Cartas em vermelho bordô

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Perigo

– Sua mãe é inteligente, deixou uma mensagem escondida que apenas você veria e descobriria… – Doug ainda encarava o papel – Se ela fez isso poucos dias depois que você embarcou, eu acho que não estou errado na minha teoria de que algo já estava acontecendo antes de você ir, e eu ouso dizer até que esse foi um dos motivos para terem deixado você partir.

– Eu também pensei nisso… – Catarina respirou o ar frio da noite, encarando o roseiral – Se minha mãe fez isso, ela e meu pai devem ter discutido.

– Algo aconteceu e ele quer esconder dos filhos, mas ela achava que ao menos você devia saber e deu seu jeito antes de sair do Palácio. – Deduziu.

– Exatamente. – Catarina afundou a cabeça nas mãos, deixando sua aflição vir à tona. Tudo parecia ter virado de cabeça para baixo enquanto ela estava fora – Meu pai não veio me ver desde que cheguei e meus irmãos também não estão no palácio. – Contou e voltou a encará-lo – Disseram-me que eles foram ao campo passar a semana e que em breve estariam aqui… Nada disso faz sentido, antes não podíamos sair, agora podemos ficar no campo, na Escócia ou seja qual for o lugar, e teoricamente, até a minha mãe está na América, o que sabemos que não é verdade… Ou talvez tenha ido, eu não sei mais de nada. Meu pai parece estar fugindo de mim, minha mãe desapareceu e meus irmãos sumiram… – Catarina se levantou e começou a andar em círculos, precisava descarregar aquela enxurrada de sentimentos.

Doug suspirou. De fato, era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e eles sabiam de muito pouco para fazer alguma teoria plausível.

– Estou com o pressentimento de que uma faca vai atravessar minhas costas e eu não vou sequer ver de onde ela veio. – Desabafou Catarina ainda andando em círculos cada vez mais rápido, como se seus passos acelerassem conforme sua ansiedade crescia.

– Você está magoada com seu pai? – A pergunta de Doug fez Catarina parar no mesmo instante – Conhecendo você, deve estar chateada por ele não lhe dar nenhuma resposta.

Ela suspirou e voltou a se sentar no banco ao lado do Marquês.

– Eu fiquei brava e magoada enquanto pensava nisso… Tudo o que passava pela minha cabeça era "Por que ele não confia em mim?" "Por que está escondendo o que está acontecendo?" … "Por que ele não conta comigo?". – Doug estendeu sua mão até a dela, sobrepondo-a – E depois de pensar eu cheguei a conclusão de que o fato dele não confiar em mim é porque eu não tenho tido uma postura ao qual inspirasse confiança para ele. – Admitiu. Era doloroso, mas ela sabia melhor do que ninguém que não era o exemplo claro de maturidade antes.

– Isso vai mudar quando ele ver que você amadureceu mais um pouco depois de voltar da Escócia. – Abraçou-a de lado, pousando o braço no ombro dela e inclinando sua cabeça sobre seu cabelo escuro – Nathaniel já viu e viveu experiências horríveis, ele quer apenas proteger vocês – Catarina ficou em silêncio, e Doug quase podia ouvir seu cérebro trabalhando. Além de um possível ataque político, a relação dela com seu pai e de como ele a via também estava em jogo – Você vai confrontá-lo. – Deduziu.

– Preciso mostrar a ele que pode me ver como sucessora e dividir esses problemas comigo… Ao menos tentar já que sei que sua visão sobre mim não vai mudar em uma conversa. Mas enquanto isso não acontece, podemos adiar o anúncio do nosso noivado? – Olhou-o diretamente nas belas orbes esmeraldas – Eu sinto que meu pai confia mais você do que em mim para certos assuntos, se ele souber que estamos juntos, vamos ficar ainda mais no escuro.

– Eu não tenho problemas em adiar o anúncio do noivado, mas eu não diria com tanta certeza de que ele irá me contar algo sobre o que está acontecendo. – Foi sincero. Eles tinham uma ótima relação, mas ele vivia muito afastado do palácio para manter uma convivência.

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