A acrobacia de uma rosa

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Londres, 1833

Palácio Real

Direita, esquerda, esquerda, direita, esquerda...

Catarina repetia o caminho entre o jardim-labirinto enquanto podia escutar a valsa sendo tocada dentro do palácio.

Ela precisava ser rápida ou logo sentiriam falta da princesa e então iriam procurá-la.

Depois de dois minutos, seria levada novamente para o baile.

Mais um baile.

A temporada Londrina e o seu aniversário estavam chegando, e com eles, mais bailes. A única época do ano em que seus deveres e treinamento Real eram interrompidos e, o que deveria ser divertido, se tornava sufocante.

Ser a futura rainha da Grã-Bretanha era um fardo, mas era o seu destino. Liderar e lidar com questões políticas era uma grande preocupação, mas ter que ficar tanto tempo rodeada por pessoas que ela certamente não suportava a presença era desgastante demais.

E era nesses momentos que ela fugia.

Catarina simplesmente atravessava o jardim, entrava em uma passagem e pulava o muro para fora do perímetro do palácio.

Ela estava quase conseguindo, atravessou pela parede falsa e entrou em um jardim reservado, ele era bem menor, com cerca de seis metros quadrados que seus irmãos apelidaram de "O refúgio da princesa", ele era secreto para a maioria das pessoas, apenas a Família Real e amigos próximos tinham conhecimento dele.

Ela passou pelo roseiral e começou a subir a escada posicionada no muro. Era como se estivesse sufocando, sentia que o ar daquele lugar era tóxico e que precisava se encontrar com a única pessoa que não se importava com o fato dela ser a princesa, que era verdadeira e que a entendia perfeitamente.

A única pessoa que ela mostrava o seu lado mais vulnerável.

Catarina já estava no topo do muro, tirou a perna da escada e a esticou para se apoiar antes de pular. O ar fresco da noite que passava por cima do muro parecia relaxá-la instantaneamente.

Ela levou a mão até seu penteado e o desfez completamente, seu longo cabelo escuro caiu sobre suas costas, aliviando sua cabeça que já estava dolorida.

Catarina já conseguia sentir a sensação de estar do outro lado quando uma voz ecoou atrás de si.

– Boa noite, Princesinha.

Três palavras acompanhadas daquela maldita voz que ela se lembraria até mesmo se ficasse surda, foram o suficiente para Catarina se desequilibrar do muro e cair na terra, ao lado do roseiral.

E lá estava ele, o Marquês de Lowell. O homem que mais conseguia irritar Catarina. Ela levantou a cabeça e o olhou de baixo para cima. E como sempre, para aborrecê-la ainda mais, ele estava impecável. As botas pretas perfeitamente lustradas se misturavam com a calça e o casaco escuro, o que destacava a camisa branca por dentro e os olhos que tinham um tom de verde que parecia ter sido formulado cuidadosamente para harmonizar com o cabelo cor de mel.

Catarina detestava como tudo nele parecia tão absurdamente bonito que sequer a cicatriz que ia como uma linha fina da metade da bochecha esquerda até um pouco acima da sobrancelha, o deixava menos desejável, pelo contrário, apenas alimentava sua aura misteriosa e serena.

Ele se aproximou devagar, como um gato traiçoeiro já que, infelizmente, ele era absolutamente tudo perto dela, menos sereno.

– Eu devo parabenizá-la por sua miserável acrobacia, Princesinha?

Catarina forçou um sorriso.

– E eu? Devo parabenizá-lo pela miserável presença, Marquês?

Ele sorriu verdadeiramente. E ela quis socá-lo por isso.

O Marquês Desejado Onde histórias criam vida. Descubra agora