Kate Bishop- Liberdade.

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Kate's pov

            Eu me perguntei diversas vezes sobre liberdade ao decorrer de minha adolescência, minha passagem da vida de adolescente para de uma adulta, jovem adulta. Percebendo que nunca tive relações com pessoas da minha idade como meus amigos, ou que fui em muitas festas, que enchi a cara e cheguei em casa no outro dia, me afundei no questionamento, perguntando a mim mesma se algo estava errado. Quero dizer, eu nunca me senti a vontade com todas essas opções... de algum modo sempre me contive por não sentir que ali não era zona de conforto. Nunca me dei liberdade própria para ir, para experimentar, desaprovar ou aprovar... não. Logo me senti atrasada, fora de órbita quando escutava sobre as relações de pessoas próximas a mim, de minha idade ou próxima porque eu não fazia nada daquilo, eu não sentia vontade, porém me tornava um tanto deprimida ao perceber isso. O problema era eu e naquele momento nada mudaria, não queria mudar, não estava preparada.
           As consequências disso, reconheço, me trouxeram descobertas tardias. Reconheci algumas de minhas vontades tarde, reconheci gostos dos quais não precisaria saber mas eu gostei de ter sabido, reconheci gostos também necessários demais e que antes eu poderia ter descoberto. Tudo isso me gerou uma carga enorme, de repente o mundo começou a ser vasto e por necessidade eu me adaptava a ele ao descobrir sobre mim. As coisas começaram também a ser mais difíceis, pessoas são difíceis.

         Aos meus dezoito eu comecei a ter mais coragem para sair, para me deixar levar por pessoas diferentes das de meus convívio. Aprendi logo que pessoas são diversas e que cada uma tem seu próprio "eu" e que respeito é totalmente necessário, e pode prever meio nova esta frase porque é muito óbvio a todo mundo... sim, é óbvio na teoria. A prática pode ser muito difícil porque essas singularidades podem ser usadas para atingirem pontos fracos, para ofender a integridade de alguém digno. Então... saber que pessoas são diferentes e devem ser respeitadas é fácil, porém a maioria das pessoas ignoram a parte do que diz respeito ao próprio respeito. Isso quando não é de maneira disfarçada, ou quando não assumem o erro próprio porque foi um "ato simples", "Eu?! Mas eu nunca seria homofóbico!", "racista?! Eu nunca!", "Mas isso eu diria para qualquer pessoa!". Todo mundo nega antes de assumir um erro e de fato se comprometer a prender com ele. Atos simples não deixam de serem atos errados, que machucam.
      Pessoas são complicadas... pessoas conseguem ser alvos de pessoas em diversas bolhas da sociedade, diretamente ou indiretamente.

      Porém pessoas também podem ser incríveis! Conheci alguns de meus amigos mais antigos quando tive a oportunidade de sair para uma festa simples, ou em um after hour na casa de um outro amigo que sempre me chamava e eu cancelava porque sempre estava "cansada demais", "no dia não dava", "é muito tarde, tenho que levantar mais cedo amanhã". Pessoas incríveis são pessoas incríveis, porém achá-las é mais difícil, tudo se trata de garimpo e saber garimpar também faz parte pois é por isso que continua a garimpar, para achar algo bom, e é difícil. Nem sempre o brilhante está ali, ou pode ser um brilhante falso tão bonito quanto, mas, nunca valioso o suficiente ou mais valioso. Também pode só não servir para você, vir e ir. Então, saber deixar ir também é parte e não faz conjunto das coisas fáceis, não quando vai deixar marca ou cicatriz.
         Acho que o que não contam sobre as feridas deixadas por pessoas é que elas se fecham, sim, se fecham e deixam as marcas visíveis. Mas tudo fecha no final, se transforma e resignifica porque tudo se trata de pessoas e pessoas vivem momentos diversos ao longo de suas vidas. Tudo muda. Vai doer? Vai, porém precisa ser enfrentado, e, a coragem vem quando assumimos que essas dores precisam ser tomadas e sentidas. A gente tem tanto medo da queda que faz de tudo pra não cair, isso também machuca, pode machucar mais que um baque que te faz levantar após o chão.

             Também aprendi sobre sexualidade, essa qual achei que nunca me bateria quanto bateu... como eu disse, minha pessoa era tão acomodada e enclausurada em uma só ideia de mundo, que não pensava sobre o que eu gostava, ou que de fato era, sou. Nunca fui de me envolver, nunca mesmo, meu primeiro beijo foi aos dezesseis, na escola quando a sala toda estava em uma recreação da qual ninguém prestava atenção. Jogamos o fatídico "verdade ou desafio" e foi ali, na época eu tinha um melhor amigo que beijei. Foi horrível. Ele era meu melhor amigo! Nunca o vi com outras intenções, sei que parti seu coração. E os olhos... havia muita gente em volta gritando por isso, era um desafio cheio de pressão e... aquilo não era pra mim. Depois de meses nós só nos afastamos pois ele ao contrário de mim sentia algo. Algo que eu não conseguia corresponder.
            Foi meu primeiro trauma boca a boca. Acho que só fui deixar esse trauma de lado quando me embebedei o suficiente para ficar a vontade em meio a pessoas numa pista de dança. Novamente cito meus dezoito, dezenove, a época mágica e mais emocionante... nessa carga de emoção beijei algumas bocas, odiei imediatamente a primeira naquela noite, era um garoto que chegou em mim, tinha uma conversa legal porém quando vi eu já queria sumir. Achei que nem teria ânimo para mais nada na noite, um engano. Mais tarde na noite fui posta à prova, quando vi que uma figura feminina havia me encantado pensei primeiro no que os outros pensariam caso eu fosse, porém, a vontade falou mais alto. Eu estava curiosa, ela era bonita demais, a conversa sensacional e o álcool melhorou tudo. Boom! O melhor beijo que já havia dado, não que eu fosse uma beijadora nata mas... o jeito, as mãos, o sabor, me senti confortável.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 𝐒𝐓𝐄𝐈𝐍𝐅𝐄𝐋𝐃Onde histórias criam vida. Descubra agora