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Bom dia, Sol. Por favor, me queime. Mostre-me que é possível sentir prazer maior do que este que acabou. Mostre-me que algo queima minha pele mais do que o toque dela.
Olá, nuvens. Não são as únicas a caminharem sem rumo. Eu estava seguindo seus passos. Vocês devem saber aonde vão, apesar do vento. Talvez pudessem me guiar. Eu perdi o rumo da minha casa depois daquele beijo.
As ruas que me desculpem a pressa. Vocês são perfeitamente acostumadas com o movimento. Eu andava rápido por causa da adrenalina. Ainda me consumia. Pouco tempo para fazer tudo o que eu queria. E não fiz.
Apareceu um sujeito. Fazia sua corrida matinal. Ouvia música, cantava junto. Que infeliz.
Havia um jardineiro. Podava as plantas com vigor. Ouvia música também, cantava junto, mostrava prazer no que fazia. Fiquei triste por ele.
No caminho, me deparei com uma senhora. Na varanda, alternava carícias entre seus gatos, enquanto aguava as plantas. Os chamava de amor, querido, coração. Estava contente. Abri um sorrisinho de lado e julguei.
Não me leve a mal. Me senti mal. O motivo, porém, era até que genuíno. Eu estava num êxtase tão grande que, de longe, nada se aproximava. Diga que a felicidade é relativa, vá lá.
Mas duvido que eles sentiam vontade de explodir de alegria. Apesar de confortáveis, nenhum deles estava com um sorriso de orelha à orelha. Nenhum deles repetiria a atividade em looping só por prazer.
Não se equiparava a te beijar de novo e de novo, até cansar. Até o pescoço perder a força de segurar minha cabeça em frente a sua.
Boa noite, Sol. Tu logo se vai. O dia passou. O desejo, não. A mesma música daquela manhã tocou até agora, sem parar. Não me resta muito a não ser aceitar minha condição.
Olá, Lua. Meu antigo amor. Tu me anima, sua presença é sinal de que coisas boas estão por vir. É sinal de que meu amor estará ao meu lado.
Tu é cúmplice. Apenas fica quieta ao alto, como se tivesse prazer em assistir.
Adeus, Lua. Outra noite acabou. Logo vou embora, com a mesma música na rádio e com o mesmo sorriso. Porém, sem saber quando irei me despedir de ti de novo, estando feliz.

Essa toca que chamo de quartoOnde histórias criam vida. Descubra agora