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Sofia's Point of View

Eu sabia que por ter acabado de voltar pra casa, ficar muito tempo enfurnada no escritório levantaria suspeitas, eu sabia que a qualquer minuto minha irmã, mãe ou pai podiam invadir o lugar sem aviso prévio, eu sabia que se vissem tudo aquilo nossa família ruiria aos pedaços, eu estava ciente de tudo aquilo, ou melhor, a parte que ainda podia raciocinar do meu cérebro sabia, mas eu, pessoa comum que por muitas vezes esquecia – ou fingia esquecer – que era apenas um ser humano de carne e osso, estava sobrecarregada demais para reagir.

Quando ouvi as leves batidas na porta, meu corpo gelou mas não tive reação, segundos depois, a presença de Dove preencheu o lugar e eu respirei aliviada, lhe encarei assim que ela aproximou-se o suficiente, mas ao contrário de mim, que estava quase ajoelhando e agradecendo aos céus ser ela ali, a mulher empalideceu de forma a me deixar instantaneamente preocupada, ela encarava minhas mãos e meu olhos com tanta rapidez que até eu estava ficando tonta, mas parecia que nenhuma de nós sabia o que dizer, a tensão no ambiente era palpável, e não era nossa costumeira tensão, nós duas parecíamos querer que o chão se abrisse aos nossos pés.

Ouvi o suspiro desesperado de Dove e me senti culpada de certa forma de estar bisbilhotando por ali, mas a parte mais paranoica de mim, a que desconfiava até da própria sombra estava ali, como uma sombra, de fato, me perseguindo, e eu me perguntava: "se eu não tivesse achado, ela me contaria?". Minha cabeça estava um caos. Se meu corpo não estivesse tão dolorido, eu estaria rodando toda aquela sala, nervosa.

Dove sabia disso. Eu sabia que ela sabia.

Com toda a calma e paciência que eu sinceramente não sabia de onde ela havia tirado, Dove ajoelhou-se a minha frente, tomando a pasta de minhas mãos e largando-a na mesa, buscando o contato de suas mãos nas minhas e o contato visual, respirei fundo e encarei aqueles verdes límpidos, seus olhos me entregavam a confusão que se passava em sua cabeça sem que ela precisasse verbalizar, e eu duvidava que fosse apenas por ter me pego naquela situação.

– O quanto você estudou dessa pasta? — seu tom de voz era baixo, transmitindo uma calma que eu sabia que não havia como existir ali, mas ouvi-la me acalmou quase que instantaneamente.

– Acho que o suficiente... — Deixei no ar e a ruiva assentiu levemente

– E-eu posso explicar — lhe encarei buscando qualquer resquício de segundas intenções, de maldade, de caso pensado, ou eu confiava demais nela, ou realmente não havia nada daquilo ali, e Dove de fato, era uma pessoa completamente diferente das quais eu estava tão acostumada a lidar — Podemos sair daqui um minuto? Você precisa de um banho, e da sua cama. Também precisa tomar os remédios. — Sentir que sua prioridade era cuidar de mim aqueceu meu coração, mas não ajudou com o caos em minha mente

– Dove, isso muda tudo...

– Shh. Me dê um momento com você, e eu prometo que explico tudo. — Suspirei derrotada, o que mais eu poderia fazer?

A mulher levantou-se, deixou um beijo em minha testa, recolheu a pasta e todos os documentos pertencentes a ela e voltou a guardá-la no cofre, agora, trancando-o. Estendeu-me a mão, em silêncio a aceitei e segui a mulher. Bastou que se dessem conta de minha presença que praticamente todo mundo levantou ao mesmo tempo, estavam ainda em minha sala de estar, Sel, Lina e meus pais.

– Aconteceu alguma coisa? Vocês duas estão com caras de quem viu um fantasma — meu pai brincou, mas nem eu nem Dove conseguimos reagir aquela tentativa falha de quebrar o gelo

– Meus amores, eu sei que todos estamos extremamente aliviados e felizes com a volta de Sofia para casa, e sei que vai parecer muito egoísta de minha parte pedir por isso, mas poderiam, por favor, nos dar um momento? Eu preciso desesperadamente de um tempo com minha mulher.

The Woman That No One Knows | DofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora