É realmente tentadora a ideia de manter uma garrafa de vinho em minha casa todas as semanas, para tomar pelo menos uma taça ao fim da tarde. Difícil, um vinho bom custa caro, meu bolso chora sempre que penso nela. Mas seria legal, gosto de imaginar como seria: a garrafa bem no meio da estante da sala e a taça me aguardando para o encontro pré-noturno. Algo para aquecer a noite. Dar um turbo no cérebro. Limparia todos os dias, logo cedo, o local onde a garrafa ficaria guardada. Chega a ser engraçado, montar um pequeno quarto onde cada semana teria uma garrafa diferente guardada. E antes que me chame de idiota, pare e pense se você não faz a mesma coisa, porém com pessoas. Não faz de seu coração a sua estante, esquece de tudo que está dentro dela e cuida apenas de um lugar, onde de tempos em tempos você coloca uma pessoa diferente e diz "eu te amo" a cada uma delas. Limpa, limpa, limpa... Diz que vai parar de beber, mas não consegue. Basta ver aquele rótulo atraente que logo você se lembra do sabor e corre para encher mais uma taça. Então, para alguns, há o momento que se descontrolam e bebem direto no gargalo. E quase se afogam. Mas fazer o quê, quando perguntam o porquê de você fazer isso, é dita sempre a mesma coisa: "é pelo prazer". Mas na realidade você quer acabar com a garrafa em tempo recorde para logo poder comprar outra, vai fazendo isso repetidas vezes na tentativa de achar um vinho melhor que o anterior. E assim como o vinho te deixa de ressaca, o amor também. Mas infelizmente a ressaca do amor dura muito, mas muito tempo a mais. Às vezes dura tempo suficiente para envelhecer uma nova garrafa de vinho.
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Essa toca que chamo de quarto
RandomE à noite, o único som que se ouve é o do teclado sendo judiado.