A noite não estava escura. Eu e a Lua trocávamos olhares. Senti que ela possuía certo interesse em mim. O enorme halo se estendia como braços abertos, como se quisesse me envolver e me acolher.
Não sentia o frio do chão. Meu corpo repousado no velho e judiado chão do quintal sentia-se afagado e acalentado. Era como se o solo estivesse contente por receber um filho novamente.
A corrente de ar tocava minha pele como se fôssemos amantes. Queria me levar para um último passeio. Não digo inesquecível, pois, depois da caminhada, haveria apenas escuridão, para mim.
Talvez não, se eu estivesse nos braços do grande astro que me encarava insistentemente. Me sentiria tranquilo enquanto estivesse em uma eterna dança noite afora, com minha nova companheira.
A respiração lenta denunciava o cansaço sentido pelos meus ossos. Essa mazela que se apossou do meu esqueleto desde o dia que nasci.
O último rolê era tentador. Fechar com chave de ouro essa sequência, mas não seria de cabeça erguida. Meu último olhar seria para a Lua, enquanto sussurraria baixinho que logo chegaria para fazer companhia.
Era difícil, nunca fui bom em dizer não, ou mentir. E talvez não fosse algo que eu devesse resistir.
Porém, o sono bateu com mais força. Não ousei mover um músculo sequer. Não queria espantar aquele que foi meu anjo da guarda tantas vezes. Acreditei ser prudente ouvir seu conselho. Me salvaram tantas vezes.
Perdoe-me, Lua. Irei adiar nosso abraço, por hora. Apenas espero que a vontade de te ver não seja maior que minha vontade de respirar.
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Essa toca que chamo de quarto
LosoweE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.