O desmoronar da beladona

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"Seu irmão, príncipe Charles, foi envenenado"

Depois daquilo, tudo pareceu acontecer tão rapidamente que Catarina não soube em que momento ela saiu correndo pelos corredores do palácio, nem quando seu pai a segurou para que não entrasse no quarto de Charles enquanto ele gritava e implorava aos médicos.

Cada minuto parecia uma tortura.

Todos os gritos de Charles pareciam rasgar um pedaço de Catarina. A única coisa que a mantinha de pé eram os braços de Nathaniel, a abraçando de forma firme.

As criadas entravam e saíam do quarto, os guardas estavam espalhados pelo palácio, procurando pelo culpado e Doug tinha sumido.

Catarina sempre ouviu Alam e Adam falando sobre a conexão de gêmeos. E ela sentiu isso na infância. Charles e ela eram inseparáveis.
Era como se ele fosse uma parte dela.

Uma parte que, por mais que o tempo tenha os afastado, nunca acabou com o laço de amor fraterno e a conexão. E por isso, quando os gritos cessaram de uma vez, ela sentiu como se seu coração fosse rasgado como uma folha de papel.
Como se pudesse até mesmo ouvir o som dele se partindo.

Suas pernas falharam.

Ela caiu com Nathaniel que também perdeu completamente a força no corpo.

Nenhum dos dois falou nada. Catarina apenas sentiu seus pulmões reclamarem por ar e ela se permitiu respirar, profunda e silenciosamente.

A porta se abriu e um dos médicos saiu do quarto. Catarina viu seu pai se levantar e falar com ele, mas ela não conseguia sequer ouvir os detalhes.

Tudo parecia girar.

- ..ele desmaiou, Majestade. Ainda não sabemos o veneno, mas estamos fazendo o possível para que ele não se espalhe mais pelo corpo. Já começamos a sangria e também mandei que buscassem sanguessugas para....

Aquelas foram as únicas palavras que Catarina escutou do médico. A porta quase fechada a impedia de ver o irmão por completo, mas uma pequena fresta lhe deu a visão de sua mão caída ao lado da cama, e ela viu o sangue escorrendo durante a sangria.

Tudo começou a girar e apenas não caiu ali mesmo porque o pai se virou para ela, e a guiando pela cintura, a levou para longe.

Catarina não viu os corredores, ou portas que se abriam à sua frente. Seus olhos estavam perdidos, presos em lembranças de um passado distante onde seu irmão gêmeo era sua companhia diária.

Quando exatamente eles pararam de se ver ou conversar todos os dias? Talvez quando suas aulas e as dele começaram a colidir os horários, quando Ethan nasceu e de repente ele não era o único menino e tinha alguém que se identificava melhor, ou quando...

Não adiantava pensar.
Era uma mistura de tudo aquilo e muito mais.

De repente, eles eram adultos e tudo acontecia rápido demais.

Seu pai estava dizendo alguma coisa, algo sobre ele já estar doente há um tempo e que o envenenamento poderia agir mais rápido graças a isso. Mas sua cabeça rodava demais para ela absorver as informações.

Os gritos dele ecoavam em sua mente e o sangue escorrendo pelo seu braço pareciam se repetir em frente aos seus olhos sem parar.

Tudo o que ela tinha conseguido entender era que seu irmão podia morrer ou não a qualquer momento.

Então era aquilo que Doug e os outros membros da Sociedade Privada sentiram no passado? A sensação de medo e o terror excruciante de perder alguém a qualquer momento?

O Marquês Desejado Onde histórias criam vida. Descubra agora