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IM JAEBUM

Era aquele número. Eu reconheci imediatamente.

O mesmo que me ligou anos atrás, oferecendo-me o primeiro serviço, quando eu estava sozinho e completamente perdido, após a morte do meu pai.

Quando eu estava de luto, aceitando qualquer migalha que viesse à minha frente. Qualquer chance de sobrevivência. Quando eu não tinha droga alguma, além das dívidas daquele homem e meu orgulho ferido.

- Que porra você quer?! - indaguei furioso, assim que atendi.

A frase saiu ríspida dos meus lábios, enquanto eu olhava ao redor, conferindo se estava realmente sozinho, antes de atravessar o corredor, descendo as escadas apressado.

- Vejo que ainda se recorda perfeitamente desse número, Lim Jaebeom. Como tem passado? Já fazem alguns meses - o homem do outro lado da linha falou. Conseguia sentir que sorria para si mesmo, apenas pelo seu tom de voz presunçoso.

- Tive que decorar, para poder evitá-lo ao máximo.

- E mesmo assim, ainda atendeu a minha ligação de hoje.

- Não por vontade própria, acredite em mim.

- Não acho que tenha uma arma apontada para sua cabeça. Ainda não, pelo menos.

- O que quer dizer com isso?

- Continua nos devendo uma vida, garoto.

- Não devo porcaria alguma a vocês.

- Foi embora sem matar aquele homem.

- Mas devolvi o dinheiro. Centavo por centavo.

- E acha que isso é suficiente para eles?

- Não deveria ser?

- Descumpriu a porra sua palavra, esqueceu? Então fugiu, como um animalzinho assustado.

- Não deveria estar me ligando, Sullivan.

- Ligo para quem eu quiser, na hora que quiser. Achou mesmo que iria conseguir se esconder por muito tempo, garoto? Que teria uma vida feliz depois de todas as merdas que fez? Depois de todo o sangue que derramou? Toda a traição? - Sullivan perguntou friamente.

- Não sou um dos seus malditos traidores. E não temos mais assuntos a resolver.

- Tem certeza? Você acredita nas suas próprias palavras? Porque eu, não. Fugiu sem terminar seu serviço naquela noite, pirralho. Não consigo ver isso de outra forma além de traição. Quero dizer, covardia é um bom termo para isso, mas cá entre nós, você nunca foi um covarde.

- Deixei claro a todos vocês antes, quando disse que não queria mais fazer parte de toda aquela merda.

- E eu também deixei claro a você, quando ordenei que matasse aquele homem, custasse o que custasse.

- Ele era inocente.

- E daí? Que merda isso tem haver conosco? Ela ordenou.

- Não dava mais para mim. Aquela vida... aquela vida não era para mim.

- Aquela vida não era para você? Pelo amor de Deus, Jaebeom. Você só continuou vivo depois que o seu pai vigarista morreu por causa daquela vida! Por causa de mim! Porque virou a droga de um assassino e matou pessoas! Lhe demos uma segunda chance de crescer, garoto ingrato. De se reerguer e ter seu próprio dinheiro, seus próprios objetivos. - ele esbravejou, de maneira descrente, algo como decepção ecoando pela sua voz.

- E a que custo?! Derramando sangue e mais sangue nas minhas mãos, sem ao menos saber o motivo? Tirando a vida de homens que poderiam ou não ser inocentes? Todas as vezes que fecho meus olhos, Sullivan, eu os vejo. Os mortos. Cada um deles, tão desesperados, súplicos, arrependidos. Implorando por um perdão, uma segunda chance, oferecendo o dobro do que me pagavam, tudo isso para sobreviver.

- Sabia disso quando aceitou a proposta que lhe dei.

- Eu precisava de dinheiro na época.

- Haviam outros trabalhos. Poderia ter feito algo mais simples. Mas você aceitou os serviços, entrou para nossa irmandade por vontade própria. E diga o que quiser, mas sempre soube que no fundo, se encaixava com essa vida.

- Isso era antes, quando eu era um adolescente. Tinha perdido o pai há pouco tempo, não pensava tanto nas coisas nessa época, queria ser alguém importante rápido e me deixei agir pelo calor do momento. Foi um erro. Entrar para gangue, foi a porra de um erro tolo.

Um grande suspiro ecoou do outro lado da linha.

- Eles vão terminar o serviço, garoto - ele informou.

- Eu sei.

- E estão atrás de você também. Vão caçá-lo até o inferno, e então tortura-lo, antes de matá-lo pelo que não fez naquela noite. Acha que eles não sabem que além de ter permitido que aquele homem vivesse, também se juntou a ele?

Pondo a mão no bolso da calça, procurando meu cigarro, deixei um palavrão sair dos lábios ao recordar que havia deixado no quarto de Nalu.

- Estão me seguindo há algumas semanas, eu já tinha notado. Só não tinha certeza se estavam atrás de Holden ou de mim. Agora sei que são de ambos.

- Era seu último serviço, garoto. A única merda que você precisava fazer para fugir de Miami com dignidade e viver sua vidinha de merda em qualquer outro lugar.

É verdade, as coisas poderiam ter sido diferentes caso eu tivesse seguido as regras e matado Holden. Mas quão culpado me sentiria depois, quando voltasse para Coréia e encontrasse Nalu? E quando descobrisse que, por causa da sua vida miserável, ele havia matado uma das poucas pessoas que sobrou para ela? Precisaria manter esse segredo a sete chaves e, merda, não conseguiria. A culpa me consumiria pra caralho.

- Você está enrolando.

- Estou?

- Está, Sullivan. Qual o motivo da ligação?

- Digamos que fiquei um pouco curioso, depois que meus informantes reencontraram você. Ouvi que virou segurança. Combina com sua personalidade. Até que eles me contaram que você não é segurança de uma pessoa qualquer, mas sim da filha dele.

Meu corpo inteiro se arrepiou quando ele disse isso.

- Fique longe dela - praticamente rosnei tais palavras.

- Pode acreditar em mim, eu não estou nem aí para ela. Não como você. Mas preciso fazer o meu trabalho, Jaebeom. E eles também a querem agora. Vão matá-la.

- Só por cima do meu cadáver. O pai dela não irá fazer nada contra a filha.

- O pai dela? - Sullivan se permitiu rir. - Por que acha que é o pai dela que a quer morta?

- E quem seria, então, se não ele?

- Você sempre foi inteligente, garoto. Pense um pouco mais - o homem falou. - Bem, preciso desligar agora. Foi bom falar com você uma última vez, Jaebeom. Vou sentir saudades quando finalmente matarem você. 

- Sullivan, o que você... - eu voltei a falar, confuso, mas era tarde demais.

O homem que um dia  me ajudou a sobreviver e foi meu considerado  meu melhor amigo já havia desligado a ligação.

- Ele está blefando - digo para mim mesmo. 

Porque então, se não era o pai dela, quem diabos era o desgraçado por trás de todos esses ataques?

New security ❄ Im JaebumOnde histórias criam vida. Descubra agora