A flor da desgraça

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Catarina tinha aprendido mais lições de como governar com seus professores do que com seus pais, o que era natural visto que passava mais tempo com eles. No entanto, no fundo de sua mente, uma memória distante de uma conversa com sua mãe veio à tona quando viu o quarto de Charles arrumado em vermelho bordô.

"Saiba que a razão e a emoção não são opostas, elas se completam. A emoção é o gatilho para agir e a razão é a condutora do pensar."

Enquanto esperava sentada com Doug e seu irmão por Nathaniel, ela apenas repetia em sua mente as palavras da mãe. Ela estava tomada pela emoção, era óbvio, a raiva e a revolta se condensavam com o medo e pareciam acelerar sua mente ao ponto de não conseguir ficar parada. Mas a razão e a paciência estavam mantendo ela sentada naquela cadeira.

Catarina tinha experiência o suficiente para saber que, se deixasse seus sentimentos aflorarem, iria morrer. A maior parte de sua vida fora regada de decisões estúpidas e extremamente burras que, olhando para o passado, eram inadmissíveis para uma princesa. Seu lado Catarina prejudicava seu lado princesa. E por muito tempo, ela tentou dar voz a cada um desses seus lados. Como se fossem duas pessoas vivendo no mesmo corpo, e quando estava na Escócia, começou a entender que tinha que conciliar os dois lados. Mas ali, de frente aquela situação, ela realmente entendeu como faria aquilo.

Ela sentiria como Catarina, mas agiria como princesa.
Não poderia mais queimar como o fogo e não conseguia ser límpida como a água. Ao invés disso, ela seria fria e queimaria como o gelo.

Ethan andava de um lado para o outro na sala, ansioso pela vinda do pai. Serena estava sentada no colo de Doug, conversando com ele, mas Catarina não ouvia a conversa, estava concentrada em respirar e encarar as memórias daquela manhã ainda frescas na memória.

Os corpos, o sangue, a lama, o vermelho, a flor na parede e no ferro que Doug encontrara, o ataque a ela e o desaparecimento de Charles.
Tudo se reunia em uma espiral que girava em sua mente e se juntavam aos poucos.

A porta se abriu e Nathaniel entrou na sala, agora devidamente vestido como rei e com a postura séria, intacta.
Naquela arte que Catarina estava começando a entender, seu pai já dominava há muito tempo.

Ethan foi até ele de uma vez, perguntando sobre Charles e o que estava acontecendo. Serena também foi e Doug se levantou, aguardando por uma resposta. Já Catarina permaneceu imóvel, esperando pacientemente sentada com seu cérebro trabalhando.

– Fiquem calmos e me escutem. – Nathaniel não precisou fazer sequer um gesto, apenas suas palavras foram o suficiente para calá-los – Nos corpos dos homens que atacaram Catarina, foram encontrados marcas de não-me-esqueças queimadas a ferro quente na pele, e graças a investigações de Doug, foi encontrado um dos ferros que foi usado para isso.

Doug e Catarina trocaram um olhar rápido. Então aquele objeto que Doug tinha encontrado era usado para marcar as pessoas que faziam parte desse movimento.

– Os homens que atacaram a irmã de vcs eram funcionários do palácio, tentamos conduzir uma interrogatório, mas um deles morreu graças ao tiro do príncipe da Defânia e o outro foi envenenado enquanto era tratado do tiro por um dos médicos do palácio.

– Situação parecida com a dos soldados mortos que encontrei. – Doug completou – Tudo indica suicídio, mas alguém passou por lá e jogou os corpos na água. Tudo parecia recente, a pessoa não teve tempo para esconder os indícios de suicídio, mas deixou os corpos por perto, acredito que como forma de aviso de que estão perto.

– Ontem passei o dia conduzindo uma investigação sob o pretexto de uma inspeção de saúde de todos que servem no palácio para verificar se mais pessoas tinham aquele símbolo no corpo.

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