Noite fria. Para quem?
O ambiente quente, exalava ternura. Bancos confortáveis, mesa chamativa. Não me deixavam ir embora.
Vento frio, à quem assustava?
Palavras que me aqueciam, mesmo ditas à esmo. Conversas paralelas que faziam meu coração tilintar.
Não importava. A voz que tagarelava era audível até quando sussurava.
Minha atenção estava tomada. Não conseguia manter um diálogo sequer. Era impossível qualquer som ser mais importante que sua voz.
O gelo da madrugada se instalou. Para quem?
Era impossível sentir frio com você logo ao lado. O sangue nas minhas veias corriam com mais vontade conforme palavras saíam da tua boca. Difícil, por um momento achei que meu coração não suportaria.
Pode parecer exagero, mas só quem sente frio é capaz de entender como é ter a alma agasalhada.
Solidão, para quem?
Um abraço acolhedor vai além do desejo de beijar uma boca. Está no limiar entre estar prestes a ser abandonado e ser recolhido das profundezas.
Ironia, teu beijo é como ser resgatado à puxões do fundo do poço.
Era frio na barriga. Um desespero inocente e infantil frente à privação. Era o meu presente chorando de alegria por ter tido tal oportunidade, mas desolado e conformado com a consciência do meu futuro, que não poderá morder seus lábios novamente.
Que inverno é esse, fora de hora?
Meu corpo congelado e meu coração paralizado. Ele não bate, não expressa vida. A noite acabou, você se foi. Me resta somente o agasalho. A blusa mais pesada que existir no meu arsenal.
Brasa, na fogueira. Frente à nevasca, uma chama ameaçou surgir. Ardia de forma tímida, não só na tentativa de não chamar a atenção. Mas com o desejo de mostrar que uma fogueira mal acesa queima com mais vigor que um incêndio sem sentio.
E queima. A noite deixa de ser fria, a ventania cessa, a solidão vai embora e o inverno torna-se começo de primavera.
E eu, tomo meu rumo. Me agasalho e sigo para casa. A friagem não tomará conta do meu corpo. O tecido é grosso, minha pele estará protegida. Já meu coração, não se preocupe. Depois de te ver, ele ficou como um carvão retirado do meio da fogueira. Vai permanecer aceso, ao menos até o fim da noite. Tenho medo, apenas, de quando ele terminar de queimar e sobrarem apenas cinzas.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.