Lena
Olhando Lara tão de perto, a primeira coisa que pensou em fazer foi puxá-la para um abraço, mas se conteve em apenas estar tão perto dela. Não queria que Lara se sentisse desconfortável, tinham começado aquilo bem, tinha até ganhado um apelido, porque estragaria qualquer coisa sendo impulsiva?
Observando cada detalhe do rosto da filha, sentiu seus olhos marejarem. A emoção que a consumia era enorme e estava até difícil de conter as lágrimas, mas estava sendo forte, pois não queria chorar naquele momento — mesmo que fosse de alegria — queria que Lara visse o quanto estava feliz por finalmente conhecê-la. Queria deixar um boa impressão daqueles primeiros minutos de contato.
— Posso continuar te chamando de Lee?
— Pode, sim. Claro que pode.
— Tá bom. Lee — sorriu.
— Tá bom. Lara.
Retribuindo o sorriso, sentiu a felicidade finalmente preencher cada célula de seu ser. Um dia achou que não podia mais que poderia se sentir daquela forma, agora tinha a plena certeza que toda vez que visse Lara, se sentiria quase explodir de alegria.
Obviamente queria que Lara a chamasse de qualquer variável da palavra mãe, porém sabia que isso poderia levar um tempo. Antes de ser chamada de mãe teria que ser a mãe que a pequena garotinha merecia ter. Se ‘Lee’ era o que tinha por hora, iria aceitar sem problemas. De qualquer forma, Lara ter pensando em um ‘apelidinho’ já significava muito.
— Você tem uma covinha igual a minha — levou o dedo indicador ao rosto de Lena apertando o local da covinha.
— Tenho, sim.
— Fica bonitinha em você.
— Em você fica linda — repetiu em Lara o seu próprio gesto a fazendo rir.
— Minha mamãe, minha vovó, tia Alex, tia Sam e tia Gayle também acham.
— Elas tem toda razão. Escuta, Lara, como estamos nos conhecendo hoje, eu comprei um presente pra você e...
— Eu não te conheço de hoje.
Não entendeu bem o que a frase significava, então ergueu o olhar procurando por Kara.
— Onde você a viu, Lara?
— Na porta de casa, mamãe. Naquele dia da praia.
— Você se lembra de ter me visto? — voltou sua atenção a filha.
Assentiu com a cabeça. — Você tava falando com a mamãe. Lembrei agora que te vi.
— É, eu estava falando com sua mãe — não gostava nem de lembrar daquele dia. — Então, como estamos nos vendo pela segunda vez, você quer entrar um pouquinho pra ver o presente que tenho pra você antes de sairmos pra almoçar ou prefere fazer isso depois?
— Eu posso ver agora, mamãe? — olhou para Kara procurando por uma confirmação.
— Claro que pode, anjinho.
— Então eu quero ver agora, Lee.
A cada vez que ouvia o seu novo apelido sentia seu coração se derreter um pouquinho de tanto amor. Amava Lara incondicionalmente mesmo com tudo que tinha acontecido, só nesses minutos seu amor tinha dobrado de tamanho — se é que fosse possível amá-la mais.
Se levantando, deu espaço para Lara e Kara entrarem em seu apartamento.
— Fiquem a vontade — fechou a porta atrás de si. — Vou pegar o presente e já volto.
Saindo da sala, foi até seu quarto pegar o grande embrulho com os livros de Lara. Estava se sentindo tão nervosa, que precisou ficar sozinha por alguns instantes para processar o que estava acontecendo.
Sua filha, a filha que por um tempo achou que estava morta, a filha que até um mês que estava perdida no mundo e achou que jamais a encontraria, estava bem no outro cômodo de sua casa. Aquilo era incrível e surreal ao mesmo tempo.
Respirando fundo, pegou o baú embrulhado em um papel com desenhos de dinossauros — Kara que havia sugerido — e saiu do quarto. Chegando na sala, encontrou Lara no colo de Kara fazendo alguma brincadeira com as mãos. Como elas não tinham notado a sua presença, pensou em ficar apenas vendo aquela cena, mas sua ansiedade não permitiu.
— Lara — chamou a atenção da garotinha se aproximando —, eu espero que você goste.
— Vai lá ver o que é — Kara a incentivou a ajudando descer de seu colo.
De um jeito tímido e extremamente fofo, Lara se aproximou da mesa de centro da sala, onde Lena havia acabado de colocar o embrulho. Ela não foi apressadamente rasgando o papel de presente, primeiro ela observou os desenhos estampados nele.
— Eu adoro dinossauro — olhou para Lena.
— Sua mãe me disse o quanto você gosta.
— Posso abrir, Lee?
— Claro que pode, meu amor — se aproximou. — Abre.
O semblante tímido de Lara deu espaço para um sorriso sapeca. Dava para perceber que ela estava com pressa para ver o que tinha ganhado, ainda assim, desfez o laço do presente e foi desembrulhando tudo com cuidado.
— É um baú pirata? — encarou Lena mais uma vez. — Tem um tesouro aqui?
— Tem. Tem um lindo tesouro aí dentro.
— Mamãe, eu ganhei um tesouro pirata — falou animada. — Vem ver, mamãe.
Por mais que não tivesse parado de fitar Lara, pois não queria perder nada sobre ela, sentiu Kara se aproximar e se ajoelhar ao seu lado.
— Pronto, já estou aqui. Pode abrir seu baúzinho.
— Como eu abro? — perguntou ao se dar conta que tinha um cadeado.
Achando a expressão de confusão de Lara tão fofa quanto as que Kara fazia, sentiu um leve cutucão na sua cintura. Sem entender, se virou para fitar Kara e recebeu um maneio de cabeça em direção ao baú, foi então que se deu conta que Kara a estava dizendo para mostrar à garotinha como abria seu baúzinho.
— Está vendo essa alcinha aqui do lado direito?
— Tô vendo.
— Levanta ela.
— Assim?
— Isso. O que você vê embaixo dela.
— Uma gavetinha. Posso abrir?
— Pode.
Abrindo a gavetinha, sua boca se abriu ao achar a chave. — Uau! Isso é legal de muitão. Está vendo, mamãe? Tem um lugar pra esconder a chavinha.
— Estou vendo, anjinho. Abre pra ver o que tem dentro.
Esse incentivo não precisou ser feito duas vezes. Com as mãozinhas bem ágeis, a garotinha abriu o cadeado e em seguida a tampa do baú.
— Aqui tem um muitão de livrinhos — disse encantada. — São livros do que?
— São daqueles contos que você tanto gosta de ler.
— Você sabia que eu gostava de ler, Lee?
— Sua mãe comentou comigo. Gostou do presente?
A expectativa não estava só na sua voz, estava no seu olhar e em todo o seu corpo. Pela forma que Lara sorria, parecia ter sido surpreendida pelo presente, mas queria ouvir dela se havia gostado.
No dia que foi com Kara ao shopping, queria comprar várias coisas para não ter chances de errar. Entre muitos brinquedos, algum Lara certamente iria gostar. Mas quando Kara mencionou seu gosto por leitura, se lembrou de si mesma quando era criança e o quanto adorava quando sua mãe lia para ela dormir ou quando viajava para longe lendo seus livrinhos infantis. Com isso, não foi difícil decidir o que comprar.
Nervosa por Lara não responder rápido a sua pergunta, procurou pela mão de Kara tentando aliviar a tensão que a consumia. Quando ela entrelaçou os dedos nos seus, até que parte de sua ansiedade se esvaiu, mas não muito.
Pegando um dos livros, Lara virou a cabeça encontrando lado a lado as duas mães que esperavam a sua resposta. Lentamente, seu rosto começou a se iluminar em um sorriso cheio de pureza e sinceridade.
Presenciar o sorriso de Lara, fez Lena sentir que cada canto escuro de seu coração havia acabado de ser iluminado. Aquilo foi como os raios de sol preenchendo com toda a sua luz os cantos escuros dos lugares quando o dia nasce.
Lara havia acabado de se tornar seu pequeno raio de sol.
— Eu adorei! — deu um pulinho animada. — Eu vou guardar direitinho tudo e cuidar direitinho.
— Eu sei que vai.
— Obrigada, Lee! O Jimmy vai adorar ver meu presente. Mamãe, podemos ir em casa mostrar pro Jimmy?
— Lara, nós vamos almoçar, lembra?
— Eu mostro pro Jimmy e depois a gente vai, mamãe.
— Anjinho, quando a gente voltar pra casa, você mostra. Jimmy vai estar quietinho em casa esperando por nós. Nós combinamos de almoçarmos nós três juntas, lembra?
— Tá bom — suspirou derrotada, mas não menos alegre. — O Jimmy também vai gostar do meu presente, Lee. Ele é meu melhor amigo. Depois eu mostro ele pra você, a mamãe tem fotos dele no celular. Ou você pode conhecer ele de pertinho. O que acha?
— Vou adorar conhecer o Jimmy de pertinho.
— Você tem algum animalzinho, Lee? — guardou o livro que estava em suas mãos.
— Não tenho. Estou morando aqui faz pouco tempo.
— Você podia ter um gatinho ou um cachorrinho. Ele e Jimmy podiam ser amigos. E eu podia ser amiga deles. O que acha?
— Eu vou pensar sobre isso.
Enquanto Lara fechava seu baúzinho, o silêncio dominou o ambiente, mas não de maneira constrangedora, de uma maneira boa. Esse pequeno silêncio serviu pra pensar o quanto Lara poderia ficar feliz se adotasse um animalzinho. Conseguia visualizar claramente ela brincando com seus bichinhos de estimação. Só que, claro, a parte racional de tudo aquilo que estava acontecendo logo cortou o seu barato.
— Não vou deixar você adotar um animal só pra agradar ela — sussurrou contra seu ouvido. — Tire essa ideia da sua cabecinha. Lee.
Revirando os olhos, soltou a mão de Kara demonstrando que não tinha gostado nada daquela “proibição”. Por estarem tão perto, conseguiu ver de soslaio Kara rir e balança a cabeça negando.
— Mamãe, eu tô com fome. Uma fome bem grandona.
— Então vamos almoçar. Está pronto pra ir, Lena?
— Só vou por minhas sandálias.
— Não demora, Lee — levou as mãozinhas na barriga. — Ou eu vou desmaiar de fome.
Bem que Kara tinha avisado que Lara às vezes era dramática, mas era tão fofo ela fazendo drama que tinha vontade de apertá-la e não soltá-la nunca mais. Muito provavelmente quando a abraçasse a primeira vez, não soltaria tão cedo e estava ansiando por esse momento.
— Não demoro. Não quero ver você desmaiar de fome — deu leve batidinha com o indicador na ponta do nariz da garotinha, logo foi surpreendida com ela fazendo o mesmo.
— Vou ficar bem quietinha te esperando.
Aquele primeiro encontro estava sendo muito melhor do que pensava.
Todas as vezes que ouvia Kara dizendo que Lara era amorosa, carinhosa e compreensiva, até chegou pensar que Lara era assim somente com ela. Nos poucos minutos na presença da filha, pode ver que não exagero nenhum de Kara.
Como havia prometido, não demorou para por suas sandálias. Não queria deixar Lara esperando.
— Já estou pronta! — anunciou voltando para onde Lara e Kara estavam. — Podemos ir.
— Gosta de comer peixinho, Lee?
— Gosto, Lara.
— Mamãe falou que vamos comer peixinhos hoje — lambeu os lábios pensando na comida. — Gosta de sorvete de chocolate?
Até que gostava, só não amava.
— Gosto bastante de sorvete de chocolate.
— Vai ser a nossa sobremesa.
— Vai ser uma excelente sobremesa então.
— Já deixo avisado, que a nossa sobremesa vai ser lá em casa, porque vou te apresentar o meu famoso sundae — Kara disse pegando o presente de Lara.
Inicialmente, aquele comentário de Kara pareceu estranho, então se lembrou que ela havia dito sobre irem para casa dela. Falar sobre sundae foi a maneira que achou para informar a Lara que ficariam mais tempo juntas depois do almoço.
— Você vai adorar o sandae da mamãe, Lee. Ela coloca um muitão de coisas nele.
— Mal posso esperar pra experimentar.
— Então vamos, meninas, pois temos uma reserva nos esperando. Lara, como a mamãe está com seu presente nas mãos, pode segurar na mão da Lena até chegarmos no carro?
Esticando o bracinho em direção a Lena, Lara abriu a mão esperando ela pegar. Quando finalmente pegou naquela pena mãozinha quente, sentiu seu coração acelerar. Automaticamente seus olhos procuram pelos de Kara e a sorriu agradecida.
O almoço foi muito recheado de risadas e de Lara contando histórias sobre Jimmy. Uma parte dessas histórias já tinha ouvido através de Kara, mas era incomparável ouvir Lara contando fazendo caras e bocas.
Outra coisa que seguiu pelo almoço foi menininha querendo saber em que ela trabalhava. Tentou explicar da forma mais simples o possível do que se tratava seu trabalho, não sabia se ela tinha entendido totalmente, mas ela fez várias perguntas.
Vez ou outra, percebendo que Kara estava muito calada, a olhava tentando decifrar o que se passava por sua cabeça. Ainda tinha um leve medo da loira achar que queria tirar Lara dela ou dela se sentir mal por estarem se dando bem de primeira. Toda vez que a encarava e recebia um sorriso, a pressão em seu peito diminuía consideravelmente e respirava aliviava.
Depois de umas duas horas entre comidas, risadas e conversas, acabaram indo embora do restaurante em direção a casa de Kara.
— Agora você vai fazer o sandae, mamãe? — foi a primeira pergunta que Lara fez ao entrar em casa. — Lee deve tá com muita vontade de tomar.
— A Lena ou você?
— Eu tô só um pouquinho — fez o tamanho com os dedos.
— Eu já vou fazer o sandae pra vocês.
— Oba! Vou procurar o Jimmy pra você conhecer ele, Lee.
— Tá... — Lara não ouviu sua resposta, pois saiu correndo. — Acho que fiquei no vácuo.
— Ela está ansiosa pra você conhecer o Jimmy.
— Eu mal acredito que isso está realmente acontecendo.
Sentiu Kara passar uma mão sobre a sua cintura a apertando levemente enquanto a puxava um pouco mais para perto e deixando um beijo na lateral de sua cabeça. Aquele contato era bom e provava que tudo aquilo era real.
— Está acontecendo. Eu disse que ela iria gostar de você.
— Ela gostou mesmo de mim?
— Ela não apresenta formalmente o Jimmy a qualquer um. Então considere que ela gostou muito de você.
— Estou agindo bem? Acha que devo fazer alguma coisa diferente ou... ou... Sei lá, falar menos ou demonstrar mais minha alegria?
Riu daquele comentário. — Você está agindo perfeitamente bem. Lara é só uma criança, se ela não tivesse gostado de você ou de como você está agindo com ela, já teria falado ou demonstrado.
— Certo.
— Ela está voltando, vou preparar o sandae de vocês — deixou um beijo em seu rosto antes de se afastar.
Por mais que quisesse ver Kara se afastar ou prestar atenção em como era a casa em que a filha vivia, quando escutou os passos se aproximarem, sua atenção foi diretamente a Lara. Ela estava conversando com um cachorro grande de pelos amarelados ao seu lado.
— Jimmy, essa é Lee. Lee, esse é Jimmy.
— Oi, Jimmy! — levou a mão até a cabeça só cachorro. — Eu ouvir falar muito sobre você.
— Eu estava falando pra ele sobre o presente que você me deu.
— É, mesmo? E o que ele disse?
— Que está doidinho pra ver — olhou para os lados procurando seu baú de livros. — Jimmy, acho que a mamãe esqueceu meu presente no carro, mas depois eu te mostro tudinho. Ele não é fofinho, Lee?
— Um cachorro extremamente fofinho.
— Lara, a mamãe acabou de ver que faltam algumas coisas pra fazer o sandae. Você pode ficar um pouco com a Lena e com o Jimmy enquanto eu busco?
— Você vai demorar, mamãe?
Se abaixou na frente dela. — Não, vou rapidinho. Temos uma sobremesa pra tomar. Enquanto eu vou no mercado, porque não mostra pra Lena seus outros livros e seus brinquedos?
— Você quer ver meus livros e brinquedos, Lee?
— Quero! — respondeu rápido. — Com certeza, quero.
— Quando voltar, leva meu baúzinho pro meu quarto?
— Levo, anjinho — beijou a ponta de seu nariz. — Volto logo.
Assim que Kara saiu, Lara parecia ter ficado chateada. Por um milésimo de segundo, pensou que o dia feliz e divertido que estava tendo ao lado da filha tinha acabado. Então, para dissipar todos os seus pensamentos ruins, uma mão pequena e delicada pegou na sua.
— Vamos ver meu livrinhos?
— Vamos! — respondeu sorrindo de leve.
Sendo puxada por Lara, a seguiu pela sala até as escadas. Atrás delas, Jimmy vinha caminhando tranquilamente.
Chegando a um corredor no fim da escada, deu mais alguns passos e entrou numa porta a sua esquerda.
— Esse é o meu quarto. Gostou?
— É muito lindo. Você gosta da cor azul?
Embora as paredes tivessem tons de creme, muitas outras coisas eram na cor azul, como cortinas, o tapete e o acolchoado da cama, por exemplo.
— Gosto. É a cor do olho da mamãe — levou Lena até sua cama a fazendo se sentar. — Você gosta de pintar? Tenho uns livrinhos que tem historinhas e desenhos de pintar. Quer pintar comigo?
— Vou adorar fazer isso.
— Vou pegar meus lápis e canetinhas — sorriu animada.
Lara foi até um canto do quarto mexer numa caixa grande de brinquedos e muito bem arrumada. A vendo procurar o tanto queria, dessa vez não conseguiu segurar as lágrimas.
— Você quer a historinha de dinossauros ou de sereias, Lee? — a escutou fungar e então se virou para ver o que estava acontecendo. — Lee, você tá chorando? Não gostou de me conhecer?
— Eu estou adorando te conhecer. Estou chorando de alegria.
Lara deixou tudo o que estava pegando no mesmo lugar e se aproximou de Lena. Subindo na cama, ficou de joelhos para vê-la melhor.
— Não gostei de te ver chorando. Você fica mais bonita sorrindo.
Tinha perdido as contas de quantas vezes Kara disse que Lara era parecida com ela, mal sabia a loira que todos os trejeitos da pequena eram seus. Seu jeitinho meigo, a voz doce o olhar que transmitia sinceridade eram iguaizinhos os de Kara.
— Você sabe o porque estou aqui, Lara?
— Sei — levou as mãos ao rosto de Lena para secar suas quase escassas lágrimas. — Mamãe me disse que você está aqui pra cuidar de mim junto com ela. Ela me contou que você não pode cuidar de mim antes, então me deixou com ela pra ela ser minha mamãe porque sabia que eu iria ser amada. Sempre gostei da mamãe me contado que quando me viu, ficou feliz. Antes ela triste por causa da morte do meu vovó.
— Ela disse mais alguma coisa?
Pensou um pouco. — Que por causa de você, hoje ela é minha mamãe e é feliz. Ela fala que me encontrou na porta dela como um presentinho.
— Você gosta da ideia de ter duas mães?
— Minha prima Ruby tem duas mães, e elas amam ela de muitão. Se você me amar de muitão, vou gostar de você ser a minha outra mamãe.
A inocência nas palavras de Lara eram tocantes. Kara realmente não havia escondido nada dela, apenas tinha amenizado em altos níveis a situação e Lara parecia entender bem as coisas daquele jeito que foi contado a ela.
— Eu já te amo de muitão. Você nem imagina o quanto. Pode me perdoar por não ter cuidado de você durante esses anos? Eu juro que quis, mas não pude.
— Você nunca mais vai sair de pertinho de mim?
Negou com a cabeça. — Nunca mais, meu pequeno raio de sol.
— Do que me chamou?
— Pequeno raio de sol. É meu ‘apelidinho’ pra você.
— Gostei.
— Posso te abraçar? Espero há um longo tempo por isso.
— Vai parar de chorar?
— Vou, pequeno raio de sol.
Com enorme sorriso, Lara se jogou em seu braços. Não queria machucá-la, mas foi inevitável não abraçá-la forte. Lara deitou a cabeça sobre seu ombro esquerdo. Conseguia sentir sua respiração quente e cadenciada em seu pescoço.
As duas ficaram um longo tempo agarradas na mesmas posição. Mesmo sem querer soltar a filha, decidiu perguntar se ela ainda queria pintar os desenhos que tinha sugerido.
— Lara, você quer pintar? — não teve resposta. — Pequeno raio de sol?
Pela primeira vez na vida, estava sabendo como era a sensação de ter sua filha dormindo em seus braços. Era inexplicavelmente inexplicável a definição da sua emoção do momento.
Sem soltar a filha, tirou suas sandálias — deu um pouco de trabalho — e subiu na cama se ajeitando e ouviu uma Lara sonolenta resmungar. Se encostando na cabeceira da cama, tentou colocar a garotinha deitada ao seu lado, mas não deu muito certo.
— Não me solta, não — disse de olhos fechados e com um biquinho nos lábios.
— A mamãe só vai te ajeitar, tá bom?
Se Lara não queria sair de seus braços, ficaria com ela o tempo que ela quisesse.
A segurando como um bebê, a olhava encantada e feliz.
— Quando eu acordar, você vai tá aqui, Lee?
— Você quer que eu esteja?
— Quero — bocejou.
— Então estarei — beijou sua testa demoradamente. — Volta a dormir, meu amor. Estarei aqui com você.
Em poucos minutos, Lara já estava num sono tranquilo e profundo.
— Desde bebê, ela não dorme no colo de ninguém. Só no meu.
Olhando para a porta, viu Kara encostada no batente com os braços cruzados.
— Chegou faz muito tempo?
— Nunca saí, na verdade, só quis deixar vocês sozinhas — se encaminhou até a cama se sentando ao lado de Lena.
— Se importa se eu ficar aqui com ela até ela acordar? Ela pediu pra eu ficar.
— Eu ouvi. Fique o tempo que quiser — carinhou Jimmy quando ele subiu na cama. — Fico feliz que se for pra ela amar alguém tanto quanto eu, que esse alguém seja você.
— Sério mesmo? — fitou Kara.
— Sério mesmo.
Sendo abraçada de lado, se apoiou sobre a lateral do corpo de Kara recebendo um leve e gostoso cafuné.
— Queria que todos os meus domingos fossem assim. Esse é o melhor dia da minha vida.
Beijou sua pálpebra esquerda e logo apoiou o queixo no topo de sua cabeça. — Esse é só o primeiro melhor dia da sua vida de muitos.
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Come A Little Closer
Fanfiction[Concluída] Kara Danvers é uma médica que leva uma vida bastante sossegada numa cidade litorânea na Carolina do Norte. Sua vida começa a mudar quando ela encontra um bebê abandonado na sua porta. Um tempo depois, uma nova reviravolta acontece quando...