Amargo café

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Manhã, sete horas. Um calor tolerável, pia com algumas louças. Hora de preparar um café. O ritual antes da rotina. É até relaxante permanecer encostado no armário enquanto a água ferve, mas confesso que algumas vezes me desligo da função e esqueço de colocar o pó no filtro. Hoje, assim como outras vezes, experimentei aumentar a dose. Variar a quantidade a ser coada, aumentar um pouco o açúcar. Era difícil propor uma dosagem com os pratos e talheres da noite anterior me encarando. Mas, logo estava tudo pronto. Era só mandar a água para dentro.
Antes mesmo de fechar a garrafa, já servi uma quantidade generosa em minha xícara de estimação. Sentei-me à mesa. A primeira bebericada foi interrompida por farelos endurecidos que estavam embaixo dos cotovelos. Talvez fosse um sinal para que eu não bebesse nada, pois aquele café estava horrível. Entristece-me ter que beber meia garrafa de algo ruim, mas, fazer o quê. O pó tá caro e nessas horas ao menos a cafeína será ingerida.
Ao longo do tempo fui desistindo de me cobrar tanto por ter feito esse tipo de coisa. Insistir em situações que eu sei que vão dar errado, ou que possuem alta probabilidade de me magoar. Ações que, assim como aquele café detestável, eu precisaria aturar até o final. O problema é que sempre existe aquele sentimento cochichando ao ouvido, dizendo que daquela vez dará certo. Quem sabe, a possibilidade não é nula. Eu apenas preciso acertar a quantidade de pó. Pode sair um café maravilhoso disso.
Mas, por precaução, amanhã tomarei chá. Apenas espero que, um dia, eu pare de tentar adoçar aquilo que eu sei que será amargo.

Essa toca que chamo de quartoOnde histórias criam vida. Descubra agora