O homem fragmentado

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A sensação colante do suor frio e a impotência pareciam deixar tudo ainda pior.
Doug estava diante do inferno.

A escuridão banhava quase tudo ao redor, mas ali, bem em frente aos seus olhos paralisados, ele via demônios.

Homens transfigurados com chifres e armas cumpridas estavam ao seus redor, carregando-o com seus pés anormalmente grandes e mãos ossudas. Ele conseguia sentí-las machucando suas costas e o levando. De repente, cortinas de fumaça caíram sobre eles, fazendo os perseguidores desaparecerem. Mas Doug não conseguia respirar, estava sufocando, como se seus pulmões estivessem se contorcendo e secando lentamente como uma planta ao Som escaldante.

Um clarão enorme explodiu e com ele, cabeças rolaram decepadas por todos os lados.

Em sua visão, havia apenas terra, fogo e morte.

Ele tentou gritar, tentou com todas as forças, mas de sua boca saíam apenas baixos gemidos e arquejos. Doug queria correr, contudo, era como se todo o seu corpo não tivesse forças e estivesse em um estado de dormência enlouquecedora.

Ele conseguia sentir o calor do fogo queimando sua pele e o cheiro de sangue revirar seus estômago.

Ao seu lado, um demônio grande surgiu da terra. Ele mal tinha forma definida, era apenas cumprido e seu corpo inteiro era como um pedaço de carvão queimando. Com os pés paralisados, Doug não conseguia tirar os olhos dele, como se esperasse por algo inevitável. E então, como se desse sua sentença, o demônio levantou a mão cumprida, acertando e arranhando seu rosto.

Uma dor dilacerante o preencheu, como uma maldição cruel que roubava sua visão a cada segundo. O demônio riu tão alto que Doug sentiu o ouvido zumbir e então, ele desapareceu. E sua visão começou a ficar cada vez mais embaçada.

O clarão foi diminuindo, juntamente com o som dos gritos e do fogo queimando os corpos que sobraram. Tudo foi ficando cada vez mais escuro e mais silencioso até o ponto dele se sentir no meio do mais solitário vazio.

Não via nada, não escutava nada, não sentia nada.

E por um instante, ele pensou que tinha morrido.

E isso o assustou a ponto dele querer gritar para sentir ao menos um pouco de vida. Ele detestava a sensação infernal de reviver tudo aquilo, mas se decepcionou com a sensação de não existir também.

Doug….
Doug….
Doug!...

Alguém estava o chamando.
Gritando por ele com uma urgência enraizada, brutal e verdadeira.

O desespero quase encobriu o aveludado natural da voz. Uma mulher estava gritando seu nome com a sua alma, como se fosse uma súplica e uma ordem ao mesmo tempo.

Aquela voz estava o levando de volta à realidade.

O escuro já não parecia tão escuro.

O silêncio tinha sido quebrado e naquele momento, como uma resposta natural de seu corpo àquela voz, seu coração reagiu. Mas dessa vez, não de forma acelerada, pelo contrário, foi como se tudo se desacelerasse e voltasse ao eixo.

Ele sentia mãos macias em seu corpo, uma em seu peito e a outra em seu rosto, aliviando um pouco da dor quase insuportável em sua cicatriz que ainda parecia em chamas. Tudo pareceu se iluminar de repente, agora ele via a luz da lamparina e, junto a ela, duas esferas azuis grandes e dilatadas, brilhando pelas lágrimas, uma pele escura que reluzia sob a luz da lamparina e ondas de um longo cabelo preto que cobria todo o seu peitoral e abdômen.

Talvez ele realmente tivesse morrido enquanto dormia e um anjo estivesse dando as boas vindas ao céu pessoalmente. Como se tivesse sofrido ao vê-lo e se compadecido.

O Marquês Desejado Onde histórias criam vida. Descubra agora