Capítulo 39

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Foi uma noite difícil. A voz da minha mãe não parava de ecoar pela minha cabeça. Sempre que eu estava prestes a pegar no sono, minha mente repetia tudo o que ela disse sobre Daniel.

Eu sei que todas aquelas palavras foram ditas em vão, e que eram apenas para me fazer terminar com ele e, na cabeça dela, sofrer menos quando ir embora. Mas, apesar de saber disso, tudo está fazendo sentido, e eu não gosto.

"Talvez você tenha se entregado, mas ele não". Essa frase soava como um disco arranhado. Ela conseguiu, entrou na minha cabeça.

Sem fome e sem sono, estou sentada, olhando para o relógio enquanto espero a hora de ir para a escola. Parecia que o ponteiro queria me torturar, passando mais devagar do que deveria. Minha perna já doía de tanto que eu a balançava.

— Que se dane — pensei em voz alta.

Me levantei e decidi ir mais cedo. Usaria minha bicicleta depois de tanto tempo.

Ao abrir a porta, me deparo com Daniel, que tinha seu punho levantado na altura da minha testa. Ele arregalou os olhos, me analisando por um momento antes de abaixar o braço.

— Emma, oi — disse ele. — Estava de saída?

Cocei a nuca.

— Eu... estava inquieta.

— Não pretendia ir sem mim, pretendia?

Desviei o olhar, sem responder sua pergunta. Dei um passo à frente e fechei a porta atrás de mim. Nós caminhamos até os fundos para ir de carro, já que eu não tinha mais razão para ir sem ele. Podia sentir seus olhos se atentarem a cada movimento meu, como se quisesse desvendar o que eu pensava ou sentia.

É óbvio, eu estou chateada, e muito. Às vezes, ou melhor, a maior parte do tempo, parece que ele não faria metade do que eu faria por ele. Sinto que está até mesmo conformado de que daqui alguns meses, eu não farei mais parte da sua vida.

Entramos no carro e ficamos em silêncio. Suas mãos apertavam fortemente o volante, sua respiração se mostra descompassada, e seus olhos ameaçam pousar em mim, mas algo o impede.

— Desembucha — disse eu.

— O quê?

— Há algo te incomodando?

— Não... e você? — Colocou expectativa em minha resposta.

Sim, Daniel Larusso. Me incomoda o fato de que você aceitou muito bem toda a situação.

— Não — respondi.

Observando minha expressão, ele pensou bem antes de dizer qualquer coisa. Eu não queria tocar no assunto, muito menos ouvir algo como "desculpe", e acho que ele percebeu isso. Girou a chave do carro e, pronto para sair, ele desligou novamente para me olhar.

— Quer matar aula hoje? — sugeriu. — Podemos ir a qualquer outro lugar e fazer qualquer outra coisa.

— Tenho muitas faltas.

— Eu sei, mas... — Liguei o rádio e aumentei o volume, fazendo ele parar de falar.

Entendendo o recado, ele novamente deu a partida, sem interrupções dessa vez.

Espero que a escola ocupe minha cabeça. Do contrário, minha mãe o fará.

[...]

Os últimos dias foram um tanto quanto melancólicos. Como a notícia é recente, recebi toneladas de perguntas dos meus amigos e outras pessoas próximas. Perdi a conta de quantas vezes Mary e eu prometíamos não chorar, e então chorávamos em seguida.

You're still the one - Daniel LarussoOnde histórias criam vida. Descubra agora