Catarina nunca imaginou ver algum benefício em sua insônia, mas ao julgar pela quantidade de vezes em que saíra durante a madrugada nos últimos dias, sentia-se grata por não sentir tanto sono em suas fugas.
A princesa saiu de uma fresta na parede, indo parar exatamente em sua sala de piano sem ser vista por ninguém, assim como Serena havia lhe dito.
- Eu também entrei por essa passagem. Serena é genial. - Declarou o Marquês e se virou para ela.
- Eu queria saber como ela as descobriu... - Suspirou ao dar um último olhar para a parede.
Doug mal escutou o que Catarina disse. Naquele momento, ele começou a se arrepender de ter marcado o encontro com ela. Ainda vestida como uma bela e exuberante rosa, Catarina estava mais linda do que nunca e, apesar de tê-la chamado, não tinha certeza se conseguiria dizer o que precisava.
Eles estavam completamente sozinhos. Em uma sala de música revestida para que ninguém escutasse som algum do lado de fora.
Catarina se aproximou lentamente sob as luzes amarelas dos lustres, e Doug não pôde evitar dar alguns passos para trás.
- Eu não vou fazer nada a você, Marquês. - Ergueu uma sobrancelha, confusa com a atitude dele.
Se ela continuasse se aproximando, ele que iria fazer. Era melhor voltarem a discutir e a se provocar, ao menos nesses momentos, ele não precisava ser sincero.
- Princesa, apesar dos insultos, das provocações, das brincadeiras e das ofensas, eu a respeito muito.
Catarina piscou desacreditada.
- Eu imagino como seria caso não respeitasse. - Cruzou os braços - Você vai jogar o presente dessa distância? - Disse e encarou os quatro metros que os separava.
- Não seja ridícula. - Tirou uma caixa fina de dentro do casaco - Eu deixarei o presente no chão, correr e você vem pegá-lo.
- Você é um imbecil.
Doug riu e se aproximou dela, a cada passo que dava, mais nítido ele conseguia enxergá-la. Não apenas sua aparência, mas se lembrava de cada característica dela que o fizera se apaixonar. O jeito irritado que ela o olhava, que formava pequenas rugas em sua testa e fazia o azul de seus olhos se estreitarem, a boca que tinha um arco bem definido ao qual ele comparava com um coração, a personalidade sincera que, mesmo que suas palavras não fossem, os gestos sempre a entregavam. O modo como ela está sempre a frente, com uma liderança natural, fazendo-a tomar decisões rápidas que, mesmo quando não estão certas, foram pensadas para visarem um objetivo maior.
Ele poderia pensar em mil características dela, desde os defeitos até as qualidades. Mas não saberia dizer porque toda aquela bagunça de intensidade o atraia tanto.
Gostava de Catarina porque era Catarina afinal.
Porque sempre foi ela.
E ninguém mais.
Quando percebeu, estava de frente para ela, inebriado com o cheiro de jasmim. Catarina também estava o olhando fixamente, perdida em seus pensamentos. De repente, ela levantou a mão, tocando seu rosto com tanta delicadeza que era como ser acariciado por uma pétala de flor. Ela subiu os dedos de forma mais hesitante, tocando sua cicatriz no olho.
- Eu vi você esbarrando em alguns móveis hoje no baile... Sua visão... está piorando?
O tom que Catarina usara fora tão atípico e receoso que Doug ficou surpreso.
Há quatro anos atrás, na cabana...
Ele se lembrava tão vividamente desse dia que sonhava com ele.
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O Marquês Desejado
RomanceQuando sentiu a primeira gota cair sobre si, Catarina soube que viria uma tempestade, o que ela não esperava, era que mesmo depois de quatro anos, ela ainda se lembraria do marquês que viera com ela e como seria difícil viver um romance secreto send...