leve empurrão para se afastar.
 
Aquilo significava que Lena não levou a sério o que disse, mas era bem sério.
 
— Trouxe seu café e muffins. E não adianta mentir pra mim, pois eu tenho certeza que você não comeu nada.
 
— Porque gosta tanto de me encher de comida? Acha que estou abaixo do peso ou algo assim? — pegou um café e a sacolinha com os muffins.
 
— Não, você está perfeita. Esse é meu jeito de mostrar que eu me importo, mas se você estiver incomodada, eu paro.
 
Encostando a parte de baixo das costas no balcão, ficou olhando Lena — que estava de frente para o balcão — tomar um gole do café e depois morder o muffin.
 
— Gosto que se importe comigo — deitou cabeça sobre o ombros direito de Kara. — Só acho que você está me acostumando mal.
 
— Receber um pouco mais de cuidado não faz mal a ninguém — apoiou sua cabeça sobre a de Lena.
 
A mais remota possibilidade de imaginar Lena tão próxima de alguém quanto ela estava de si, fez seu coração se agitar de um jeito ruim. Definitivamente, não iria querer saber tão cedo se ela tinha algo com alguma pessoa.
 
— Como está a Lara? Ontem ela estava tão tristinha.
 
— Hoje ela não está muito melhor que ontem. Jimmy continua deitado no mesmo lugar e só demonstra um pouco de felicidade ao vê-la.
 
— Você disse que o levaria no veterinário, você o levou?
 
— Sim. Pedi pra Sam levar a Lara pra escola pra eu levar ele no veterinário antes de vim pra cá. Tinha esperanças de ser alguma coisa que o estava deixando tão amoadinho.
 
— Não é?
 
— Não — respirou fundo. — Não há muito o que fazer com ele. A velhice o atingiu.
 
— Já conversou com ela sobre isso?
 
— Conversei. Comecei a fazer isso desde que percebi que ele estava ficando mais e mais cansado  — engoliu o nó que se formou na garganta. — Desde que Jimmy a encontrou, ele nunca mais saiu do lado dela e, como você pode ver, eles são muito apegados. Por mais que ela saiba que ele está velho, ela ainda não entendeu o que pode vir depois mesmo eu tentando explicar. Com essa situação, fico triste por ela e também por ele. Antes da Lara chegar na minha vida, eu contava muito com Jimmy.
 
— Sinto muito, Kara — sem sair da posição que estava procurou a mão da loira e entrelaçou seus dedos. — Sinto por vocês três.
 
Seu coração estava triste pelo que estava acontecendo com Jimmy e com Lara, mesmo assim, ele acelerou quase a deixando sem ar.
 
— Eu sei. Mas eu não vim aqui quase chorar na sua frente.
 
— Veio me obrigar a comer? — afastou a cabeça a olhando com as sobrancelhas arqueadas.
 
— Você sabe que eu e a Lara fazemos alguma coisa juntas as sextas.
 
— Sei, você já comentou isso.
 
— Quer fazer parte disso hoje? — a encarou.
 
— Sério?
 
— Sim. Ela precisa de nós duas nesse momento.
 
— O que tem em mente?
 
— Pensei em levá-la no parquinho. Nessa época do ano, por causa do verão que logo estará aí, montam um parquinho no píer. Eu sempre a levo e acho que vai ser bom ela distrair um pouco. Aceita ir junto com a gente?
 
— É óbvio que aceito — sorriu alegremente.
 
— Também tem outra coisa que quero falar com você.
 
— Pode dizer.
 
Sem soltar a mão de Lena, se virou um pouco para poder vê-la melhor.
 
— Não falta muito para o aniversário da Lara. Nessa data, minha mãe faz um bolo pra cantarmos parabéns, e depois ela e eu fazemos algo da escolha dela. Quero saber se você quer participar. Ainda vamos comemorar na data de nascimento errada até os documentos dela serem arrumados, mas, não quero te deixar de fora disso.
 
Entre muitas conversas que tiveram ultimamente, as duas chegaram a um acordo de arrumar a data de nascimento de Lara e que ela tivesse o sobrenome das mães. Quando ajeitassem isso, Lara seria legalmente filha das duas.
 
— Vai mesmo me deixar fazer parte disso? — perguntou um pouco surpresa.
 
— Vou. Claro que vou. Não deveria passar pela sua cabeça que eu te impediria de estar com ela nesse momento. Nós podemos ver com ela o que ela quer fazer.
 
— Eu preciso encontrar um presente pra ela — falou animada e emocionada.
 
— Temos alguns dias pra isso — riu da euforia da morena. — E eu vou estar com você pra te impedir de levar tudo o que ver pela frente.
 
Como já imaginava que iria acontecer, Lena revirou os olhos e soltou a mão da sua. Achava engraçado como ela parecia ser mimada agindo daquele jeito quando dizia que ela não poderia fazer algo.
 
O único motivo de falar “não” para algumas coisas, era só para que Lara não se deslumbrasse com tudo o Lena poderia a dar. Além disso, não queria que ela se tornasse uma garotinha que acha que podia ter tudo o que quer, na hora que quer. Entendia que Lena tinha esses impulsos de querer da tudo a ela para compensar o tempo que não a teve em sua vida, mas não dava para autorizar tudo, tinha que impor alguns limites.
 
— Você fala como se fosse errado eu querer agradar minha filha — bebericou o café dando um passo para o lado.
 
— Não é errado, mas você exagera um pouco — viu Lena fechar a cara. — Lena, se eu te falo que é o melhor não fazer algo assim, é para o bem da Lara.
 
— Tá bom, Kara. Já entendi.
 
— Lena — a puxou pela mão para perto de novo. —, para de ficar desse jeito. Não estou te impedindo de presenteá-la, estou apenas impondo limites.
 
Estavam muitos próximas, mas Lena mantinha o rosto virado. Levando a mão até o queixo de Lena a fez virar o rosto para olhá-la. Ela já era bonita normalmente, mas conseguia ficar ainda mais quando estava toda séria.
 
A olhando nos olhos, sentiu sua garganta secar, tinha ficado difícil de respirar e suas pernas até pareciam gelatina.
 
Um pensamento incomum rondou sua cabeça. Não sabia se deveria fazer o que desejava, mas estava difícil de se segurar. Nem dava pra explicar o que estava acontecendo dentro de si, só sabia que era coisa de Lena.
 
Movendo a cabeça milímetros para frente, não viu nenhum sinal de que Lena iria recuar. Pensando se continuaria ou se desistiria, seu celular apitou.
 
— Acho que precisam de você.
 
— Só saio daqui se você sorrir pra mim. Você fica linda toda bravinha, mas só vou embora se eu souber que não está chateada.
 
— Não estou. Eu entendo o que você está dizendo, só que em relação a Lara eu ainda ajo por impulso.
 
— Então sorri pra mim. Só um sorrisinho — falou em um tom brincalhão. — Anda. Sorrir não vai arrancar pedaço. Vai, Lena, deixe me ver seu lindo sorriso.
 
Estava tentando não ceder, mas não conseguiu. — Você é boba demais.
 
— Sei que você gosta. Como saio mais tarde que você, pegarei a Lara na casa da minha mãe e depois eu te busco. Combinado?
 
— Combinado.
 
— Te vejo no almoço?
 
— Hoje eu estarei com a Cat, esqueceu?
 
— Ah, vão conversar sobre a festa de reinauguração.
 
— Isso — balançou a cabeça afirmando.
 
— Tá. Se cuida. Te vejo a noite — beijou sua testa com delicadeza.
 
Quando se afastou de Lena, finalmente soltou o ar que nem sabia que estava prendendo nos pulmões. Olhando pra cima, agradeceu aos céus por não ter feito o que tinha pensado, pois tudo poderia ter ficado estranho. Seja lá o que Lena estava a causando, teria que controlar.
 
— Kara!
 
Estava há três passos da porta quando parou e se virou. — Sim?
 
Sendo surpreendida, Lena se aproximou rapidamente passando os braços por seu pescoço e a abraçando forte. Nem precisou pensar muito para enlaçar a sua cintura e retribuir gesto.
 
— Obrigada pelos últimos dias. Eu não consigo nem expressar em palavras o tamanho da minha felicidade.
 
—  Não fiz nada demais, Lena.
 
— Fez, sim — deixou um beijo demorado em rosto. — Se cuida.
 
— Você também — beijou seu pescoço a fazendo rir.
 
Se afastando lentamente, só se desvencilhou de Lena quando a distância já não permitia estarem enlaçadas.
 
O minutos passaram absurdamente devagar para uma pessoa que estava ansiosa para encontrar a filha e a outra mãe de sua filha. Parecia que cada minuto estava durando uma hora e isso já estava a deixando irritada.
 
Assim que o ponteiro do relógio marcou o fim de seu expediente, quase saiu correndo pelo hospital para deixar seu jaleco em seu armário e pegar as chaves do carro.
 
Embora fosse sexta-feira, o trânsito não estava ruim. Assim que pegou Lara na casa de sua mãe, foi imediatamente para o prédio de Lena.
 
Depois de mandar uma mensagem a morena dizendo que esperava por ela, tentou engatar qualquer conversa com Lara para que ela abstraísse a sua mente de Jimmy. Em quinze minutos junto dela, havia perdido as contas de quantas vezes ela perguntou sobre o amigo.
 
Olhando para o lado do passageiro, viu Lena sair do portão do prédio. Ela estava com um vestido igual ao vermelho que usou uns dias atrás, mas esse era na cor verde.
 
Uau! Pensou e desse vez manteve a palavra em sua cabeça
 
Olhando para si mesma, se sentiu até mal por está vestindo a mesma coisa que sempre vestia para trabalhar. Uma calça jeans escura, uma camisa de botões — a que usava era preta com alguns desenhos — e uma bota de salto. Podia ter pensado em trocar de roupa quando passou em casa para dar uma olhada em seu cãozinho.
 
Logo que Lena entrou no carro, viu pelo retrovisor Lara sorrir.
 
— Oi, Lee!
 
— Oi, pequeno raio de sol — se virou para olhá-la. — Como você está?
 
— Com saudades do Jimmy. Mas mamãe disse que era melhor ele não ir com a gente no parquinho.
 
— Ele precisa descansar, meu bem.
 
Suspirou tristonha. — Tá bom.
 
— Não fique assim, Lara. Logo você vai estar com o Jimmy. Dá um sorriso pra mamãe, não quero te ver com essa carinha triste.
 
Imediatamente Lara fez o Lena pediu.
 
Vendo aquela cena, Kara sorriu também e ligou o carro.
 
O tempo em Wrigthsville estava quente. Era uma excelente noite para dar um volta pela cidade ou nas praias sem pressa alguma. Ainda bem que tinha sugerido um passeio a céu aberto.
 
Em menos de quinze minutos, já estavam andando no calçadão em direção ao iluminado parque de diversões. Queria estar andando mais próxima de Lena, mas Lara estava entre as duas segurando suas mãos.
 
— Mamãe, eu vou poder comer cachorro quente? — olhou para Kara.
 
— Vai, sim.
 
— Vou poder comer algodão doce, Lee? — olhou para Lena.
 
Lena olhou para Kara e recebeu aceno com a cabeça. — Com certeza.
 
— E sorvete, mamãe?
 
— Vai ser ótimo tomar um sorvete pra refrescar.
 
— E maçã do amor, Lee?
 
Mais uma vez procurou pela autorização de Kara. — Sim. Vai poder comer uma deliciosa maçã do amor.
 
Na última semana, Lara estava começando a perguntar coisas para Lena esperando a sua aprovação. Tinha dito a morena que ela poderia decidir sozinha o que deixar ou não deixar a filha fazer, mas mesmo assim, Lena procurava por uma resposta sua. Até compreendia que ela ainda se sentia insegura em relação a Lara, só que ela também poderia opinar sobre algumas coisas, se achasse que sua autorização tivesse sido equivocada, conversariam depois sobre aquilo e tentariam resolver.
 
— Vou comprar os ingressos. Não fujam de mim.
 
— Não vou fugir, mamãe. Você vai fugir, Lee?
 
— Não. Estarei bem aqui junto da Lara — colocou a filha sua frente apoiando as mãos nos seus ombros.
 
— Certo. Não demoro.
 
— Vou sentir saudades, mamãe.
 
Sorrindo para filha e para Lena, foi em direção a bilheteria.
 
Poderia ter levado Lara e Lena junto para comprar os ingressos, mas aproveitava esses momentos para deixá-las sozinhas. Sabia o quanto era importante as duas criarem uma relação.
 
O parquinho estava com bastante gente circulando de um lado para o outro, pelo menos a fila dos ingressos estava pequena e pode voltar rápido para perto das duas pessoas que a esperava.
 
— Qual é o primeiro brinquedo que você quer ir, Lara? — perguntou se aproximando depois de comprar vários ingressos.
 
— Não sei, mamãe — respondeu pensativa.
 
— Quer comer alguma coisa antes de começar a brincar?
 
Negou com a cabeça antes de seus olhos pararem numa barraca de jogos. — Você podia pegar aquele pandinha pra mim, mamãe.
 
O pandinha era o maior urso da barraca.
 
— Lara — riu quando viu que era tiro ao alvo —, você sabe que sou péssima nisso.
 
— Eu pego o pandinha pra você, Lara.
 
— Você vai atirar?
 
— Claro que vou — respondeu à Kara. — Eu ganho esse panda pra ela.
 
— Se está dizendo... — a provocou. — Então vamos lá, senhorita Luthor.
 
Pela cara que Lena fez, sabia que tinha despertado nela o seu lado competidor. Sabia disso, pois na noite de jogos ela usou a mesma expressão com Alex, Sam, Gayle e Imra.
 
Próxima de Lena e com Lara no colo para que ela pudesse ver a mãe ganhar o urso, observou a morena se posicionar com a espingarda de festim e começar a acertar os alvos.
 
Estava fascinada vendo aquela cena.
 
Após derrubar tudo e fazer a maior pontuação possível, Lena escolheu o panda que Lara queria e a entregou. A garotinha mal conseguia segurá-lo sem ajuda de Kara — ainda estava no colo da mãe — mas estava numa enorme felicidade.
 
— Obrigada, Lee. Agora tenho dois pandinhas pra dormir agarrada e mais o Jimmy.
 
— De nada, pequena — beijou sua cabeça.
 
— Quem diria que você sabia atirar, Luthor.
 
— Parece que ainda tem algumas coisas sobre mim que você não sabe, Danvers — deu um piscadela a fazendo ficar envergonhada. — O que quer fazer agora, Lara?
 
— Roda gigante!
 
Ficaram no parquinho por, aproximadamente, duas horas.
 
Na volta para casa, Lara insistiu que Lena fosse para casa com elas para que as três pudessem ver filmes juntas. O pedido podia ter partido de Lara, mas tinha pensado em sugerir aquilo à Lena. Quando a morena aceitou a proposta da filha, ficou feliz por saber que teria mais um pouco de sua companhia.
 
Mal tinha aberto a porta, Lara já entrou correndo a chamando por Jimmy. Ficando um pouco mais para trás com Lena, iria provocá-la mais pouco sobre o tiro ao alvo, mas a voz de Lara cortou o momento.
 
— Mamãe! — gritou. — Jimmy não quer se mexer.
 
Sentindo seu corpo gelar, se aproximou rapidamente de onde Lara estava. A pequena balançava Jimmy esperando que ele esboçasse qualquer reação, mas nada acontecia. O seu fiel amigo estava na mesma posição que havia deixado horas atrás em sua caminha ao lado do sofá.
 
— Lara... — se abaixou ao lado dela.
 
— Porque ele não quer se mexer, mamãe? — seus olhinhos estavam cheios de lágrimas. — Lee, porque ele não quer se mexer? Porque ele não quer acordar?
 
— Anjinho, Jimmy não vai acordar.
 
— Porque não? Ele tem que acordar, eu tenho que mostrar meu pandinha pra ele — voltou a mexer no cãozinho. — Jimmy!
 
— Tira ela daqui, Lena — pediu com a voz embargada.
 
— Vem, meu bem — tentou tirá-la de perto do cachorro.
 
— Não, Lee. Ele vai acordar — a olhou já com as lágrimas descendo pelo rosto. — Fala que ele vai acordar.
 
— Ele não vai acordar, Lara — engoliu o nó na sua garganta. — Vem com a mamãe, vem.
 
Ainda relutante e já soluçando, aceitou que Lena a carregasse e a tirasse dali.
 
Quando Lena e Lara já tinham subido as escadas, encarou o seu companheiro deixando um suspiro dolorido escapar de seu lábios.
 
— Você vai fazer muita falta, amigão.

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