Hailee.- Eu também quero ficar bem.

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Hailee pov

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Hailee pov

           Jade está chorando agarrada a S/N desde que chegou da casa da avó, desde que chegou em casa e não viu Martini... acho que ela já esperava por isso de algum jeito, nós também, mas, ela não teve controle da aceitação, não pode esperar o baque.
       Martini não estava bem já fazia um tempo, um tumor maligno no pequeno ovário esquerdo e já sabíamos que não poderíamos fazer mais nada, já era tarde, ela era pequena demais e a cirurgia a traria sequelas se fosse feita com "sucesso". Então nós preferimos deixar com que ela fosse naturalmente, os remédio para mascarar a dor ajudavam, ela foi sem nenhuma dor, ela se foi deitadinha em sua cama acolchoada no quarto de Jade. A melhor amiga dela desde que nasceu, desde que aprendeu a dar carinho, a amar... desde que lhe pôs os olho inocentes. Martini e Jade, Jade e Martini... tão inseparáveis.
         Agora é somente Jade. Jade e nós.

       Entro no quarto com a mamadeira nas mãos, a mamadeira que refiz para minha filha pois não quis tomar a que fiz mais cedo, nem a que sua mãe lhe fez, está sem comer fazem algumas longas horas que só se tem acesa pelos fugares e perguntas repetitivas de dor e recusa, as única saídas quais tem agora.

- Querida, não quer?- Pergunto sem ter seus olhinhos molhados em mim.

- Não...- Um soluço arfado, seus pulmões esticam sua caixa torácica tão violentamente, eles puxam ar de uma vez.- não quero mãe...- Enfia o rosto no pescoço de S/N que também tem seus olhos vermelhos.

- Toma pelo menos um pouco, amor...- Minha esposa insiste com sua voz doce, mascarada o quanto pode para encorajar a menininha que abraça seu corpo, que segura uma mecha de seu cabelo tão possessivamente que suas juntinhas ficam brancas.

       Jade nega com a cabeça.
      Olho para S/A que também me olha novamente, um pedido de socorro mudo, nós não estávamos preparadas para o primeiro contato de Jade com a morte, nem ninguém nos ensinou como seria, nos deu previas disso só... não. O que gerou a nós o agora, ela mal, eu mal, S/N mal. A imagem dela chegando em casa sem receber a cadelinha pulando em suas perninhas já nos apertou o coração, quando ela correu chamando por seu nome para o quarto por esperar que ela estivesse lá, S/N já começava a chorar. Eu comecei a chorar. E quando contamos, ela travou, ela travou e depois correu para os braços de S/A que a pegou no colo, abraçou, chorou tudo em seus braços.

- Por que ela foi, mamãe? Por que? Ela tinha que ficar, eu pedi pra ela ficar, você lembra?- Outra lágrima saia dos olhos de minha mulher.

- Lembro meu amor.- Antes de Martini ir ela tinha esperanças, ela achava que iria ficar melhor, que estava tudo bem mas a velha Teenie já não era mais a mesma, nós sabiamos disso.

- Então por que foi? Foi porque eu fui pra casa da vovó e não levei ela? Eu teria ficado...- O choro impossível me queima a garganta em resposta a seus arfares violentos.

- Não minha filha, não foi culpa sua...- S/A novamente tenta lhe acalmar.- Teenie tinha seu tempo aqui, ele acabou. Agora é tempo dela em outro lugar...

       Coloco a mamadeira no móvel de cabeceira da cama e me sento ao lado de minha mulher no colchão, logo ela segura minha mão com a mão que rodeia o corpo de nossa filha.

- Mas ela ainda tinha que passar esse Natal comigo!- Seu rostinho se vira para minha direção, se apoiando em seu ombro.- Nós havíamos combinado, não é? Nós compramos vestidos combinando e seria muito legal como nos outros!- As lágrimas grossas deixam rastros por filetes em sua pele clara, as bochechas rosadas, os olhos pesados e cílios enxarcados e destacados.- Nós tiraríamos a foto na árvore, nós...- Soluça mais uma vez, sua barriga se contrai e retrai de uma vez por puxar ar, fazendo seu corpo ter espasmos.- Nós comeríamos o doce que a vovó faz e escutariamos rock, gostávamos daquela que você dizia que só pessoas de coração quebrado sabem... eu adoro aquela música.

- Você tinha muitos planos não é Furacãozinho?- Levo minha mão livre para seu rosto, passo os dedos por seu cabelo enrolado e escuro como os de sua mãe, retirando de seu rosto sua textura molhada.

- Nós tínhamos, mãe... não eram só meus...

         S/N suspira, seu rosto também filetado pelo rastramento de dor, sei que em seu ser há muitas dores assim como no meu. Teenie foi nossa primeira filha, desde nossos primeiros meses de namoro até agora, nosso quinto ano de casamento e quarto de maternidade, ela já viu tanta coisa, presenciou tanta coisa e acho que foi o serzinho que mais nos ajudou em questão de responsabilidade na vida. Ela foi nossa responsabilidade e passou a ser a aliada de Jade quando nasceu. Agora é nossa dor.

- Por que não os faz? Se ela gostaria de tê-los feito, não pare. Ela vai ficar feliz...- S/N fala.

- Mas sem ela não tem graça, e, não seria muito egoísmo?- Seus dedos passam pelo comprimento do cabelo de minha esposa a todo momento, tendo sua palma e dedo polegar os prendendo. Uma forma de tentar canalizar o que sente, sempre fez assim.

- Não minha vida, não seria. Os planos são de vocês, transforme-os em homenagens.- Limpo o canto de meu olho, uma lágrima teimosa quer descer.-  Você a ama, não é?

- Muito, muito mesmo.- Suas pálpebras inchadas se fecham, tão cansadas que não conseguem se conciliar abertas.

- Então os faça.

       S/A encosta a cabeça na dela, permitindo  seu choro vir, ela não iria ver. Não pude evitar de chorar diante disso também.

- Mas sem ela não há graça e eu estou chateada. Não quero pensar em festas ainda.- O rosto torna a virar-se para o pescoço de S/N, se esconder.

- Faça ter graça por ela, minha filha.

- Mamãe... ainda não sei como fazer isso. Não tenho como saber.- A voz fraca sai suspirada, não há mais tanta força para falar como antes tinha para chorar. Há mais de uma hora e meia chora sem parar... o que mais queremos agora é que durma, que pelo menos durma.

- Você vai saber, o Natal vai demorar um pouco. E vai ficar tudo bem, está tudo bem...- S/N fala sem falha. Me impressiona que ponha uma máscara até na voz para que ela se sinta conformada.

- Vou?

- Vai meu amor...

- Mas como? Eu não vejo o dia sem ela. Quem me acordará de manhã? Quem vai me receber ou ir comprar as roupas de Natal comigo? Quem vai correr atrás de Barth do titio Griffin comigo?

- Nós vamos nos adaptar a isso, amor... o tempo sempre tende a nos adaptar as mudanças, pois sempre elas tem de acontecer. É inevitável e sempre acaba tudo bem.- S/N engole seco consertando o corpo menor ao seu, deitando-a confortavelmente com o intuito de incentivá-la a dormir.- Se agarre a boas memórias, a boas coisas e ações. É disso que Teenie precisa, é disso que você e até nós mesmas precisamos. Vai ficar tudo bem...- Beija a cabeça dela em carinho.

- Mas agora não está nada bem... eu não estou bem. Eu quero Martini.- Uma última e única lágrima sobrevivente desce dos olhos fechados.

- Sabemos amor, sabemos.- Suspiro.- Não tem que ficar bem agora, sinta o que puder, sorria quando tiver vontade, chore quando tiver vontade e não se pressione a sentir o que não quer ou que um sentimento de prontificação chegue mais rápido. Só... caminhe com calma.- Beijo a bochecha de S/N que vira seu rosto encostando a testa na minha.

      Alguns minutos de silêncio foram postos. Quase achamos que ela havia dormido, claro que depois do olhar os espasmos pela caixa torácica denominamos que ainda acordava... mas logo se acalmou, os olhos fechados tampavam a luz, tampavam o cansaço lhe proporcionando uma desvista da dor.

- Eu quero a Teenie mamãe... mas ela está bem, não é?- Diz baixinho, agarrada a S/N.

- Está amor, ela está bem.- Digo com a mesma entonação de voz, baixa para não lhe tirar a concentração do sono.

- Eu também quero ficar bem...

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 𝐒𝐓𝐄𝐈𝐍𝐅𝐄𝐋𝐃Onde histórias criam vida. Descubra agora