O ponto final de uma velha história

222 35 23
                                    

O vento soprava mais forte naquele palácio antigo pela latitude. A Sociedade Privada atravessou o gramado que passava da altura de seus joelhos.
O dia estava cinzento e uma fina garoa caía sobre suas cabeças. Doug respirou fundo, sentindo o cheiro recente de terra molhada.
Eles tinham apenas um plano duvidoso e arriscado, que ainda por cima não dependia apenas deles.

– Que Deus nos ajude. – Sussurrou para sua irmã.

A duquesa de Lancaster concordou, fechando os olhos por um segundo enquanto andavam, como se estivesse fazendo uma prece.

– Eu ia dizer para você tentar fugir se algo der errado, mas considerando o seu histórico, eu duvido que isso funcione.

– Eu não vou embora, Davina.

– É sua última chance. Quando entrarmos, não sabemos quando será possível.

– Não vamos discutir sobre isso.

– Pelo amor de Deus, Doug. Você está praticamente cego. – Davina parou de andar e segurou o braço dele. Os outros olharam para trás, mas resolveram não intervir na discussão dos irmãos dessa vez e continuaram andando. No fundo, nenhum deles queria que Doug estivesse ali – Você está machucado, não enxerga direito e pode ter uma crise. É perigoso demais.

– Ian disse que-

– Ele disse aquilo para que Ise e Nathaniel concordassem com vinda dele, a de Bruce e a minha. – Ele se aproximou, segurando os braços daquele homem que um dia foi menor que ela e que agora tinha o dobro de seu tamanho, mas era mais frágil – Doug, você era a pessoa mais racional aqui.

– Davina, eu não quero brigar com você. – Virou-se, mas ela agarrou seu ombro. Doug suspirou, sua paciência ali estava se esgotando – Você fez o mesmo no passado. Arriscou sua vida mesmo não conseguindo lutar.

– Eu era jovem e imatura, Doug. Faria diferente se pudesse, mas não posso. Escute-me! – Segurou sua camisa prendendo a atenção dele – Você é meu irmão mais novo e eu não consegui te proteger. Se eu pudesse voltar no passado, teria deixado você em uma igreja antes de partir com todos para Londres quando levamos Nathaniel de volta. Aliás, teria voltado para ficar com você assim que descobrisse que estava grávida de David. Teria feito inúmeras coisas diferentes, eu juro. – Encarou seus olhos verdes perdidos que quase não tinham luz – Não cometa os mesmos erros que eu. O que você está fazendo é suicídio.

Doug suspirou e se afastou dela.

– Eu sei que quer me proteger. Mas eu faço minhas próprias escolhas agora.

A voz de Davina ficou embargada, teria que ser mais dura para convencê-lo.

– O plano é arriscado, você vai atrapalhar se tivermos que te salvar.

Doug não parecia afetado com as palavras dela, talvez porque soubesse que era verdade.

– Eu não tenho medo de morrer, se for preciso então apenas me deixem e fujam.

– Nós nunca faríamos isso.

– EU ESTOU CANSADO. – Gritou de uma vez. O grupo parou de andar e se aproximou devagar da discussão deles – Se eu sobreviver, ótimo vou me casar com Catarina e seguir a vida, se eu morrer, ótimo também, vou finalmente descansar. E eu sei que ouvir isso dói, mas me permita ser egoísta um pouco, eu acho que mereço ao menos isso.

Davina ficou em silêncio, absorvendo as palavras dele.

– E quanto a Catarina? Como ela vai ficar sabendo que você morreu por ela?

– Ela vai superar e encontrar alguém melhor. Catarina é muito mais forte do que todos vocês pensam.

Davina negou com a cabeça, sentindo lágrimas quentes descerem sobre suas bochechas sardentas. Os olhos claros estavam cheios de dor e desespero. Não adiantava dizer mais nada.

O Marquês Desejado Onde histórias criam vida. Descubra agora