Hailee.- O coelho, a raposa, o cão e a bala.

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Narradora pov

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Narradora pov

        O ano era mil novecentos e setenta, as casas em Londres tinham chaminés, tapetes quentes e vidraçarias que evitavam o frio e a neve branca ao lado de fora. Havia nuvens escuras aos céus e árvores sem folhas. Nessa mesma época há corações quebrados, há remendos, há persistência assim como ocorre desistência... o lado ruim persegue o bom e ambos se enroscam e lutam por tomar o tempo, assim como uma raposa corre atrás de um Coelho, assim como o cão persegue a raposa, que é perseguida pelo cão, que é seguido pela bala de chumbo.

- Era uma vez, um pequeno príncipe que morava em um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um amigo...

         O garoto confuso olhou para a mãe e fez uma careta de confusão levando um sorriso mínimo nascer no rosto dela.

- Ele vai crescer?- Perguntou.

          Steinfeld balançou a cabeça, negando, suspirando um ar inocente.

- Não...

- Hm? Como?- Arthur arregalou os olhos.

- O destino dele é ser sempre daquele jeito. Ele não é um garoto comum.- Hailee confirmou como se fosse algo confirmado, catalogado, como uma certeza óbvia.

            O garoto de cabelos escuros franziu o cenho, é a primeira vez que processa algo assim, a primeira das histórias irreais.

- Isso deve ser tão ruim...- Questionou em voz alta, questão que montava em sua mente.

- Não crescer?- A mãe ergue uma sobrancelha gentilmente, recebendo a afirmação do menino em um aceno.- Eu acho que não...

- Não? Por que?

- Porque...- Ela olhou em volta. O quarto azul decorado de estrelas e estantes de brinquedos com livros... tudo parecia uma resposta.- Porque quando se é menor, criança, é tudo mais fácil. Quando as dificuldades aparecem, sempre há uma luz, todo mundo tenta fazer ser mais fácil para alguém mais jovem...

- E mesmo assim não fica mais fácil.- Ele determina.

- Como não?- Hailee volta a olhar para ele, voltando seu rosto mais rápido que poderia imaginar.

- Bom...- Ele olhou para suas mãos em cima do edredom azul escuro.- Eu nunca sei se está tudo bem.- Hailee ficou confusa mas nao comentou nada.- Eu nunca sei de nada.

- Mas você vai saber na hora certa.- Consolou.

- Não, eu não vou.- Ergueu o olhar para a mãe. Um olhar honesto que não esconde o incômodo melancólico.- Sei que ainda sou novo e há um mundo enorme por aí... mas... qual a vantagem de descobrir o mundo quando todo mundo facilita para mim? Quero dizer, eu sei que posso ser mais do que sou e entender se me explicarem, se forem honestos comigo. Mesmo que seja ruim. Entendeu? Eu não quero só saber do fácil, sei que mundo não é assim.

          Steinfeld abriu a boca para falar algo, a resposta parece fácil, não?
         O Coelho corre...

- Querido, as vezes são coisas chatas e sem graça de adultos. Você é tão legal e...

- Se é sem graça, por que deixa tudo tão abalado?

- Abalado?- Hailee sentiu o coração errar.- Não, não mesmo.- É meio difícil falar sobre isso.
          É meio difícil despistar a raposa.

       O menino suspira e entrelaça os próprios dedos das mãos, achando uma maneira.

- Eu sinto. E o pior é que eu sinto e não sei de uma resposta correta.- Arthur sente os olhos da mãe sobre si e se sente honrado por ter sua atenção.- Eu fico perdido. Fico preso em mim enquanto todo mundo, todos os adultos sentem algo que eu também sinto, mas sinto confusão também. E é tão...- Suspira.- Difícil. Eu não gosto que mintam pra mim. Assim como não gosta que eu minta para você ou para mamãe.

          Hailee se sentiu amolecer. Ela sente medo, as coisas não tem sido fáceis e...

- Eu posso também não saber da resposta.

        Um bolo se formou na garganta de Hailee, ela sabe que ele sente e que não adianta tentar esconder, mas ela o fará, ela e S/n farão até o fim. Torcem para que não haja um fim.

- Mas... nunca sabe quando tenta negar que algo está ali, e que acontece.- Arthur sorri.- Mãe...- a chama e ela volta a olhar para ele com um esforço.- Como se sente?

           Steinfeld mais velha engole seco. Ela é forte.
          Mesmo quando a raposa pega o Coelho.

- Bem.- Diz baixo.

- A verdade.- Ele insiste, sorrindo pouco, incentivando-a.- Por favor...

            A mulher estufa o peito e sorri, deixando a angústia ali no fundo do coração. Por algum motivo.
           Há medo...

- Me sinto esperançosa.- Ela é honesta.

           Hailee levanta o braço e leva a mão para o cabelo do filho, passando-a por ali, sentindo a maciez dos fios, recordando-os...

- Isso é bom.- Seu sorriso é triste.- Devo me sentir esperançoso também então.

         A mãe se inclina e beija a testa do garoto em uma demonstração de amor infinito, ali não há tanta dor. Do lado de dentro não há tanta dor...
         O cão encontra a raposa distraída...

- Deve...- Ela volta a endireitar sua postura e após isso se levanta.

- Boa noite?

- Boa noite, querido.

       Hailee anda até a porta em silêncio, escutando o barulho de seu coração desesperado no peito.

- Mãe...- Ele chama quando ela está na porta.- Eu sou um garoto comum?

       Hailee colocou a mão na massaneta e abriu a porta, ainda olhando para o filho ali...

- Não. Não mesmo.- Ela diz com convicção.- Você é meu garoto. É amado mais que pode imaginar e é a melhor coisa em nossas vidas. Você é nosso melhor amigo...

- Até o fim?

- Até o fim...

       Ela o observa a se deitar direito, todos os movimentos, de se desescorar da cabeceira, de ajeitar o edredom pesado, de encolher as pernas e de ao final, lhe olhar com um sorriso e levantar um "joia" com a mão.
       Assim ela sorri de volta e fecha a porta.

        Alguns minutos se passaram e a mulher ainda estava ali, de cabeça baixa e com muitos fatos na língua. Angustiada, se sentindo amarrada, ela sai dali, desce as escadas e encontra no andar de baixo a esposa.

- Tudo bem?- Hailee pergunta.

        S/n balança a cabeça e lhe olha sorrindo pequeno. Hailee por algum motivo esperou que aquilo fosse algo melhor.
         O cão pega a raposa...

- Ele dormiu?- Se levanta e dá alguns passos de encontro a outra.

- Sim... deu certo?- Questiona sem paciência.

            A mais nova engoliu o que tinha de engolir e lhe deu as mãos.
             A bala vem...

- Se quisermos que de certo, vamos ter que começar as sessões de quimioterapia dele essa semana...

          E atinge o cão.
          E no ano frio de mil novecentos e setenta, de dias banhados de neve ao final do ano, com corações quebrados, ou remendados, ou cheios... o tempo acabava e tudo se resumia a nada.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 𝐒𝐓𝐄𝐈𝐍𝐅𝐄𝐋𝐃Onde histórias criam vida. Descubra agora