Tela preta. A luz do quarto não era capaz de ilumina-la. Era a noite, em minha janela. O extenso e misterioso céu negro reduzido à um retângulo. Não havia estrelas. As nuvens, camufladas pela escuridão, criavam a pintura.
Combinava muito com o horário. A madrugada quieta me trazia paz. A ausência de sons externos eram oportunos. Certas mentes, como a minha, se dispersam com tanta facilidade que tais momentos tornaram-se um luxo.
Um som que me induz a uma lembrança, a um cheiro, a um sentimento. Um pivô que faz meu cérebro trabalhar contra minha vontade e criar ligações com memórias que, até certo ponto, e relativamente falando, passaram despercebidas.
Mas, eu perdi o controle. Não apenas os sons, mas as imagens. Tudo começou a culminar em algo.
Não cabe aqui, em questões de simplicidade, dizer como um carro vermelho me lembrou de ti. Foi um pensamento tão acelerado que eu não fui capaz de raciocinar. Incontáveis informações foram ligadas e, no fim, lá estava seu rostinho, gravado por mim, que volta e meia me encara enquanto mexe no piercing.
Suspeito. Talvez, inexplicável. Mas o resultado é um fato.
Eu poderia pensar que seria um engano dizer que tudo leva à ti. Amor causa isso. Mas, sei que, fundamentalmente, é isso. Nossas raízes são tão profundas e entrelaçadas que posso sentir sua presença nos mínimos detalhes. Detalhes esses, que um infeliz qualquer que nunca experimentou tal sensação seria incapaz de compreender.
A tela brilhou. As nuves se dispersaram o suficiente para que Sirius surgisse. Chamou a atenção. A calmaria, era a mesma. Mesmo sem estímulo externo o pensamento estava preso à você. Acabei por concluir que minha rotina turbulenta me lembrava de ti pois, em meio ao caos, eu só queria paz. E você traz minha paz. E enquanto eu encarava minha janela escura, meu pensamentos estavam tão tranquilos que eles remeteriam ao que me faz feliz.
Sussurrei ao céu noturno que o amava. Na verdade, joguei ao vento. Eventualmente aquilo cairia em seus ouvidos. Isso foi só um exemplo para mim que uma madrugada quieta pode ser aconchegante.
Levantei-me e caminhei até a janela. Apoiei os braços no parapeito. A temperatura baixara consideravelmente em relação ao dia. Não havia problema. Aquele sorrisinho bobo estava estampado em mim e nada podia me atingir, nem mesmo a frente fria que abraçou a região. Não, não ia. Eu estava abraçado pelo teu amor e essa é a maior armadura que eu poderia vestir. Protegendo-me do frio, da tristeza, da solidão. Ela só não é capaz de impedir que eu me derreta completamente quando tu sorri para mim. Não há proteção contra isso.
Minto. Existe uma. Teu sorriso não me afeta se eu te beijar, já que teus lábios estariam ocupados. Mas, aí serei nocauteado por outro golpe inesquecível. Mas, não quero resistir à esse ataque.
A tela, de preta, foi ao azul marinho. A manhã chegou e nem fui capaz de perceber a passagem do tempo. Imahinar insistentemente o sabor e a textura do teu beijo me ipnotizavam o suficiente para que horas fossem minutos. Me recolhi para a cama, era hora de dormir. O dia já havia começado. Mas, meu relógio estava parado. O ponteiro da minha vida só iria tocar no dia em que você chegasse. E, então, eu alreciaria, com prazer e satisfação, cada segundo que ele marcasse.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.