Acontece que, durante a manhã, a cortina não tremula da mesma maneira, quando a brisa bate. Sempre um movimento aleatório, com um estalar nas pontas, quando o vento está mais forte.
Acontece que, mesmo preparando meu próprio café, toda manhã e tarde, o sabor nunca é o mesmo. Um pouco mais disso, um pouco menos daquilo. De maneira teimosa, não sigo uma receita.
Acontece que, mesmo eu sendo o mesmo ser humano medíocre de sempre, apoiado à porta, o Sol nunca nasce exatamente no mesmo lugar. Ele, deus pra uns, inspiração pra outros, mas, para todos, fonte de vida, não segue um padrão. Deveria eu, seguir?
Acontece que, apesar da mediocridade, eu vivi, por um tempo. Um belo dia eu acordei e fiquei feliz por estar vivo, e foi uma sensação que eu jamais quis que me abandonasse.
Mas, acontece que abandonou. Eu passei a sobreviver. Os dias se tornaram arrastados, cinzas, quietos. Era como estar dentro de um sarcófago de vidro. Eu via a vida ao meu redor e não me era permitido tocá-la.
Acontece que eu já não sei mais o que me faz respirar.
Acontece que... Tudo, de fato, tem um fim.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.