Capítulo 21

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Kara
 

 
Dentre tantas coisas que tinha imaginado sobre Lena Luthor, nenhuma delas envolvia vê-la ensopada parada na sua porta ao anoitecer. E olha que já tinha imaginado diversas coisas envolvendo a morena.
 
Assim que abriu a porta na noite anterior, soube assim que seus olhos bateram em Lena, que estava sorrindo da mesma forma que sempre sorria quando ela estava por perto. Não imaginou que por um pedido de Lara, ela largasse tudo imediatamente e fosse ao encontro da garotinha. Não podia negar que havia gostado de, mais uma vez, saber que Lara era a sua prioridade. Também não podia negar que adorou vê-la antes do dia esperado.
 
Nos quase dois dias sem Lena em sua vida, sentiu tanta falta dela que até parecia que ela tinha cruzado o oceano e ficaria anos longe. Tinha a sensação de que quando se despediram no aeroporto, uma parte do seu coração foi com ela para National City e quando voltou para casa com Lara, a súbita saudade a invadiu de um jeito quase devastador.
 
Ainda que não fosse capaz de revelar seus sentimentos por Lena — mas vinha considerando depois da conversa que teve com Sam — quando teve a chance de abraçá-la, teve que deixar claro a saudade que sentiu dela e a saudade de tê-la dentro de seu abraço. E não podia ter ficado mais feliz pela morena ter pedido por aquele contato.
 
Podia ser coisa da sua cabeça, talvez estivesse criando uma ilusão, só que naquele abraço que aconteceu na mesma cozinha em que se encontrava agora, sentiu algo muito diferente. Lena parecia estar diferente de alguma maneira. Teve algo naquele gesto, que havia se tornado comum entre elas, que não teve em situações similares anteriormente.  Parecia que Lena estava mais inteira, menos tensa, mais carinhosa, aproveitando mais o que estava acontecendo.
 
Gostaria muito que a sensação que teve naquele momento em relação a Lena fosse verdade e não apenas um desejo do seu coração de ser correspondida. Por enquanto, tratava aquilo como uma quase fantasia de sua imaginação.
 
Soltando com força o ar dos pulmões, olhou para a xícara de café que estava em suas mãos.
 
Há alguns minutos estava sentada em um dos bancos altos da ilha da cozinha tentando entender tudo o que se passava dentro de seu coração. Lena a estava fazendo sentir coisas demais tudo ao mesmo tempo. Na sua frente, vinha sentindo cada vez mais aqueles sintomas de paixão. Ficava nervosa, eufórica, seu corpo esquentava, tinha a sensação de levar um soco no estômago só de pensar na possibilidade dela ter alguém e cada milímetro do seu ser reagia a qualquer simples toque ou proximidade dela. Longe dela, se sentia quase pela metade.
 
Já tinha se apaixonado antes, mas nada se comparava as coisas que Lena a causava.
 
Suspirando pela... Já tinha perdido as contas de quantas vezes suspirou por Lena desde que acordou, seu corpo tensionou quando um par de braços rodearam a sua cintura e sentiu a respiração quente de Lena contra seu pescoço.
 
— Minha mãe diz que quem suspira tem paixão. Você tem alguma paixão, senhorita Danvers? — apoiou o queixo em seu ombro.
 
Céus! Não esperava por aquilo. De onde Lena tinha surgido?
 
Naquele instante, seu coração acelerou muito mais rápido do que qualquer uma das outras vezes em que já esteve perto Lena.
 
Quase fechando os olhos para apenas aproveitar aquele contato, se lembrou que Lena a havia feito uma pergunta.
 
Não dava para dize a ela que tinha sim uma paixão enorme por ela. Pelo menos não naquele momento, não daquele jeito, até porque as palavras em sua mente estavam demorando a serem formadas. Se decidisse se declarar — mesmo que não fosse correspondida — se prepararia antes. Dias antes.
 
— E-eu... Hã... Qual é a pergunta?
 
Patética, pensou, mas precisava ganhar tempo.
 
— Se você tem alguma paixão. Estou há alguns minutos te observando e você suspirou umas cinco vezes. Quem está te fazendo ficar assim?
 
Você, quis dizer.
 
— Ah, é que... É... Bem, hoje é aniversário da Lara e... e ela é a minha maior paixão, sabe? Eu estava lembrando do momento em que a vi. Foi amor a primeira vista.
 
Esperava que Lena engolisse a história.
 
— Tem certeza que é isso?
 
— Cla-claro que tenho certeza. Está animada pra hoje?
 
— Eu nem acredito que depois de seis anos, eu estarei com a minha filha comemorando o aniversário dela.
 
Nossa filha, quis corrigir Lena, mas deixou pra lá.
 
— Pode acreditar no que está acontecendo. Esse é só o primeiro aniversário de muitos que você vai aproveitar com ela.
 
Recebendo um beijo entre o lóbulo da orelha e o ombro, achou de tremenda covardia Lena fazer aquilo bem no lugar que gostava sem nem ao menos saber daquela informação. Foi inevitável não se remexer um pouquinho por causa daquele singelo e casto beijo, e esperava que a morena não tivesse percebido sua reação, pois tinha certeza que ela não fez aquilo com segundas intenções. Embora desejasse que fosse.
 
— Eu estou muito feliz — se afastou sentando no banco ao lado de Kara. — Eu juro, eu nunca senti tantas coisas boas ao mesmo quanto venho sentindo ultimamente. Eu nem sei descrever esses sentimentos, só sei que são ótimos.
 
— No que depender de mim, você vai sentir isso sempre.
 
Virando a cabeça para encarar Lena, procurou pelo ar e ele não chegava em seus pulmões.
 
Oito da manhã e Lena estava simplesmente estonteante. Seus cabelos estavam esparramados pelos ombros e perfeitamente alinhados. Pensou em como gostaria de bagunça-los ao segurá-los para beijá-la. Seus lábios estavam avermelhados de forma natural. Sem dúvida alguma, ela tinha lábios lindos e baijáveis. Seus olhos estavam tão brilhantes e encantadores que poderia admirá-los por um dia inteiro.
 
Varrendo seus olhos pelo resto de Lena, os desceu mais um pouco engolindo seco e voltando a encarar xícara. Já estava nervosa por causa do que Lena tinha feito segundos antes e por tê-la tão perto, mas vendo a blusa que ela usava, ficou uma pouco pior.
 
Na noite anterior, quando levou Lena até o quarto de hóspedes, reparou que a blusa que ela usava — que era fina e na cor creme — estava transparente e grudada ao corpo na frente por conta da chuva. Quando a ajudou retirar o casaco encharcado, que estava aberto na frente, não tinha reparado naquilo, pois tinha ficado preocupada com ela pegar um resfriado. Mas ao notar aquele detalhe, mal conseguia desviar o olhar de seu busto avantajado segurado por um sutiã preto.
 
O motivo de seu estado de quase pânico ao ver a blusa de Lena agora era que ela estava com uma outra blusa fininha igual a outra, só que dessa vez era branca.
 
— Você está bem, Kara?
 
— Estou — balançou a cabeça freneticamente sentindo as bochechas esquentarem. — Porque eu não estaria?
 
— Parece nervosa.
 
— Eu sempre fico nervosa no aniversário da Lara. É inevitável. Vou preparar um café pra você. Está com fome? Pensei em parar naquela cafeteria que você e Lara adoram pra gente tomar café da manhã antes de irmos pra casa da minha mãe. O que acha disso?
 
Se levantando, foi até o armário pegar uma cápsula de café, precisava se afastar um pouco dela para se recompor e seu cérebro voltar a funcionar.
 
Por saber exatamente de qual tipo café que Lena gostava puro pelas manhãs, começou a comprar em grandes quantidades os expressos da marca que a agradava. Adorava prepará-los pela manhã quando ela dormia na sua casa.
 
— Eu acho uma ótima ideia.
 
— Mas se estiver com fome, eu posso preparar o que você quiser.
 
— Não estou com muita fome.
 
— Tem certeza? A Lara dormiu tarde ontem, ela ainda vai demorar um pouquinho para acordar.
 
— Tenho certeza, sim. Quero tomar café com você duas e não me importo em esperar.
 
Pelo tom de voz de Lena, percebeu que algo a deixou tensa.
 
— O que está se passando nessa brilhante cabecinha, Lena?
 
— Nada.
 
Se virou para fitá-la e quase perdeu o foco de novo. — Qual é, Lena? Me diz o que tem de errado? O que aconteceu em um minuto que te deixou assim?
 
— Assim como?
 
— Nervosa.
 
— Não estou nervosa — negou com a cabeça.
 
— Você bate a ponta dos indicares nas coisas quando fica nervosa com alguma coisa. Eu acho simplesmente fofo você fazendo isso, mas eu gostaria de saber o que te fez ficar assim — pegou a xícara de café colocando na frente dela. — Eu te fiz ficar assim?
 
— Não. Você é sempre a pessoa que me acalma quando estou em estado de nervos.
 
— Então me deixa te acalmar agora — se debruçou na bancada pegando uma de suas mãos. — Porque está com essa carinha?
 
— Não vai ser estranho eu chegar do nada na casa da sua mãe pra comemoração que vocês fazem entre vocês?
 
— Porque seria estranho? Você é mãe da Lara, ela sabe que você estará lá e está ansiosa pra te conhecer.
 
— E se eu disser algo constrangedor? E se ela não gostar de mim? Se ela me achar metida ou pensar que eu sou o que sempre falam por aí? E se...
 
— Lena, é impossível não gostar de você. Olha como você é toda lindinha do seu jeito tão seu. Ninguém em sã consciência não gostaria de você. Relaxa, meu bem, nada e nem ninguém vai estragar esse dia. O aniversário é da Lara, mas esse dia também é seu.
 
Como previa, Lena sorriu sem jeito e abaixou a cabeça.
 
Era difícil entender como Lena podia intimidar, ser o tipo de mulher que fascina qualquer um e ser tão graciosa ao mesmo tempo.
 
— Vou tentar relaxar.
 
— Ok. Vou ver se a Lara acordou, pra gente começar a por empática os nosso planos — beijou o dorso de sua mão. — Com licença, madame.
 
Como planejado, levou Lara e Lena na cafeteria que elas gostavam.
 
Estava gostando tanto de ver sua filha feliz e em como ela e Lena se tratavam, que decidiu que começaria a registrar aqueles momentos. Enquanto elas estavam concentradas apostando quem bebia mais chocolate gelado com creme na mesma taça com dois canudos, aproveitou para tirar algumas fotos que mostraria mais tarde a Lena.
 
Um dia, quando estivesse bem velhinha, iria querer se lembrar da emoção que a invadiu vendo aquela cena.
 
Ao saírem da cafeteria, se encaminharam para casa de sua mãe. Quando desceram do carro, notou mais uma vez a tensão que Lena exalava. Aproveitando que Lara saiu correndo na frente, levou a mão esquerda até a cintura de Lena a puxando um pouco mais para perto. Só de fazer aquilo, muitas coisas que tinha vontade voltaram a rondar sua mente, mas se desfez de todas, pois queria apenas acalmá-la.
 
— Relaxa! — sussurrou contra seu ouvido. — Não precisa ficar nervosa assim, você já conhece quase todo mundo e você estará em família.
 
— Família? — a olhou.
 
— É-é. Você é mãe da minha filha, então acho que isso nos classifica como família, não?
 
O repentino medo de ter falado o que não devia surgiu em seu peito. Por mais que pensasse exatamente o que falou, que considerasse que Lara, Lena e ela fossem uma família, não sabia como Lena via isso.
 
Meio minuto depois, para seu alívio, a morena sorriu.
 
— Acho que, sim.
 
— Então relaxa e confia em mim que eu digo que nada que está passando nessa sua cabecinha vai acontecer.
 
Beijando sua bochecha, a soltou logo em seguida para procurar as chaves da casa no bolso de sua calça.
 
Logo que entraram, encontraram Eliza e Sam na sala.
 
— Olha quem chegou! — Sam sorriu de um jeito que conhecia bem. Aquele sorriso era cheio de insinuações não ditas.
 
— Finalmente! — Eliza exclamou se aproximando para abraçar a neta. — Feliz aniversário, meu anjo.
 
— Obrigada, vovó.
 
— Seu presente está em cima da sua cama. A Ruby está lá no quarto, pede pra ela te ajudar abrir.
 
— Posso ir ver meu presente, mamães? — olhou para Kara e Lena que estavam lado a lado.
 
Já prevendo que Lena não diria nada, apenas balançou a cabeça em afirmação.
 
— Oi, tia Sammy! — foi abraçar a tia.
 
— Feliz aniversario, princesa. Meu presente e da tia Alex também está em cima da cama.
 
— Tô um muitão animada pra ver.
 
— Então vai lá. Eu fico admirada como essa menina só corre pra todos lugares e nunca cai — Sam comentou vendo a sobrinha sair correndo.
 
— Kara era igualzinha nessa idade. Você deve ser a Lena — Eliza encarou a morena.
 
— Sou eu, sim. Muito prazer, senhora Danvers. E obrigada por me deixar vir hoje.
 
— Que isso, querida! — a abraçou rapidamente. — Você é mãe da minha neta, então já é de casa. Por favor, nada de senhora Danvers e nem de ficar envergonhada.
 
— Certo — sorriu.
 
— Eu estava doida pra te conhecer, quando não é a Lara falando de você, é Kara dizendo o quanto você é extraordinária.
 
— É verdade, Lena. Eu estou de prova que minha cunhada e minha sobrinha são assim mesmo. Que bom te ver te novo! — abraçou a morena.
 
— Igualmente, Sam.
 
— Onde está a Alex e a aquela doida que chamo de amiga? — tentou esconder que ficou envergonhada com a exposição.
 
— Na cozinha arrumando a mesa com os doces e os salgados — Eliza respondeu à filha.
 
— Eu vou me certificar de que elas não vão comer o que é da festinha. Com licença.
 
Rapidamente, saiu da sala indo para cozinha. Sabia que sua mãe e Sam iriam a expor mais um pouco, ao menos não estaria lá pra presenciar.
 
— Olha, Alex! Chuta o que, ou melhor, quem fez ela ficar assim toda vermelha — Gayle comentou assim que viu a amiga passar pela entrada da cozinha.
 
— Coisa de...
 
— Se você terminar essa frase, eu juro que te bato.
 
— Que estresse, garota! Eu, ein.
 
Se aproximou da irmã e da amiga. — Eu quero que tudo seja perfeito para Lara e para Lena, se uma de vocês estragar isso, eu juro que vou fazer vocês sofrerem as consequências.
 
— Ela defende a família dela.
 
— Sabe como é, né, Gayle? Aprendeu com a irmã mais velha.
 
— Vocês são insuportáveis — grunhiu.
 
— Calma, irmãzinha! — passou um braço pelos ombros da loira. — Sabemos o quanto tudo isso é importante pra vocês três de varias formas. Não faremos nada que te deixe em saia justa ou coisa assim. A mamãe já vai te constranger e te expor por nós duas, então só iremos assistir a tudo.
 
— Eu odeio vocês — revirou os olhos, mas sabia que Alex estava certa.
 
Após um tempo de conversa jogada fora, insinuações e indiretas de todas daquela casa — menos as crianças — que capitou no ar, acabaram se juntaram em volta da mesa para cantar parabéns para a aniversariante que estava radiante.
 
Lara era sempre sorridente e sua alegria contagiava qualquer um, mas dessa vez, ela era mesmo um pequeno raio de sol comemorando seu sexto ano de vida.
 
Antes do parabéns começar a ser cantado, Lara ficou séria e encarou Lena que estava do outro lado da mesa. Observando aquilo, tinha certeza do que a filha iria fazer e por isso não fez antes.
 
— Vem aqui do meu ladinho, mamãe — abriu e fechou as mãos em direção a Lena.
 
— Eu? — perguntou desacreditada.
 
— É. Quero minhas duas mamães comigo.
 
Sorrindo levemente, viu Lena se aproximar e Lara se jogar em seus braços para ser carregada.
 
— Feliz aniversário, pequeno raio de sol! — disse com os olhos cheios de lágrimas. — Eu te amo e estou imensamente feliz por estar com você hoje.
 
— Eu também te amo, mamãe. Do tamanho do universo — fez um sinal com a mãozinha para Kara se aproximar mais. — Me abraça também, mamãe.
 
Agitada por dentro, se aproximou rodeando como podia as duas. Na sequência, começaram a cantar e Alex a filmar toda aquela cena.
 
Tudo estava indo muito bem, até que chegou a hora de soprar a velinha.
 
— Faz um pedido, Lara — Ruby falou animada.
 
— O que eu peço? — virou a cabeça olhar Lena e depois fez o mesmo com Kara.
 
— O que quiser, anjinho.
 
— O que quiser, pequeno raio de sol.
 
Falaram no mesmo momento enquanto Lena colocava a folha em cima da cadeira.
 
— O que eu quiser? — pensou um pouco.
 
— Peça algo que você deseja muito, muito que aconteça — Eliza disse.
 
— Já sei! Quero que as minhas mamães morem na mesma casa comigo, como a tia Alex, a tia Sammy e a Ruby — se curvou e soprou a velinha.
 
O silêncio depois daquilo foi ensurdecedor. Tinha achado que Lara pediria um brinquedo ou até um unicórnio — pediu isso por dois anos seguidos. Jamais cogitou que ela pediria aquilo, mas não reclamaria se acontecesse.
 
— Que tal cortamos o bolo? — Gayle quebrou o silêncio. — Pra quem vai o primeiro pedaço, Lara?
 
— Já que o Jimmy não tá aqui, vai ser pra mamãe Kara e a mamãe Lena.
 
Lara costumava dar o primeiro pedaço do bolo pro Jimmy e ele nem mesmo aproveitava, pois só comia coisas próprias para cachorro.
 
— Mas elas são duas, Lara, e o primeiro pedaço é só um — Sammy explicou.
 
— Elas divide, ué. Elas me divide, porque não pode dividir um pedaço de bolo?
 
— Essa menina é um gênio!  — Alex comentou com a câmera do celular apontada para elas. — Você é o orgulho da titia, Larinha.
 
— Vocês dividem, né, mamães?
 
— Claro, anjinho!
 
— Com certeza, meu amor!
 
Falaram juntas mais uma vez e super envergonhadas.
 
Mesmo que a situação fosse um pouco embaraçosa, foi sensacional dividir um pedaço de bolo com Lena ainda que soubesse que Alex, Sam, Gayle e até sua mãe iriam provocá-la com aquela situação enquanto vivessem.
 
Para conseguirem ir a praia para o piquenique antes da chuva que estava prevista, saíram da casa de Eliza momentos depois do parabéns. Era para que todos os planos dessem certo que a festinha havia acontecido tão cedo.
 
Dirigindo em direção ao centro de adoções de animais, se perguntava o que Lena achou de tudo o que tinha acontecido e, apesar dos pesares, esperava que ela tivesse gostado daquele dia.
 
Meia hora depois, parou o carro em frente ao canil de Wrigthsville.
 
— Não vamos a praia, mamãe?
 
— Vamos, anjinho, mas antes queremos que faça uma coisa.
 
— O que? — arqueou as sobrancelhas como Lena fazia. Aquilo era novo.
 
Olhando para Lena, maneou a cabeça para que ela falasse.
 
— Meu bem — tirou o cinto se virando para trás para olhar a filha. — Nós sabemos o quanto o Jimmy faz falta pra você.
 
— Faz muita.
 
— Então nós decidimos te trazer aqui para que você escolha um novo amigo.
 
— Mas o Jimmy não vai ficar triste por eu procurar um novo amigo?
 
Quando Lena a olhou, moveu a cabeça mais uma vez para que ela continuasse falando. Sabia que ela era capaz de responder todas essas perguntas de Lara com criatividade e sensibilidade, por isso a estava incentivando cada vez mais a assumir o controle dessas situação.
 
— Lara — respirou fundo tentando reunir as palavras certas —, quando a gente ama muito alguém, tudo o que queremos é que essa pessoa seja amada de volta. Tipo... As florzinhas do seu coração, elas cresciam por ter o Jimmy, não é?
 
— É, sim — assentiu com a cabeça.
 
— E as florzinhas do coração do Jimmy, cresciam por ele ter você. Por causa disso, por você ter sido capaz de encher o coraçãozinho dele de florzinhas de tantos tipos, cores e tamanhos diferentes, mesmo que ele seja agora uma estrelinha no céu, ele sempre vai querer que você tenha um outro amigo pra te encher de florzinhas novas, entende?
 
Ficou pensativa. — Entendo, mamãe.
 
— O Jimmy vendo você feliz, ele vai ficar feliz por que ele te ama demais pra te ver triste.
 
— Então, anjinho, você quer escolher um novo amiguinho?
 
— Se o Jimmy vai ficar feliz e não triste, eu quero. Mas como eu escolho meu novo amiguinho?
 
— Você vai saber — Lena disse. — Você vai bater seus lindos olhinhos nele e vai sentir no fundo do coração que ele é pra você.
 
Aquelas palavras, realmente inspiraram Lara a procurar por seu novo amigo.
 
As três andaram por todo o centro de animais, brincaram com alguns cachorros através dos cercados, acariciaram os gatinhos e então Lara se afastou tendo sua atenção chamada.
 
— Onde está indo, Lara? — Kara perguntou a seguindo.
 
— Não vi esse, mamãe — apontou para um cachorrinho que estava quieto no canto de um dos cercados de animais.
 
— Esse voltou pra cá recentemente. Ele foi adotado, mas a família devolveu — uma das cuidadoras do local disse.
 
— E porque ele tá tão quietinho?
 
— Ele é assim desde que chegou aqui com outros filhotes. Os outros, por serem espertos e brincalhões, foram levados rapidamente. Ele, por ser quietinho e não deixar todo mundo se aproximar, já está há quatro meses aqui e quando achamos que ele iria ganhar um lar, o devolveram por ele ser assim — respondeu à Lena.
 
— Quero ele! — olhou para as mães. — Olha como é bonitinho da cor de caramelo, mamãe. Quero ele. Ele é meu novo amiguinho.
 
— Tem certeza, Lara?
 
— Tenho, mamãe Kara.
 
A cuidadora, pegou o acanhado cachorrinho de tamanho médio de, aproximadamente, cinco meses e o entregou para uma eufórica Lara.
 
— Oi, amiguinho! — o pegou sorridente. — Eu prometo cuidar muito bem de você junto com a mamãe Kara e a mamãe Lena.
 
— Qual vai ser o nomezinho dele? — Lena quis saber se agachado para passar as mãos no cachorro.
 
— Vai ser, Billy — recebeu uma lambida no rosto que a fez rir.
 
— Bem vindo a sua nova família, Billy — se abaixou também para carinhar o cachorrinho que parecia ter gostado de Lara. — Está feliz, anjinho?
 
— Tô cheia de florzinhas novas no coração.
 
— Eu também.
 
Novamente falaram juntas e se olharam por breves segundos antes de voltarem a dar atenção a Lara e a Billy.

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