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Torta de limão

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Voltei para o meu quarto antes mesmo do café da manhã acabar, com uma desculpa de que estava cansada e com um pouco de dor de cabeça. Não que estivesse mentindo. Minha cabeça doía. Doía e muito. Mas tentei ignorar aquela sensação pulsante e torturando enquanto assimilava todos os acontecimentos naquela mesa. Enquanto processava as novidades, e os problemas futuros que isso me causaria.

- Estão apaixonados, Nalu. Pare de tentar colocar problemas aonde não há, e apenas aceite isso. Aceite que seu pai enfim está seguindo em frente. - murmurei para mim mesma, me levantando da cama e caminhando até o espelho.

Olhos castanhos, tristes e um pouco chorosos analisavam o quão estupidamente estúpida alguém parecia, e essa pessoa era eu. Eu, a pessoa que sempre agia forçadamente para as situações. Eu, aquela que nunca se deixava abalar. Eu, a orgulhosa, problemática, e imperfeita. Eu, que não era ninguém nem nada.

Tirei os saltos e comecei a abrir o zíper lateral do meu vestido vermelho, sem me importar com os próximos compromissos que precisaria comparecer daqui a algumas horas, pois no momento, tudo o que eu queria fazer, era relaxar. Dormir. Esquecer um pouco que o mundo continuava, e que tudo isso era normal. Novos relacionamentos. Novos encontros. Novas sensações.

Escutei batidas vindas da porta e corri para o meu guarda-roupa, pegando a primeira coisa que vi na frente: um moletom cinza e gigantesco. Vesti, peguei o vestido do chão e o enfiei dentro do guarda-roupa, antes de ouvir novas batidinhas e gritar:

- Pode entrar!

- Olá, querida. - Tereza murmurou, logo após abrir a porta e adentrar no quarto. - Seu pai me disse que você não estava se sentindo muito bem, então eu vim lhe trazer isso.

Imaginei que ela fosse me entregar algum remédio para dor cabeça, mas ao contrário desse meu pensamento, Terê mostrou-me uma coisa que me fez sorrir de orelha a orelha: Torta de limão. A minha preferida!

- Obrigada! - agradeci, indo em sua direção e abraçando-a. - Como sabia que eu estava afim de uma bela torta de limão?

- Você parecia um pouco incomodada lá embaixo, então apenas supus que isso melhoraria o seu dia, mesmo que pouco. - ela sorriu.

Algumas pessoas costumam contar como estão acostumadas a fazer tais coisas desde crianças, como dançar, desenhar, andar de skate entre várias outras coisas. Mas, no meu caso, a única coisa da qual eu poderia dizer veementemente que estava acostumada a fazer desde sempre, era provar diversas tortas de limão quando estava triste.

Tudo começou pelo dia em que eu voltei chorando para casa, após meu primeiro dia no cursinho de artes & design e mamãe a fez para mim, numa tentativa de me fazer sentir melhor. Eu tinha sete anos na época, e me sentia um lixo por não conseguir desenhar adequadamente. Me sentia um lixo por ver meus colegas rirem de mim.

Naquele dia, ela disse, com aqueles seus olhos brilhantes e o sorriso tão caloroso quanto o sol:"Não deixe que as falhas destruam sua chance de ser feliz, querida". Logo em seguida, ela entregou-me um pedaço de algo algo e murmurou:"Lembre-se, até as coisas mais insignificantes podem se transformar em algo incrível. Até algo azedo e de cor estranha, pode se transformar em algo doce e adorado por vários."

Desde então, eu aprendi a ser alguém consideravelmente melhor. Eu aprendi a amar a minha arte. A forma como eu expressava meus sentimentos com a pintura, e até mesmo as críticas amargas. E quando a sensação de cansaço batia, me pedindo para desistir, eu ia atrás de uma torta de limão. Era o meu modo de seguir em frente.

- Você acha que ele a ama, Terê? - eu perguntei, sentando em minha cama e suspirando. - Acha que ele finalmente esqueceu a mamãe?

Tereza juntou as sobrancelhas, caminhando em minha direção. Ela sentou-se na beirada da cama, pegou uma de minhas mãos e tentou sorrir.

- Querida... isso não é algo que eu possa responder. - ela disse. Tereza sempre odiava não ter as respostas para minha pergunta, mesmo que fossem bobas ou confusas o suficiente para ninguém na face da terra conseguir responder. - Mas, de uma coisa eu sei: você ainda ama. E amará para sempre, assim como ela amou você. Incondicionalmente. Verdadeiramente. Puramente.

- Sabe, eu estou tão cansada de tudo isso. - murmurei. - Estou tão cansada de agir sempre como os outros esperam que eu seja, e menos como eu realmente sou.

- Sei que é difícil ser a filhinha do prefeito, Nalu. Mas isso é um fardo que você precisa aceitar. Não pode simplesmente fugir e dar as costas para o seu pai. Você mesma sabe, ele é sua única família. - Tereza explicou. - E ele também ama você.

- O suficiente para não se casar? - perguntei. Era uma pergunta egoísta, eu sabia. Mas internamente, eu sentia que nada de bom viria desse casamento.

- Nalu...

- Eu não vou aprontar nada. - elevei minhas mãos em um sinal de paz. - Se não houver nada de errado, é claro...

Tereza revirou seus olhos e saiu do quarto. Ela me pediu para descansar após comer a torta, e eu obedeci. Precisava disso.

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desculpa o capítulo chatinho

New security ❄ Im JaebumOnde histórias criam vida. Descubra agora