Catarina crescera ouvindo as histórias da Sociedade Privada Do Chá Escocês. De como lutaram com perseguidores, atravessaram florestas, enfrentaram piratas e até mesmo de quando foram sequestrados em uma mina de carvão e foram torturados durante meses.
E por mais que os conhecesse e ouvisse da própria boca de cada um deles, tudo parecia tão irreal e longe da realidade dela, que era difícil até mesmo imaginar algo parecido com aqueles cenários e situações que eles descreviam, algumas vezes com um sorriso nostálgico e outras com tristeza.
O mundo fora dos muros do palácio parecia ser assustador há vinte e três anos atrás.
E ela não esperava que, em um Barco Real, rodeado de soldados e a melhor equipe marítima, ela iria experimentar ao menos um pouco da sensação de quase morrer.
Catarina sentia que estava enlouquecendo, sequer sabia há quantas horas estava trancada dentro da própria cabine, mas sabia que a noite já havia chegado pelos gritos dos soldados.
Ela já tinha uma certa rixa com tempestades. Mas aquela era a pior de todas.
O barulho alto dos trovões, dos pingos grossos da chuva e das ondas do mar pareciam ensurdece-la, e isso não era sequer de longe o pior.
O movimento do barco era sua mais nova definição de tortura.
Seus baús, travesseiros e roupas já haviam caído e se espalhado. As lamparinas tinham se quebrado e o mais puro breu era sua única visão. Os únicos momentos que enxergava minimamente era quando os clarões invadiam o céu e passavam pela fresta de sua porta, anunciando o próximo trovão ensurdecedor que a faria tremer mais do que já estava tremendo.
Catarina estava sozinha, sentada com as pernas encolhidas no quarto escuro, sentindo o chão balançar, pendendo de um lado para o outro, como um ninar infernal.
Ela já não se importava em chorar alto, os soldados do lado de fora estavam ocupados demais tentando impedir que a água invadisse seu quarto. Contudo, ela não sentia que sairia viva dali.
Ao som de mais um trovão que a assustou a ponto de fazê-la gritar, Catarina pensou nas pessoas que deixaria para trás. Seu pai ficaria desolado e sua mãe se culparia.
Nunca mais veria seus irmãos, sua prima, Eleonor, seus amigos e os nobres da Sociedade Privada ao qual tinha um carinho especial a ponto de pensar neles como seus próprios tios.
Ela morreria sozinha, afundando em um barco no meio do mar.
Catarina pensou em se levantar e ao menos encontrar os tios e Doug para não sucumbir daquela forma tão solitária, mas ela não conseguia se levantar. Seu coração batia forte, parecia até pulsar em seus ouvidos, que zumbiam a cada final de um trovão, suas mãos e pernas estavam tensos, com os músculos retraídos e paralisados.
Ela estava em pânico.
Um estado de pânico entorpecente, mergulhada na mais pura aflição da incerteza do que viria enquanto seu corpo era balançado de um lado para o outro pelo barco.
O gosto salgado de suas lágrimas era a única coisa que a mantinha consciente. Mas até mesmo isso estava acabando, seu corpo não aguentava mais chorar. Os espasmos e os soluços estavam mais presentes do que nunca, a deixando cansada, e ao julgar pelas lágrimas diminuindo, desidratada também.
O mundo não estava apenas girando. Ele estava balançando na escuridão.
Os gritos que vinham do convés completavam aquela tortura. Mas, de repente, eles aumentaram e pareciam cada vez mais perto.
Ela tentou controlar sua respiração e os soluços de seu choro para escutar o que estava acontecendo.
O som da tempestade dificultava o entendimento das palavras, mas em meio a elas, Catarina decifrou a voz do Marquês.
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O Marquês Desejado
RomanceQuando sentiu a primeira gota cair sobre si, Catarina soube que viria uma tempestade, o que ela não esperava, era que mesmo depois de quatro anos, ela ainda se lembraria do marquês que viera com ela e como seria difícil viver um romance secreto send...