Uma tarde entediante é o suficiente para tornar os mais simples atrativos em grandes ladrões de atenção. Por exemplo, quando você coloca prendedores nos dedos e finge que são garras, ou quando enrola uma sacola plástica formando uma bolha e estourando-a depois. Ou pior, você pega o primeiro pano que vê em sua frente e tenta dobrá-lo colocando as pontas juntinhas, fazendo o possível para deixar tudo simétrico. E ainda por cima, falha.
Mas por sorte eu tenho outros badulaques para entreter minha alma. Nada complexo. Possuo um recipiente, diga-se um pratinho, cheio de uma areia branca. E sobre ela, sete pedrinhas rosa. Quartzos rosa. O conjunto é algo que chamam de Jardim de Pedras. Ele ainda vem acompanhado com um pequeno garfo que é usado para organizar a areia, para que você possa dispor as pedras da maneira que bem entender. Acredite se quiser, isso é uma das coisas mais relaxantes que já ganhei em minha vida. Um prato com areia, cheio de pedras.
Em certo momento, fiquei mexendo nas pedrinhas, até que peguei uma e fiquei rolando sobre a areia. Então me lembrei daquelas pessoas que dizem não ter sentimentos. "Não me apaixono mais, eu endureci". Ora, estaríamos nós nos tornando enormes pedras que apenas fazem peso no mundo? E seria o mundo um gigantesco jardim de pedras onde Deus nos coloca onde bem entende, rastelando nossas vidas da maneira que ele acha melhor?
Talvez seja assim. E que bom que seja, afinal é bom saber que há quem cuide desse imenso jardim. O pior mesmo é não haver ninguém, nem nada. O mundo, esse imenso prato cheio de areia branca e lotado de pedras. Algumas preciosas, outras nem tanto. E algumas que acham que são preciosas, mas não passam de Ouro de Tolo.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.