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Dove's Point of View

Despertei naturalmente antes mesmo que o celular alertasse, o quarto já estava mais iluminado devido as frestas de luz que escapavam das persianas mal fechadas, aquele não foi um detalhe ao qual eu me atentei ao entrar no quarto noite passada.

Noite passada.

Respirei fundo, pesado, com medo do que o despertar traria para mim, para nós. Engoli a seco e me alonguei, com calma, lentamente, tentando não fazer movimentos bruscos para não correr o risco de acordar Sofia, ainda faltavam mais de vinte minutos para o horário que havíamos programado de levantar, mas para minha felicidade, ou desespero completo, ela não estava lá.

Não senti nada com os movimentos que fiz na cama, receosa, corri o braço pelo lado onde lembrava de ver a mulher adormecer, nada além das cobertas. Sentindo meu coração começar a pesar toneladas, ergui a cabeça e encarei o vazio, desgostosa. O misto de sensações que me invadiu me deixou completamente enjoada e confusa. Sabia que não voltaria mais a dormir, e nem valeria a pena, então sentei-me na cama por instantes, encarando tudo ao redor e a cama, que era a única coisa que permanecia desarrumada, suspirando, levantei-me, caminhando completamente desnuda pela suíte, procurando em vão qualquer vestígio que a morena havia estado ali. Nada. Nenhuma roupa pelo chão, nenhum móvel ou objeto fora do lugar, nada! Se não fosse pelas marcas em meu corpo, seu inconfundível perfume impregnado em todo o lugar e ter acordado nua, eu poderia jurar que noite passada havia sido um surto psicótico. E aquele fato me deixou aflita.

Obviamente, como ela mesma disse, ela não estava me pedindo em casamento, não passava de um encontro casual de mulheres adultas. Mas meu estômago revirou ao ouvi-la me chamar de Dovey, meu coração amoleceu ao sentir sua mão em meu cabelo depois de cairmos exaustas no colchão, depois da melhor noite de sexo da minha vida, depois de desabar porque minhas pálpebras pareciam pesar toneladas, eu esperava no mínimo, vê-la ao despertar.

Mas não aconteceu, e eu não fazia ideia de como sairia desse quarto, de como a olharia de novo, naqueles malditos terninhos, vestidos e saias justas depois de ter visto a escultura divina que é o corpo daquela maldita sem nada o cobrindo. Eu não sabia como as coisas ficariam, não sabia como ela me trataria, não sabia se ela se lembraria, em detalhes, como eu lembrava de cada-maldito-instante! Aquela era a primeira vez que eu sucumbia ao desejo desesperado por alguém, onde eu deixava meu instinto sobrepor minha razão, e eu não poderia estar mais arrependida. Não depois de acordar sozinha na cobertura de um hotel de luxo na maldita Paris.

Eu estava com raiva. Com raiva de mim, dela, da situação, do universo. E voltar para aquela cama era tudo o que eu queria, mas eu ainda era a assistente dela, afinal, onde quer que ela estivesse, eu teria de estar lá antes.

Tomei um belo banho e me enfiei num conjunto de terninho azul claro, depois vesti o mesmo sobretudo do dia anterior, aparentemente o dia continuava bem frio. Gastei uns minutinhos de folga numa maquiagem leve e desci até o saguão principal, com o intuito de espera-la no hall para acompanhá-la aonde quer que fosse, mas assim que passei pelo salão principal, ouvi sua voz atrás de mim e me arrepiei inteira ao efeito que meu nome deixava seus lábios.

– Onde vai com tanta pressa, Cameron? — respirei fundo e virei-me em sua direção, inferno, ela estava ainda mais bonita aquela manhã. Escondida atrás de um belo sobretudo marrom e seus óculos escuros, mas o batom vermelho e o cabelo solto e incomumente desalinhado me fizeram perder o fôlego.

– E-eu estava indo procurá-la, senhorita Carson.

– Bom, me achou, agora vamos, estava apenas esperando você para sairmos, temos um dia cheio pela frente. — ou ela era muito boa atriz, ou realmente noite passada não havia significado nada, ou ela sequer lembrava, porque continuava fria e indiferente

The Woman That No One Knows | DofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora