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Tia Cleo
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A primeira que vez que me encontrei com tia Cleo, eu tinha dezoito anos de idade. Foi na época em que a doença da mamãe se agravou em um nível absurdamente alto, fazendo-a precisar ficar internada com tempo indeterminado, por conta dos cuidados especiais e atendimento rápido.
Na época, papai estava bastante ocupado com as eleições e eu no meu último ano escolar, precisava focar em tirar notas boas para conseguir minha bolsa de artes em Nova York.
Sem tempo sobrando para estar vinte e quatro horas ao lado da sua mulher e presenciando o sofrimento diário de sua filha, que deixava de ir às aulas para ficar com sua mãe... papai optou por chamar tia Cleo, que na época, estava com passagem marcada para uma viagem voluntária na África. E apesar de belos anos terem se passado...eu ainda me recordo perfeitamente da sensação de vê-la pela primeira vez.
Ela adentrando no hospital com varias malas enormes... seu cabelo bagunçado, recém pintado de loiro... o sorriso em seus lábios rosados... seus olhos atenciosos e sua essência tão receptiva quanto intensa... Tão parecida com a mamãe em relação a aparência, mas tão diferente por espírito. Essência.
Inevitavelmente, aquela mescla de diferença e semelhança me fez pensar em como as pessoas eram únicas. Cada uma com seu próprio mundinho catastrófico. Cada uma com seus próprios problemas, momentos felizes e recomeços.
Diferente do que acontecia quando eu conhecia pessoas novas, nos demos bem desde o inicio. Desde aquela sua entrada escandalosa no hospital, ao enterro de mamãe e sua despedida para enfim seguir seus sonhos. Da nossa promessa, antes dela ir embora, murmurando que sempre que eu precisasse de uma ajuda sua, ela estaria pronta para voltar por mim.
Agora, dentro deste carro, eu me sentia tão nervosa quanto ansiosa. Sabia que tia Cleo era o tipo de pessoa livre, que vivia sua vida com aventuras impensáveis e era exatamente isso o que me assustava. Saber que embora eu tentasse fazer o mesmo, por conta da nossa promessa, eu ainda não conseguia chegar ao seu nível. Não inteiramente, ao menos. Eu ainda tinha os meus demônios internos. Meus traumas. O medo de perder alguém importante novamente. De me render a rotina e a mesmice. De ser mais uma pessoa única no mundo que se deixou levar pela rotina.
- Nós chegamos. - papai avisou. Ele sentava-se no banco da frente, e me encarava com um sorriso ansioso nos lábios. - Finalmente vamos ver aquela louca após tanto tempo. - falou, pagando o taxista e descendo do carro.
Deveria fazer o mesmo, claro que deveria. Descer do carro, pegar minha mala e caminhar junto a papai para dentro da casa. Todavia, meus pés não moviam-se. E se tia Cleo tivesse mudado? E se ficasse decepcionada comigo, após perceber que não consegui concluir nossa promessa? Eu não iria aguentar vê-la se decepcionar comigo.
- Nalu? Tudo bem com você? - abrindo a porta do carro e entrando no meio de meus pensamentos negativos, meu segurança perguntou, aproximando-se um pouco de mim. - Está enjoada ou algo do tipo?
Olhando-o nos olhos, soltei um pequeno sorriso. Como era possível que as vezes, encara-lo assim poderia ser capaz de me tranquilizar?
Assim como o dia da festa, meu celular perdido, o remédio para enjoo... Sempre que estava nervosa e ele aparecia, algo em mim se sentia melhor. Mais calma. Mais segura. Mais real. Até mesmo suas provocações me causavam uma paz estranha.
- Eu só estou um pouco nervosa, amigão. - disse, ainda dentro do carro. - Não vejo ela há tantos anos, que me sinto um pouco... insegura. E se não for mais como antes? Digo, aquele sentimento de antigamente...
Não soube dizer se ele havia entendido ao que eu estava me referindo, mas desejei que sim. Sempre acreditei que as pessoas eram feitas de momentos. Que elas interligavam-se com outras por conta de acontecimentos e experiências. Por conta de momentos únicos.
Tia Cleo e eu estávamos juntas antigamente porque possuíamos algo em comum. Algo que nos ligava: a mamãe. Depois que ela foi embora, tia Cleo também partiu. Foi seguir sua vida. Sei que é injusto pensar assim, mas e se por acaso, esse seu ato tivesse sido para nunca mais me ver? E se por acaso, sua única ligação fosse com sua irmã, e durante todo o tempo que estivéssemos juntas, eu apenas havia me iludido?
- Ei, olhe para mim. - ele pediu, ao notar que eu encarava minhas mãos. Sem reclamar ou dizer qualquer coisa, voltei a encara-lo. - Ela é sua tia, Nalu. Seja lá qual for o motivo que esteja deixando-a assim, apenas ignore. Independente de tudo, ou qualquer coisa que você fez ou até mesmo não fez, ela vai aceitar você. Apenas haja como sempre agiu. Apenas seja você mesma.
- A Nalu irritante e que tira os outros do sério? - perguntei, sorrindo. Não poderia perder a chance de dizer o que provavelmente, meu segurança considerava que eu fosse.
Revirando os olhos, como se já estivesse preparado para aquele tipo de pergunta, ele respondeu:
- A Nalu independente. Aquela que não precisa de ninguém. Que ignora o segurança e o faz ficar andando por ai feito um maluco, com medo de que algo de errado esteja acontecendo com ela, pois conhecendo-a bem como ele conhece, sabe que se meter em encrencas é um de seus vários charmes. Assim como agir de forma estranha. - sorrindo, ele estendeu a mão para mim. - E então, preparada?
Soltei um suspiro pesado, olhando para frente, vendo que um pouco impaciente e sem entender uma palavra do que nós falávamos, o taxista esperava que eu saísse do carro parra conseguir enfim seguir sua vida.
Seguir sua vida... Talvez, tia Cleo não estivesse se esquecido de mim. Talvez ela estivesse apenas seguindo o seu clico de vida. Seguindo seus sonhos. Continuando firme e forte, afinal, mamãe obviamente não iria querê-la triste, assim como ela também não desejava que eu fosse. Por isso, havia me convencido a fazer aquela promessa. Por isso, havia me convencido a viver. Não apenas existir, mas sim fazer a diferença na vida daqueles que eram significantes e importantes para mim.
- Preparada. - eu segurei a mão do segurança e desci do carro. De alguma forma, sua presença me fazia sentir que eu era capaz de fazer qualquer coisa. Que eu poderia ser eu mesma, sem sofrer as consequências disso, porque de fato, não havia. Ou não deveria haver.
- Bem, vamos lá. Acho que ela deve estar te esperando lá dentro. - ele falou, enquanto caminhávamos.
- É, bem, sim. - disse, sorrindo. Ele estava sendo compreensível comigo, então o mínimo que eu deveria fazer nesse momento, era ser sincera. - Não quero que você me mate... mas como estamos em um clima bom, eu queria contar, antes que você decida contar para o papai, que, bem, eu não estou grávida.
Parando de caminhar, ele apenas me encarou. Aquilo, de repente, me deixou um pouco aflita.
- Amigão? - perguntei. - Você por acaso escutou o que eu acabei de falar? Eu disse que...
- Não sou surdo. - ele falou. - Só estou tentando processar o fato que você talvez iria causar um tumulto desnecessário na família. - passando a mão por seu cabelo, ele soltou um suspiro.
- O que foi? Você não está bravo, está?
Meu segurança me encarou por alguns segundos. Não aquele tipo de olhar julgador ou coisa do tipo. Ele realmente me encarou. Como um garoto qualquer, ou um conhecido qualquer, é aquele ato fez um pequeno arrepio percorrer diante de todo o meu corpo. Por que ele estava me encarando assim?
- Eu só... deixa para lá, precisamos entrar, já perdermos tempo demais aqui fora. - falou, passando na minha frente.
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Dois capítulos pois fiquei muito tempo ausente. Espero que estejam gostando!!! ❤️❤️
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New security ❄ Im Jaebum
Hayran KurguNalu Holyn Wright é uma garota mais que astuta. Filha do tão reconhecido prefeito da cidade e ainda no início de sua vida adulta, entretanto, ela não é nem um pouco responsável. Após a morte de sua mãe, a menina passou a viver sua vida como se foss...