E a madrugada, é de quem? Esse espaço de tempo silencioso, muitas vezes o único momento das vinte e quatro horas do dia em que é mais fresco. Dona de brisas gélidas e inesperadas, casa de um mar escuro, onde algumas janelas se mostram vivas, esconderijos daqueles que não conseguem dormir. Um ou outro por aí busca abrigo neste pedacinho da noite. Alguns, curiosamente, são inflados com uma coragem insana, tornam-se capazes de enviar mensagens que outrora pareciam incabíveis. Outros, andam de mãos dadas com a insônia e permanecem reclusos em sua imaginação, pois ali podem criar cenários às vezes não tão plausíveis, mas que nunca tangenciarão a realidade, já que nem mesmo a madrugada imbui coragem suficiente para que o sonhador mande aquela mensagem.
Para gente como eu, que ri dos próprios infortúnios, há o nascer do Sol. Um misto de comicidade e amargor são expressos na forma de um levantar de sobrancelhas. "Eu passei a noite toda acordado". Às vezes, vale a pena. Horas de sono perdidas compensam dez minutos de conversa com uma determinada pessoa. Crueldade consigo mesmo? Talvez. Mas é um evento que pode preencher o vazio do resto da noite. O inevitável é ficar acordado, então, qualquer adicional, é lucro.
O estranho, na verdade, é pensar que, se em algum momento eu possuir o sono regulado, eu possa sentir saudade da quieta, às vezes fria, madrugada.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.